Entrevista com Mike no Herald Sun

Mike Shinoda foi entrevistado pelo jornal australiano Herald Sun. Confira a matéria original aqui.

O relógio do Linkin Park está correndo
É seguro dizer que o Linkin Park gosta de fazer seus fãs adivinharem.

Depois do sucesso monumental de seus álbuns com influência de nu-metal Hybrid Theory (2000) e Meteora (2003), que venderam cerca de 40 milhões de cópias, a banda jogou a fórmula pela janela em favor de um som voltado para o rock clássico e o hip-hop em Minutes to Midnight (2007).

Mas essa reinvenção não foi nada comparada ao salto radical que o sexteto deu em A Thousand Suns, lançado semana passada.

A mistura ameaçadora, fria e de viés político que une rock, hip-hop, acústico, eletrônico e sons industriais deixará alguns dos muitos fãs da banda extasiados – e uma mesma quantidade deles coçando a cabeça.

O primeiro single do álbum, The Catalyst, um híbrido de seis minutos de batidas techno e rock de fechar os punhos é um bom exemplo.

“Quando estamos no estúdio, sempre queremos fazer algo que seja novo e interessante para nós,” diz sem medo o rapper e guitarrista Mike Shinoda sobre as mudanças da paleta musical da banda.

“Essa tem sido a nossa ideia desde o começo.

“Com esse álbum, eu acho que realmente nos esforçamos para fazer um som novo – para fazer um álbum que tivesse uma linha muito consistente e vários conceitos dentro dele. Espero que, quando você o ouça, tenha uma noção dos conceitos, mas que seja forçado a tomar suas próprias decisões sobre quais são eles e o que você achou deles.”

Minutes to Midnight era uma referência ao Relógio do Apocalipse – contagem regressiva para uma aniquilação nuclear – e o titulo do novo álbum, tirado de uma frase inspirada em inscritos hindus dita pelo pai da bomba atômica, Robert Oppenheimer, sugere que o Apocalipse já está conosco.

Mas apesar da noção impregnada de ameaça e destruição iminente em A Thousand Suns, Shinoda insiste que não é apenas sobre uma ameaça nuclear, e sim sobre várias coisas “assustadoras” que a banda observou durante os dois anos em que desenvolveu o disco.

“Ouvimos notícias que não são só sobre esse tópico, mas todos os tipos de coisas diferentes que acontecem no mundo e ameaçam a existência humana em toda parte e esses medos e preocupações tiveram lugar nas letras,” diz Shinoda.

“Espero que as pessoas não o escutem e achem que estamos tentando pregar.

“Do meu ponto de vista como compositor, não ouço as letras de nossas músicas como um veículo de dizer a alguém o que pensar, é mais uma forma de expressar nossas frustrações e medos e pensamentos.

“Quando as pessoas ouvirem o álbum, quero que elas sintam que tem suas próprias perguntas ou interpretações e não sintam que eu as disse o que fazer ou como pensar.”

Em acréscimo à frase agourenta de Oppenheimer que abre o álbum, a banda espalhou discursos famosos de ativistas dos direitos civis Mario Savio e Martin Luther King Jr pelas músicas, encontrados nas explorações frequentes que Shinoda faz pelo YouTube.

O discurso de fúria contra a máquina de 1964 de Savio, que diz em parte, “há um momento em que operar a máquina se torna tão odioso – te deixa tão farto – que não se pode mais fazer parte e você precisa por seu corpo nas engrenagens e rodas, nas alavancas, no mecanismo, e precisa fazê-lo parar”, deixou Shinoda particularmente impressionado.

“Eu nunca tinha ouvido esse discurso e era muito poderoso,” ele diz.

“Sua voz e sua paixão são inegáveis, então queríamos apenas jogar isso na música e ver o que acontecia.

“O incrível dessas falas é que elas dizem algo que sentimos que realmente não há uma forma melhor de dizer.

“Esses são momentos que eu acho que são tão relevantes hoje quanto eram quando aconteceram, mesmo que hoje possam repercutir de outra maneira.”

Shinoda acredita que o Linkin Park poderá fazer justiça às complexidades de A Thousand Suns quando começar a turnê mundial que o trará para a Austrália em dezembro e garante aos fãs de longa data que a banda não abandonou seu material antigo.

“Com o tempo, nossa atitude e equipamentos para as performances ao vivo são sempre adaptados para ficarem de acordo com as ideias do estúdio,” ele diz.

“Fazemos sobreposições de partes, tocamos diversos instrumentos e ao fim do dia apenas queremos gravar uma boa música, então quando é hora de traduzir isso para o ‘ao vivo’, às vezes é um desafio. Mas há tantos equipamentos ótimos por aí que permitem que demos vida a isso no palco que nunca foi um problema.”