Entrevista exclusiva do Linkin Park para Veja!

Em 2004, quando o Linkin Park veio ao Brasil, levou 80 mil pessoas ao estádio do Morumbi, em São Paulo. Não é exatamente num viés de baixa que a banda retorna ao país para se apresentar no festival SWU, mas o auge que viveu no começo da década passada arrefeceu.

Ainda assim, há marcas memoráveis na carreira do grupo formado em 1996 na Califórnia. Mais de 50 milhões de discos vendidos e um punhado de hits como Numb, In The End, Bleed It Out e Faint, puseram o Linkin Park numa posição privilegiada dentro do que se convencionou chamar nu metal, a mistura de rap com rock pesado que começou a fazer sucesso em meados dos anos 1990 e teve outros expoentes como Korn e Limp Bizkit.

O ápice criativo da banda, no entanto, foi realçado por um elemento de fora: Jay-Z. Collision Course, disco lançado em 2004 casa com maestria o peso dos vocais e guitarras da bandas com as batidas e os versos do rapper.

Liderado por Mike Shinoda (vocal, guitarra e piano) e Chester Bennington (vocal), o grupo lançou entre 2000 e 2006 os discos Hybrid Theory, Meteora e Minutes to Midnight, envolveu-se com drogas pesadas, habitou o limbo do showbusiness desde então e oferece, com A Thousand Suns, lançado em dezembro de 2009, a descontrução de boa parte das referências sonoras que o tornaram conhecido. Um disco sombrio e detalhista que demorou três anos para ser concluído, é o novo apelo que o Linkin Park faz aos seus milhões de fãs ao redor do mundo. Uma parte deles estará em Itu neste fim de semana.

Bennington conversou com o site de VEJA sobre o processo de gravação do último disco, como é tocar para variados públicos ao longo da carreira e o que lembra de sua última passagem pelo Brasil. Confira abaixo.

Vocês passaram três anos gravando A Thousand Suns, como foi o processo?
Começamos a produzir A Thousand Suns de maneira diferente do que fazíamos no passado: ele foi escrito principalmente na estrada, durante a nossa última turnê. Queríamos criar algo completamente novo, e para isso levamos mais tempo para descobrir o que estávamos procurando e em qual direção iríamos. Agora posso afirmar com certeza que esse é o nosso álbum mais maduro. Ontem mesmo eu dirigi de Los Angeles até Phoenix, Arizona, e ouvi todos os nossos CDs, desde Hybrid Theory, o primeiro, até A Thousand Suns, e pessoalmente acredito que eles ficaram melhores. Eu posso ver o crescimento da banda a cada novo álbum, e este é mais sofisticado e desafiador.

Vocês vieram ao Brasil em 2004 e se apresentaram para um público de cerca 80.000 pessoas. Desta vez será diferente. A banda está em menor evidencia e dividirá a escalação com outros grupos.
Sinceramente eu não presto muita atenção em quantas pessoas estão no show, mas fiquei surpreso no Brasil. Foi uma loucura! Além disso, nunca tínhamos estado no país e nem tínhamos muitas músicas para apresentar para o público [risos]. Hoje é diferente, temos um set sólido, as músicas são ótimas e estamos conscientes do que queremos mostrar para os nossos fãs. De qualquer forma, não importa para quantas pessoas tocamos, se são 10.000 ou 100.000, nós sempre damos o melhor de nós.

Mike Shinoda disse numa entrevista que “o som do novo CD se aproxima mais a Jackson Pollock do que a Andy Warhol”. Você imagina o que ele quis dizer com isso?
[Risos] Acho que somos mais como Jackson Pollock, com certeza, mas são necessárias algumas referências da arte para entender essa frase. Diz respeito ao modo cerebral como foi composto o nosso novo disco. Ele é abstrato e conceitual, não é simplesmente uma história que queremos contar. Ele é pensado, calculado, levando em conta o que queríamos que as músicas transmitissem, a fluidez entre as faixas e como o álbum soa como um todo. Voltando aos quadros, ele se aproxima mais da arte abstrata de Pollock do que da arte pop de Andy Wahrol, entende? Acho que foi isso que ele quis dizer com essa afirmação [risos]. Durante as entrevistas, sempre que Mike dá essa explicação eu rio…

Vocês venderam mais de 50 milhões de discos ao redor do mundo. Como é duelar cada vez mais com o download gratuito e o compartilhamento de músicas?
Me perguntam isso desde o nosso primeiro lançamento[risos]! Eu tenho consciência que mais pessoas fazem download do que compram nossos discos, mas esta é uma decisão pessoal. Eu, por exemplo, nunca fiz download ilegal de músicas, e acho complicado pensar nisso como uma prática fora da lei, já que, sim, todos fazem download. Eu entendo que seja uma maneira de conseguir música, mas a banda passou anos trabalhando duro no CD, enlouquecendo, pensando em cada detalhe, e no fim as músicas se transformam num “hambúrger com fritas”, como se fossem um produto de fast food, e isso me incomoda um pouco. Mas se esse é o jeito que as pessoas vão ouvir as nossas músicas, ótimo. Eu prefiro que elas ouçam do que não ouçam. E nós ainda vamos tocar em shows, entrar em contato com os nossos fãs. A gravadora que gasta muito tempo e dinheiro nas gravações com certeza fica bem mais brava do que nós [risos].

Quais são as suas lembranças do Brasil?
Com certeza o show, que foi demais. Um público recorde, acho que até hoje ainda não batemos essa marca, e isso foi especial. Me lembro também da banda Charlie Brown Jr. que abriu para nós. Quando tocamos eu estava de ressaca, e isso foi bem ruim também [risos], espero que dessa vez isso não se repita.

Fotógrafo e Produtor de Vídeo