Review de “A Thousand Suns” pela MTV

James Montgomery, da MTV.com, fez uma resenha do álbum “A Tousand Suns”, comparando com “Kid A” do Radiohead, confira abaixo:

Segundo a lenda, em agosto de 2000, um grupo de executivos claramente aterrorizados, da Capitol Records, estavam com fones de ouvido, andando em várias vans sem marca e dirigindo em direção ao Pacific Coast Highway, onde ouviram o Kid A, do Radiohead, pela primeira vez. Foi uma inspiração – para não mencionar particularmente – a estreia do álbum, e apesar de tudo isso ser meio falso, certamente fizeram boas cópias de álbuns nessa época.

Eu só mencionei isso porque, em agosto de 2010, bem descontraído, um publicitário da Warner Bros se sentou em seu escritório e permitiu-me ser um dos primeiros a ouvir o A Thousand Suns, do Linkin Park. Não usaram-se fones de ouvido ou vans sem marcas ou algo assim – cortes orçamentais, acho que o único motivo – apenas um café gelado e um bloco de notas, com um pouco de vergonha, porque se alguma vez você ouvir um álbum que merece um tratamento como o do Radiohead, é uma honra. Assim que você provavelmente irá ouvir nas próximas semanas, o A Thousand Suns é definitivamente o ‘Kid A’ do Linkin Park.

Bem, talvez não tecnicamente, mas, pelo menos, espiritualmente. Como o Kid A, o ATS é um álbum de grande ambição e de igualmente grande alcance, um esforço sem medo que leva a banda a lugares que nunca foram: lugares escuros e destruídos, altos e (em algumas partes) à lugares mais pesados também. Como o Kid A, que é completamente diferente dos trabalhos anteriores da banda, que quase certamente irá ser como a linha de demarcação, entre tudo que veio antes e tudo o que virá depois. E, assim como o Kid A, não é um álbum com apenas um monte de guitarras.

Em vez disso, o A Thousand Suns é cheio de elementos eletrônicos sinistros, percussão chocante e um ranger inabalável, uma irredutível tensão pós-milenar. A última novidade da banda – Minutes to Midnight, de 2007, que trata, em partes, sobre a política de George W. Bush e a tragédia do Katrina – mas aqui, eles têm o álbum inteiro mergulhado em uma espessa camada de medo. É uma transição destacada no refrão repetido de “God bless  us every one/ We’re a broken people living under loaded gun,” primeiramente ouvido no número de abertura “The Requiem” e mais tarde no primeiro single “The Catalyst.” E em momentos como o começo de “When They Come For Me,” quando grilos são gradualmente encobertos pelo som da artilharia, ou, mais notavelmente, no uso de gravações, dos discursos do cientista Robert Oppenheimer, do ativista político Mario Savio e de Martin Luther King Jr.

Cada um desses discursos são apropriadamente monolíticos – a famosa citação de Oppenheimer sobre Bhagavad Gita depois do primeiro teste da bomba atômica em 1945, o presciente “bodies upon the gears” de Savio saiu em 1964, e de 1967, lamentando os horrores da vida moderna, “cannot be reconciled with wisdom, justice and love” do King – e dizendo que todos eles vieram do milênio passado. Porque o que realmente A Thousand Suns (que leva o nome do discurso de Oppenheimer) está tentando dizer é que nenhum desses problemas, esses terrores ou esses fantasmas que nos assombram, em 2010, são particularmente novos. Muito pelo contrário, na verdade. Nós só ignoramos os avisos. E agora pode ser tarde demais. E essa é outra razão que me lembra muito Kid A.

Mas aí é que as similaridades entre os álbuns acabam. Porque ao invés de esconder seus medos em um din claustrofóbico (como Radiohead fez), o Linkin Park fez a decisão consciente para ir contra eles. Eles não estão dispostos a desistir sem uma luta, e é nesses momentos – o poderoso rugido de “Waiting for the End,” a estrondosa “Blackout” (o melhor momento de Chester Bennington no álbum) e a cheia de poder “Wretches and Kings” – que o álbum realmente se eleva. Sem falar que para todos os “moroses” mecanizados, também há alguns momentos mais altos. O mais notável deles é “Iridescent”, que começa com piano, e depois vai para as guitarras (elas existem no álbum) e explode num refrão agitado de “Remember all the sadness and frustration/ And let go.”

Isso tudo termina no violão, “The Messenger”, que apresenta Bennington com força total e culmina nos versos: “When life leaves us blind / Loves keeps us kind”. E talvez essa seja a verdadeira mensagem do álbum, que não importa o quão longe as coisas podem ir, a humanidade ainda pode ser salva. O que nos separa da máquina é a nossa capacidade de amar, e apesar de todas as evidências contra, ainda vale acreditar em certas coisas. Tudo isso pode parecer maluco, mas o Linkin Park parece insano o suficiente para comprar isso. E eles querem você faça o mesmo. Depois de tudo, nesse ponto, é sobre tudo que deixamos.

Então enquanto A Thousand Suns pode parecer obscuro, imenso, dissonante, ambicioso e uma “virada brusca no jogo”, ele é otimista.