‘Eu toquei guitarra o mínimo possível’, diz Brad, sobre o ATS

Brad Delson forneceu uma entrevista para a MusicRadar:

Dez anos depois de lançar Hybrid Theory (com vendas superiores a um milhão de cópias, é uma das estréias mais bem sucedidas do mundo), o Linkin Park apresenta seu quarto álbum, A Thousand Suns. Produzido por Rick Rubin e pelo co-vocalista do Linkin Park, Mike Shinoda, é uma coletânea de músicas meticulosamente elaborada – uma confusão que prende a atenção, em muitos casos – que desafia a fácil categorização.

Cheio de colagens sonoras experimentais que mudam sem emendas de rock para hip-hop para industrial, o álbum mostra Shinoda e o vocalista Chester Bennington fazendo menos rap e cantando em um nível ainda melhor do que na tentativa anterior do grupo, Minutes to Midnight de 2007. Eu acho que esse álbum é o último passo na evolução da banda, diz o guitarrista Brad Delson. Em termos de direção que o grupo vai tomar no futuro, eu acredito e espero que continuemos a ter esse espírito aberto que nos ajudou a chegar aqui.

Há que respeitar os vocais, que com certeza foram um fator definitivo, a mente aberta e o talendo que Mike e Chester tem de juntar vários estilos diferentes, estejam cantando, fazendo rap ou se complementando de várias formas. Isso nos dá uma paleta mais extensa no estúdio com a qual trabalhar, e isso deixa muito mais divertido.

Tendo acabado de completar datas da turnê na América do Sul e na Europa, Delson está em casa em Los Angeles por uma semana antes da viagem do Linkin Park para a Austrália e depois dois meses pelos EUA. Em um raro dia de folga, ele tirou um tempo para falar com o MusicRadar sobre a gravação de A Thousand Suns. Você é bem conhecido por tocar guitarras Paul Reed Smith. Você continuou com elas nesse novo álbum?

Você não vai gostar da resposta, mas eu toquei guitarra o mínimo possível. Sabe, eu comecei a tocar guitarra quando tinha 12 anos, então isso tem uns 40 ou 50 anos…[Delson só está com vergonha do seu aniversário de 33 anos;  ele nasceu em 1o de dezembro de 1977.

É, certo!

Então o que realmente me inspirava era trabalhar no estúdio e tentar coisas com as quais eu não era familiar ou não estava acostumado. Para ser sincero, eu toquei guitarra no disco. Porém, no geral, em respeito à minha contribuição, a gravação foi feita com muita experimentação eletrônica, como teclados. Mas muito disso foi feito pegando sons convencionais e manipulando no Pro Tools, usando plug-ins e edição, para talvez até disfarçar a origem do som.

Rick Rubin percebeu logo e nos encorajou empolgado a manter um padrão em que cada som soasse único e feito à mão, e ainda assim você não soubesse o que era. Uma coisa que soa como uma guitarra pode ser um piano, ou pode ser um vocal. Ou se usamos uma guitarra, podemos ter manipulado a ponto de você não reconhecer. A justaposição de todos esses sons orgânicos e sintéticos ajudou a criar a identidade sonora de A Thousand Suns.

Entretanto, fazendo isso vocês se sentiram menos como uma banda? Em vez de estar em uma sala tocando juntos, vocês estão desenvolvendo e sobrepondo partes.

Nunca fomos uma banda que grava numa sala junta. Rick descreveu isso mais como um projeto de hip-hop. Sempre lidamos com a nossa música como uma empenho de estúdio. Não que a gente não consiga ou não queira, mas nós normalmente não sentamos numa sala e tocamos nossas ideias; normalmente, um ou dois caras tem uma ideia, e o resto de nós tem a chance de aperfeiçoar ou levar a um número infinito de direções.

Nos encontramos uma vez por semana ou algumas vezes – às vezes com Rick, às vezes não – e ouvimos basicamente cada versão daquela música e damos notas. É um processo completamente aberto. Felizmente, chegamos a um ponto nessa gravação em que ninguém tem apego às suas ideias. Tentamos toda e qualquer coisa. Ultimamente, com a ajuda de Rick e Mike no estúdio, pudemos mudar cada música do seu estágio inicial para algo que é incrivelmente mais trabalhado e tridimensional.

Geralmente, quem traz as demos, e em que formato elas vem?

Qualquer um pode trazer uma ideia, e qualquer um de nós pode trabalhar em qualquer coisa. No último disco, começamos a listar os membros da banda em vez de dizer que instrumento eles tocam, porque qualquer um pode tocar qualquer coisa. Mike pode tocar bateria; Chester pode tocar guitarra; muitos de nós cantamos vocais de apoio estranhos. A um ponto, temos nossos papéis primários na banda, o instrumento no qual somos melhores. Mas às vezes o mais interessante vem de um cara que não sabe o que está fazendo. [risos] É por isso que eu não escolhi a guitarra para esse trabalho em particular, porque eu estava empolgado para treinar coisas e falhar e me sair bem em áreas que eram totalmente novas para mim.

Você pode me dar um exemplo de um sucesso assim?

Um exemplo seria em uma música chamada Robot Boy. Haviam montes de sons nessa música, e começou como um tipo diferente de música. Eu acho que passei dois dias direto nos Estúdios NRG, literalmente apenas editando e mudando as coisas e colocando em plug-ins. Passei muitas horas remendando. Eu não sabia se alguém ia gostar, e eu tinha que estar aberto à ideia de que eles não gostassem. Mas a direção que a música começou a tomar foi uma popular. Eu adorei entrar nos detalhes da edição, e eu diria que grande parte da minha contribuição para esse álbum foi essa.

Todos estavam envolvidos e contribuíram com notas e ideias. Mesmo se só dois caras não gostassem de uma parte, continuávamos a trabalhar nela até que todos adorassem. Foi por isso que tivemos muita confiança no sentido que sabíamos que tínhamos feito um álbum muito diferente, muito experimental para a banda, o que é assustador de fazer, se reinventar quando já se tem algo de que as pessoas gostam. Essa confiança veio quando terminamos a gravação, e nós seis e o Rick amamos cada música, cada momento – e todos temos gostos muito diferentes. Sentimos que era o melhor que podíamos fazer, e temos orgulho disso, e acreditamos que mais alguém por aí vai ter a mesma sensação.

Então você não tocou muita guitarra no disco. Porém, nas ocasiões em que tocou, quais os modelos que você escolheu?

Meu padrão é sempre aquela PRS, a Custom 24. Tem um tom ótimo e é uma guitarra muito versátil. O que você precisar, se você não tiver certeza de como conseguir, ela te dá o tom.

Mas é claro, usamos um monte de guitarras diferentes. Usamos uma SG, Strats – novas e antigas. Eu toquei um bocado de violão, particularmente na música The Messenger. Não sei a marca dele; era um desses velhos, bem usados. E nem vi um nome nele, mas o som era ótimo e tinha muita personalidade.

Quem eram alguns dos seus heróis da guitarra no início? Quem te inspirou a começar a tocar?

Eu comecei a tocar no fim dos anos 80, então eu fui muito inspirado pelo rock mais pesado, tudo desde Metallica passando por Led Zeppelin e até Guns N’ Roses. E então, obviamente, quando o Nirvana estourou, era o que eu amava – assim como todo mundo. [risos] Aí eu descobri umas músicas britânicas como The Smiths e The Cure. Na faculdade eu ouvia muito hip-hop e rap. Agora ouço muito folk, músicas que o próprio autor interpreta, música alternativa mais calma, junto com um pouco de música indiana.

Você não é famoso por fazer grandes solos de guitarra, mas você tem algum tipo de rotina de prática? Você faz alguma coisa para trabalhar sua técnica?

Quando eu era novo, eu tocava guitarra todo dia durante umas três ou quatro horas. Fiz isso por provavelmente 10 anos. E eu tinha e dava aulas. Na turnê, toco todo dia no palco de 90 minutos a duas horas. Pra mim, é quase como se a guitarra tivesse uma familiaridade no palco, onde eu não estou pensando muito no que estou fazendo – estou apenas me apresentando – e isso é muito legal.

Fale sobre a vibração em geral da banda fazendo esse álbum. Eu entrevistei Chester ano passado quando ele estava fazendo seu projeto na banda paralela, Dead By Sunrise, e ele foi muito sincero sobre alguns de seus problemas pessoais. Ele estava bem fazendo esse disco?

A vibração da banda foi realmente fantástica com esse álbum. Fomos para uma direção muito positiva começando com Minutes to Midnight. Rick meio que nos guiou para esse ambiente aberto que eu descrevi anteriormente, sabe, ‘Vamos tentar de tudo. Vamos ouvir tudo juntos.’ Levou boa parte da gravação aceitar o que ele estava sugerindo, e quando começamos com esse projeto já estávamos nesse ponto. Do começo já tínhamos essa atitude aberta, criativamente ambiciosa e experimental de que iríamos fazer algo bem artístico e satisfatório. Estávamos todos comprometidos com isso. Ninguém estava se apegando a nenhuma noção de como podia ou devia ser. Foi uma gravação muito divertido de fazer.

Por causa da maneira como vocês gravaram A Thousand Suns – sobrepondo partes, sem tocar juntos – isso cria um desafio ainda maior na hora de traduzir esse material para o palco?

É um processo desafiador porque a natureza desse álbum é voltada para o estúdio. Não vamos exagerar, sabe? Fica muito difícil quando há oito partes de guitarra e só há dois ou três caras tocando guitarra no palco. É um desafio muito interessante, e passamos muito tempo nos ensaios para, como você disse, traduzir isso para a versão ao vivo. Eu acho que tivemos muito sucesso nisso. Isso requer de nós que toquemos individualmente muitos instrumentos, o que não fazíamos antes. Em algumas músicas, acho que todos nós cantamos. E há uma música em que eu toco bateria e canto e logo toco guitarra… ou teclado. O mesmo acontece com todos os caras – eles tocam vários instrumentos durante o show, particularmente nas músicas mais novas.