Linkin Park abre a mente para o novo álbum

O Noisecreep.com publicou meses atrás uma matéria sobre a banda e o A Thousand Suns. Confira a tradução a seguir:

Linkin Park abre a mente para o novo álbum

O Linkin Park mais uma vez uniu forças com o produtor Rick Rubin para seu novo álbum, ‘A Thousand Suns’- para resultados absolutamente deslumbrantes. Considerado seu álbum mais maduro, é um trabalho instigante, tanto sonoramente quanto as letras. Como eles chegaram a esses resultados?

A Noisecreep falou com o co-produtor e arquiteto-chave do som Mike Shinoda sobre a criação do álbum e como as referências do Linkin cresceram consideravelmente. Apesar de algumas abordagens bem hippies que levaram a ‘A Thousand Suns’, a banda não adotou o tie-dye.

Estão dizendo que esse álbum é bem diferente dos outros do LP. Como a abordagem de vocês mudou para fazer ‘A Thousand Suns’?
Para mim o que aconteceu foi que nosso vocabulário musical cresceu com o tempo. Como na nossa versão mais rudimentar da banda em 1997, nossas primeiras demos pareciam com Roots encontra Alice In Chains e Aphex Twin ou Prodigy ou coisa assim. Era o que nós ouvíamos na época porque era atual. Foram nossas primeiras demos. Com o tempo, simplesmente passamos a ouvir mais coisas.
Eu acho que quando fomos fazer esse álbum, em termos de dimensão, não era apenas um eixo X, “É rock? É eletrônico? É hip-hop?” E não era um eixo Y de “É tendência? É underground?” E também havia um eixo Z de “É atual, é futurista ou é dos anos 60 ou 70?”
Acho que nosso vocabulário musical se expandiu em todas essas direções. Quando se tem um vocabulário melhor, você pode comunicar suas ideias para outros de uma maneira mais específica; você pode ter inspiração de um jeito diferente, e esse álbum foi todo sobre ouvir nossas músicas preferidas e o qualquer outra coisa, mas nunca fazendo referência a essas coisas para criar as nossas. Nós apenas sabemos do que gostamos. Estamos melhores no estúdio do que nunca. Espero que estejamos melhores escrevendo músicas do que nunca, e podemos fazer algo que achamos que vem com sinceridade e é a melhor versão sonora da ideia que temos.


Quais ideias surgiram que surpreenderam vocês como banda?
Bem, foi um processo bem intuitivo. Nosso método padrão é ser bem detalhista e perfeccionista, e deixar isso de lado e ficar livre para experimentar até onde fosse possível foi algo estranho para nós. Essa gravação foi mais “Vamos improvisar com essa ideia até que ela nos leve à próxima. Vamos deixar a música decidir.” E parece até uma viagem psicodélica, como uma mentalidade hippie ou coisa assim, mas não estamos com camisetas tie-dye e usando ácido [risos].

Ainda somos os mesmos caras perfeccionistas e detalhistas abrindo nossas mentes para essa ideia, e o equilíbrio de ordem e caos quase sempre parecia surgir. Sempre sobrava algo na letra e na música. As letras desse álbum foram feitas durante dois anos, e passamos por muita coisa em dois anos – sejam elas coisas emocionais ou experiências com a realidade, coisas que você lê nas notícias ou vê na TV. E eu acho que de formas conscientes e inconscientes essas coisas fizeram parte do álbum. E em muitos casos, isso simplesmente aparecia.

No meio do processo, fizemos uma música chamada ‘Blackout’. Tínhamos a música e um vocal improvisado em que Chester gritava qualquer coisa no estilo dance esquisito da faixa, e não haviam palavras. E toda vez que tentávamos colocar letra, ficava muito racional, estávamos pensando demais e não parecia vindo de dentro para usar as palavras do Rick. E então em um certo ponto nos frustramos e perguntamos ao Rick, “Há algo que possamos fazer para deixar isso um pouco melhor e acertar?”

 

Ele disse, “Sim, já ouviu falar de escrita automática? É uma coisa que eu fiz com Tom Petty, Johnny Cash; muitas outras pessoas fazem.” Essencialmente, para encurtar a história, ele disse, “Deixe a música tocando e volte cantando palavras e melodia no ritmo e o que a música quiser fazer, qualquer palavra que vier à sua boca, coloque na música e confie.”

Ficar de frente para o microfone gravando – e possivelmente com outras pessoas na sala, seus engenheiros ou quem quer que esteja assistindo – e agir como se você pudesse cantar uma música totalmente nova com palavras inéditas e melodia da sua cabeça, é muito louco. É uma tarefa assustadora, e quando começamos a fazer isso estávamos morrendo de medo de dizer algo que não queríamos, talvez dizer algo ruim de alguém, algum segredo nosso, algo ofensivo; nunca se sabe o que pode sair da nossa boca.
E levou um tempo para superarmos isso e entrar na cabine e deixar as coisas fluírem direto da nossa cabeça. E literalmente parecia que estávamos alucinando, parecia que você estava canalizando a música, e no fim do álbum tínhamos faixas em que a maioria da música estava só na nossa cabeça e não tinha nada escrito. Nem sabíamos o que estávamos falando. Até hoje eu erro algumas palavras da música, porque falo algumas das outras improvisações que a gente fez.

E quando já se tem isso, entra o lado esquerdo do cérebro, a mentalidade organizada e metódica, e aí aprimoramos as letras e garantimos que elas dissessem as coisas certas e haviam camadas de significado que gostamos. Mas outra vez, esse equilíbrio de caos e ordem é sobre o que o álbum foi construído.

Quando Rick Rubin dá a vocês o mesmo conselho para escrever músicas que ele deu a Johnny Cash e Tom Petty, o que isso significa para vocês?
Essa história em particular sobre a escrita automática não tinha sido contada até esse álbum, e é muito importante. Foi um momento do processo que definiu o álbum em certo grau. Temos trabalhado com Rick desde 2006, eu acho, indo e voltando. Fizemos um álbum inteiro com ele por 18 meses, e agora estávamos com ele por outros três, quatro ou cinco meses dessa vez e aí ele nos conta essa pérola.

Então uma vez que testamos e funcionou, nos sentamos e comemoramos e dissemos, “Meu Deus, isso é incrível.” Rick não nos disse como fazer essa música. Ele disse, “Aqui está uma técnica, eu acho que vocês estão prontos para ela e eu quero que vocês a experimentem.” E duas coisas nos ocorreram. Primeiro, se ele tivesse nos contado sobre essa técnica antes, não estaríamos prontos para ela. Ele definitivamente é um mentor – como um sensei nesse caso – porque ele sabia o momento exato de nos dar essa preciosidade. E a segunda coisa que isso nos fez pensar foi, “Nossa, quantas dessas coisas ele sabe e não nos contou ainda? Qual a próxima pérola que ele vai nos dar?”

Ele faz isso constantemente, e ele espera pelo momento certo e geralmente você precisa perguntar.

O que deixou vocês mais abertos dessa vez à essas técnicas?
Estávamos mais interessados nesse estilo de escrita do que nunca. Quando você já fez vários álbuns e escreveu no estúdio por tanto tempo quanto nós, você busca coisas para manter isso interessante e divertido. E há certas técnicas ou certas maneiras de fazer coisas no estúdio que são atemporais.

Não posso imaginar que eu vou ficar velho demais para sentar no piano com Chester numa sala e escrever uma música nova assim. É uma das boas sensações atemporais que se tem no estúdio e no processo de escrever uma música, ao invés de alugar algum instrumento legal e exótico que você nunca tocou na vida. Você vai tocá-lo e ele vai envelhecer. Você o aluga, toca, usa, e aí vai ter que devolvê-lo. [risos].

Que músicas foram em direções que talvez tenham te surpreendido, e como elas te surpreenderam?

Bem, ‘The Catalyst’; nós a escolhemos como single porque sentimos que era a melhor indicação da mudança de som e da direção que esse álbum traria. Eu não acho, para ser sincero, que há uma música no álbum que o resuma inteiro. Não era como um indicativo de como é o som do álbum todo, era apenas uma indicação da mudança que estava acontecendo.

É uma música de seis minutos, o refrão não é a parte mais grudenta. Acho que as seções ‘A’ e ‘C’ são mais fáceis de lembrar – possivelmente o solo de turntable é tão memorável quando a parte que deveria ser o refrão. Mas o que eu realmente gostei da música foi que era uma experiência de escrita muito fluida,  automática, em que eu estava apenas tocando o órgão que aparece na introdução e comecei a cantar palavras que basicamente foram a base do que acabou sendo o vocal final; talvez 50 ou 75% igual.
E tudo saiu disso para essa versão de quase seis minutos que você ouve agora. Eu acho que essa música é provavelmente mais poderosa no contexto do álbum completo. Hoje em dia, as pessoas escutam as músicas em pedacinhos, então achamos que seria um bom momento para fazer uma estrutura para o álbum. Adoramos o formato de álbum, crescemos apertando o play num toca-fitas ou colocando a agulha no vinil e ouvindo um álbum inteiro e as pessoas não fazem mais isso.

E citando uma outra música, eu diria que ‘Waiting for the End’ é uma das músicas que se destacam para muita gente no álbum, porque os fãs da nossa banda não ouviram uma música que misture esses tipos de emoções e esse tipo de letra. Em um minuto é extremamente alta, no minuto seguinte é muito sombria e calma e até uma mistura estranha de esperança e medo. E para mim, é uma música muito tridimensional, e eu acho que se tornou esse tipo de música por causa da experiência insana de escrita nela.

Começou com a bateria e o rap, e então um pouco da música surgiu, mas era uma faixa muito tediosa. Era boa, mas ainda não era ótima, e nós sempre sentimos que ela tinha o potencial para ser ótima. E eu estava trabalhando com Chester no estúdio, e estávamos tentando pensar em algumas palavras para cantar e ele sempre grava ideias de vocal no celular. E ele acabou olhando o celular e escolhendo algumas ideias, e ele cantou ‘waiting for the end to come’ (esperando chegar o fim), e nós dois adoramos o som disso sobre a música. Então basicamente colocamos isso no lugar e escrevemos o resto da música em torno disso. Foi uma viagem.

things aren't the way they were before; you wouldn't even recognize me anymore.