Linkin Park – Um Dia na Vida

Confira a tradução da entrevista de Mike Shinoda para o Noisecreep.

Linkin Park – Um Dia na Vida

Os últimos dias tem sido longos para os vocalistas do Linkin Park Chester Bennington e Mike Shinoda. A banda voou de Los Angeles para Nova York para um round frenético de divulgação impressa, no rádio, Internet e TV, fez um show em um clube particular para a Best Buy e participou do “Meet and Greet” depois. Agora eles estão se preparando para voar de volta pra casa, onde Shinoda vai para o aniversário de um amigo e Bennington vai passar um tempo com a esposa e filhos antes de o Linkin Park começar os ensaios para a próxima turnê, que começa no dia 20 de outubro em Berlim, Alemanha.

Tendo acabado de sair de uma série de entrevistas na rádio Sirius XM, Bennington e Shinoda estão sentados nos bancos de trás de dois carros pretos para uma viagem de 20 minutos de volta ao hotel. Nesse passeio, o Noisecreep teve o privilégio de se sentar com Shinoda, com o gravador em mãos, e disparar uma última lista de perguntas sobre o novo álbum do Linkin Park, ‘A Thousand Suns’.

Normalmente esses passeios são monótonos e chatos, mas Shinoda estava determinado a garantir que nossos leitores entendessem cada ângulo de ‘A Thousand Suns’, então ele respondeu atenciosamente a todas as perguntas que fizemos a ele. Só há um problema. Um dia inteiro de divulgação o deixou meio hiperativo, e quando isso se junta ao café forte que ele bebeu na estação de rádio, ele ficou meio eufórico.

“Não bebo Starbucks há alguns meses, então estou meio desorientado’, ele se desculpa, puxando a maçaneta do carro e entrando. Mesmo já tendo feito uma entrevista preliminar com Shinoda, ele ficou feliz de termos perguntas mais específicas sobre ‘A Thousand Suns’ em vez de questionamentos bobos, baseados em sua personalidade.

“Às vezes você encontra pessoas que são muito ligadas nessas coisas superficiais que na verdade não significam nada”, ele disse. “O entrevistado poderia até ser trocado. Você faria as mesma perguntas para qualquer pessoa e elas teriam exatamente a mesma importância. Então eu prefiro falar sobre música e o que nós realmente fazemos e sobre as coisas que eu gosto de verdade, em vez de moda.”

O Linkin Park começou a escrever ‘A Thousand Suns’ dois anos atrás, quando eles estavam em turnê com ‘Minutes to Midnight’. Eles continuaram a trabalhar no álbum assim que terminaram os shows. Gravaram demos em Berlim, em Praga e em Nova York e analisaram as músicas com o produtor Rick Rubin. Algumas músicas passaram por muitas revisões entre as demos iniciais e a gravação final, outras ficaram praticamente intactas.

“‘The Catalyst’ não mudou muito”, disse Shinoda. “A primeira demo tinha guitarras um pouco mais pesadas e nós não gostamos. Gostamos da música, mas assim que tiramos essa parte e acrescentamos um som de órgão com eco, pensamos, ‘O que é isso?’ Houve pelo menos um momento assim em cada música, de onde saía de, ‘OK, isso é legal’ para uma hora em que todo mundo realmente gostava da ideia.”

Sabendo que pelo menos alguns dos membros do Linkin Park começaram como fãs de metal, não pudemos deixar de imaginar que eles tem a cabeça no Iron Maiden. Afinal, o último álbum ‘Minutes to Midnight’ é quase a mesma coisa que o hit do Maiden ‘Two Minutes to Midnight’, e o título ‘A Thousand Suns’ é similar ao ‘Brighter Than a Thousand Suns’ do Iron. Shinoda riu, depois se desviou da pergunta.

“A ligação que eu acho muito engraçada é a ligação da ideia da raça humana se auto-destruindo”, ele disse. “A intenção não era que ‘Minutes to Midnight’ e ‘A Thousand Suns’ fizessem referência a mesma coisa, com ‘Minutes to Midnight’ sendo momentos antes e ‘A Thousand Suns’ sendo momentos depois. Eu acho que foi isso que percebemos depois e quando notamos, entendemos que ‘OK, sempre esteve no subconsciente.’ E não somos só nós, são várias pessoas. A ideia da habilidade da raça humana se auto-destruir é um medo que existe em algum nível em todo mundo, e com razão. Temos a capacidade de nos destruir completamente e tudo o que há no planeta. E você sabe que essas coisas existem e fora do seu controle. Então é uma coisa séria.”

O fato de os dois últimos álbuns do Linkin Park serem nomeados por grandes ameaças globais revela uma verdade fundamental. A banda não está mais falando de angústia interna por relacionamentos que não funcionam com tanta frequência. Agora eles estão lidando com temas mais universais.

“Eu acho que é verdade para nós que o conteúdo das letras do nosso primeiro álbum era mais focado no que estava acontecendo internamente”, disse Shinoda. “Conforme envelhecemos, as coisas externas acharam um caminho para as letras. No último álbum há as referências mais óbvias a isso, em músicas como ‘Hands Held High’ e ‘No More Sorrow’, que realmente eram sobre coisas que víamos nas notícias e nos davam uma sensação de impotência. Só espero que as pessoas não ouçam as músicas e achem que estamos pregando algo. Realmente não gosto dessa ideia de bandas dizendo como viver a sua vida. Mais do que tudo, quando estamos escrevendo músicas, não estamos tentando imitar nada. Não estamos querendo pregar, só tentamos expressar o que passa nas nossas cabeças e nos expressar criativamente. Meio que começa e termina assim.”

O Linkin Park também entrou no campo da política. A instituição de caridade da banda, Music for Relief, busca ajudar vítimas de desastres naturais e alertar sobre o aquecimento global. E antes de lançar ‘A Thousand Suns’, a banda contribuiu com a faixa ‘Not Alone’ para o álbum ‘Download to Donate to Haiti’, para a arrecadação depois do terremoto no Haiti.

“Na verdade tínhamos feito uma demo dessa música para ‘Minutes to Midnight’ e decidimos que não era tão comovente quando ‘Leave Out All The Rest'”, explicou Shinoda. “‘Leave Out All The Rest’ tinha uma letra melhor na época, mas era muito parecida. E decidimos que não queríamos duas músicas assim no álbum. E então quando apareceu a oportunidade de redirecioná-la e incluí-la no álbum em benefício do Haiti, arrumamos a letra pensando no Haiti e isso realmente criou um clima mais comovente. Estávamos muito tocados pelo que víamos na TV e tentamos escrever sobre aquilo. Tínhamos uma ideia. Víamos tudo e queríamos dizer algo para aquelas pessoas, então terminamos colocando isso na música. E essa letra acabou sendo 10 vezes melhor que a música.”

Quando o carro de Shinoda chegou ao hotel, disparamos mais uma pergunta, esprando ouvir alguma resposta sobre o que o guitarrista Brad Delson faz na banda agora, já que ele não está tocando muita guitarra. Por mais criativo e musicalmente atrativo que seja ‘A Thousand Suns’, não é de forma alguma um álbum para sacudir a cabeça. Até nas músicas mais pesadas falta uma guitarra distorcida.

“Só porque Brad toca guitarra, não significa que esse seja o papel dele no estúdio”, disse Shinoda. “Brad, na verdade, tem menos tempo livre do que quase todos nós. Quando você ouve ouve guitarra nesse álbum, como Brad diria, ‘Normalmente vem do Mike.’ Ele é muito valioso no estúdio em várias formas diferentes que não tem relação com a guitarra. E a principal na minha cabeça é a habilidade dele de estruturar uma música e garantir que os detalhes realmente contribuam com o todo.

“Então ele analisa os sons percussivos, high hats e bips ou qualquer que seja o instrumento, e garante que cada seção faça uma transição boa para a próxima e que elas se juntem formando algo que mantenha sua atenção. Todos podemos fazer isso, mas Brad faz muito bem. Ele provavelmente é mais interessado nisso e até melhor do que qualquer um da banda em certo ponto.”

E com isso, Shinoda nos agradeceu pelo tempo, nos cumprimentou e foi para o hotel. O sol de Nova York estava para se pôr, e ‘A Thousand Suns’ se preparando para pegar fogo.