Matéria sobre ATS do jornal Broward Palm Beach Times

O jornal Broward Palm Beach Times publicou essa semana uma matéria sobre o A Thousand Suns. Confira a tradução:


O épico nuclear do Linkin Park “A Thousand Suns” conseguiu um sucesso inflamado comercial e de crítica

Andar de carona no carro de Chester Bennington agora deve ser inquestionavelmente agradável. Ele tem a possibilidade de comprar qualquer carro do mundo, tem uma coleção admirável de músicas (sobre as quais falaremos mais  tarde), e já deixou há muito tempo de se sentir mal em sua própria pele.

“Estamos muito confortáveis em não nos importar com o que as outras pessoas pensam,” diz o vocalista do Linkin Park que divide as tarefas de liderar a banda com o rapper Mike Shinoda. “Pela primeira vez em nossa carreira, realmente sabemos o que isso quer dizer.” Mais, pela primeira vez em sua carreira, realmente acreditamos nele.

Nesse setembro passado, a banda adorada e insultada de Bennington lançou A Thousand Suns, um experimento de estúdio apocalíptico para os padrões de seu próprio passado frequentemente contido, e também para os padrões do rock ou pop de qualquer tipo. Houve algum momento antes de agora que o Village Voice pudesse afirmar que “Linkin Park fez o seu OK Computer”? Não. Seja apesar disso ou por causa disso, as vendas da semana de estreia de 241 mil exemplares deram ao Linkin Park seu quarto número um na Billboard 200 – perdendo para o Passion, Pain & Pleasure de Trey Songz por apenas 1000 unidades – e manteve o grupo como um dos atos mais populares dos EUA.

Bennington estacionou seu carro numa vizinhança de Los Angeles que ele não reconhece para dizer ao New Times por telefone sobre a última temporada de sucesso.

Sem surpresas, ele não o vê da mesma forma que alguns jornalistas de música repentinamente confortáveis em comparar o quarto álbum de estúdio do Linkin Park com o OK Computer do Radiohead ou The Dark Side of the Moon do Pink Floyd. Apesar de serem “dois discos de duas bandas que não são uma droga”, a leitura de Bennington das resenhas tanto profissionais quanto dos fãs de A Thousand Suns é semelhante às críticas recebidas durante uma década de saturação pública massiva para a banda.

“Sempre temos uma resposta muito polarizada,” ele diz, escolhendo as palavras com cuidado. “Tipo, ‘O que aconteceu com a banda que a gente ama? Dane-se o Linkin Park’ ou ‘Essa é a melhor coisa que eles já fizeram, e estamos animados para vê-los crescer e tentar coisas novas.’ [A Thousand Suns] definitivamente é algo que sabíamos que as pessoas precisariam digerir e superar o fato que não é o que eles achavam que faríamos.”

As sementes da mudança foram plantadas em no ciclo anterior de álbum, quando o Linkin Park se juntou pela primeira vez com o produtor/levantador de crédito barbudo Rick Rubin (Beastie Boys, Jay-Z, Neil Diamond, Tom Petty, Johnny Cash). Esse trabalho com Rubin, Minutes to Midnight de 2007, deu dicas pontuais para essa imponente transformação. Mesmo que os singles de sucesso “What I’ve Done” e “Bleed It Out” lembrem mais a estreia multimilionária Hybrid Theory, ouvir tanto as batidas eletrônicas de Midnight lembrando Breaking the Habit ou a incendiada “Shadow of the Day” à la U2 mostra que não é mais o mesmo nu-metal maníaco e raivoso do passado.

A maior característica de A Thousand Suns é que ele não tem emendas, tanto musicalmente quanto conceitualmente. Intercalado por palavras de pensadores revolucionários como Martin Luther King Jr., o físico do projeto Manhattan J. Robert Oppenheimer (que inspirou o título do álbum com suas observações sobre a detonação da primeira bomba atômica), e o ativista da liberdade de expressão Mario Savio, essa mistura guiada por Rubin de rock, hip-hop e eletrônico, implora para ser levada a sério e considerada. Da balada de piano “Robot Boy” que parece “What You Know” do T.I. ao primeiro single “The Catalyst”, um hino inflamado que aparece rapidamente no interlúdio inicial do álbum, ainda soa muito como o Linkin Park – ainda que de uma forma futurista e esculpida.

“Sou horrivelmente subestimado, mas vim aqui corrigir isso/E então não é um engano/Vou expor isso para deixar registrado,” o parceiro de Bennington de ritmo e visão, Shinoda, faz o rap em “When They Come for Me”, uma faixa caracterizada como “uma declaração realmente corajosa sobre a banda”. Assim como A Thousand Suns lida com o potencial de uma guerra nuclear com seus assuntos e ambiência, também é uma chance de Bennington e Shinoda detonarem ideias para fora do peito coletivo da banda – mas apenas até certo ponto.

“No nosso nível de conforto em falar de coisas que na verdade são um pouco desconfortáveis ou controversas – como letras carregadas socialmente, religião, política ou o que seja – não queremos que pareça que estamos pregando,” Bennington argumenta. “Não queremos dizer às pessoas o que pensar ou o que sentir. Isso é difícil quando se fala sobre essas coisas.”

(Nota: Bennington, nascido no Arizona, ainda não evita condenar o atentado à deputada republicana do Arizona Gabrielle Giffords, que custou a vida de seis pessoas e feriu várias outras em Tucson dois dias antes dessa entrevista.)

Agora o tempo para digerir A Thousand Suns estritamente como um álbum está próximo. Depois de passar o outono afiando o material nos palcos em outras terras, o sexteto está pronto para lançá-lo na America do Norte, com a primeira data no BankAtlantic Center em Sunrise. Como uma medida de controle de qualidade e impulso viral, o Linkin Park se equipou para que cada pessoa presente nos shows ganhe o download grátis do áudio do show que assistiram ao enviar um código disponibilizado no local da apresentação. A julgar pelas setlists do outono, é melhor que os fãs ainda desconfortáveis com o novo material o aceitem logo.

“Eu pessoalmente amaria vir e tocar o álbum inteiro do começo ao fim e só,” Bennington admite. Porém, “é algo sobre o qual ainda não conversamos”.

Em vez disso, os presentes no show podem esperar o que ele chama de “pockets” visuais e artísticos das músicas de A Thousand Suns assim como de “dez ou onze músicas número um dos outros álbuns”.

“Desde Hybrid Theory, quando tínhamos apenas um álbum, essa é a primeira vez que tocamos tantas músicas de um álbum durante um show,” diz Bennington. “Sempre escolhemos cinco ou seis músicas de cada álbum, e desse estamos literalmente tocando quase tudo, incluindo os interlúdios.”

Ainda mais íntimas com o estado da mente da banda são as escolhas para as bandas de abertura. Para a turnê norte-americana há dois atos ingleses de eletro-rock, Does It Offend You, Yeah? e Pendulum, assim como algumas datas com os pioneiros da fusão de punk e eletrônico, The Prodigy. Quando questionado se os atos adicionais combinam com seu interesse, Bennington fez o que qualquer consumidor astuto de música faz hoje em dia – buscou em sua coleção de MP3. (Tecnicamente, ele não disse que estava fazendo isso, mas ele indicou suas bandas favoritas em ordem perfeitamente alfabética.)

“Eu adoro Airbone Toxic Event, Broken Bells, Cage the Elephant, Civit Twilight, Crash Kings. Acho o segundo álbum de Dead Weather incrível. O primeiro não era tão – achei que eles estavam quase lá, e conseguiram no segundo. The Delta Fiasco. Eu gosto de The Horrors, Iron & Wine, MGMT, Miike Snow, Mumford & Sons, The National, Neon Trees, Towers – eles não são novos, mas eu os adoro. Coisas assim.”

Com tanta mistura de bandas recentes, é fácil apreciar que o Linkin Park verdadeiramente não está tentando reviver a glória de Hybrid Theory cada vez que lançam um álbum. Confirmando isso estão os projetos paralelos esperando pelo lado de um rock mais avançado de Bennington (Dead by Sunrise) e Shinoda solidificando sua presença hip-hop (Fort Minor). Nesse ponto, Bennington admite que é difícil saber para onde pode ir o Linkin Park depois de A Thousand Suns, mas diz que o caminho atual é o certo.

“Sentimos que estamos em um lugar muito bom criativamente,” ele diz, “em termos da filosofia do que queremos atingir como banda e em termos do estilo em que estamos trabalhando, quão bem está funcionando. Jogamos o livro de regras pela janela, e foi uma experiência libertadora. Estávamos tipo, ‘Se escrevermos uma música que dura oito malditos minutos, vai durar oito malditos minutos.’”

things aren't the way they were before; you wouldn't even recognize me anymore.