Uma conversa com Mike Shinoda pela Huffington Post

Mike Ragogna, do Huffington Post teve uma conversa com Mike Shinoda para debater sobre o novo álbum LIVING THINGS, Rick Rubin, parcerias e novos artistas. Confira abaixo a transcrição:

Mike Ragogna: Mike, em termos de produção, seu novo álbum LIVING THINGS foi outra colaboração entre você e o Rick Rubin, certo?
Mike Shinoda: Sim, Rick e eu nos unimos novamente nisso. Eu acho que esse é apenas um ofício de se trabalhar com a nossa banda. Eu geralmente lido com os meandros da produção.

MR: Como funciona a interação com o trabalho de Rick?
MS: Desde que começamos com o Rick, eu tenho sito uma espécie de co-produtor. Nosso estilo de trabalho é muito diferente do que as pessoas esperam que a maioria das bandas façam. Dito isso, definir as coisas é meio difícil. Quando as pessoas pensam na maioria das bandas escrevendo uma música, elas pensam que essas bandas se reúnem numa sala tocando e escrevendo as coisas juntos,  basicamente escrevendo uma música e então gravando uma música. Isso não é realmente como trabalhamos. O nosso trabalho é realmente um processo  fluídico, meio que de ida e volta. Desde o começo, nós estamos escrevendo, nós estamos gravando, nós estamos mixando, e até mesmo todo o caminho até o ponto de masterização do álbum, que é uma etapa muito, muito posterior, nós estamos fazendo um pouco. Cada parte está sempre aberta a mudanças. Nós estamos constantemente tentando melhorar as músicas e até mesmo no processo de mixagem de músicas, podemos até mesmo mudar algo tão drástico como o refrão.

MR: Então você tem uma versão final e aí você diz: “Vamos mexer no no refrão”?
MS: Em LIVING THINGS, apenas para exemplificar, durante o processo de mixagem – para as pessoas que estão menos familiarizadas com mixagem e gravação de um álbum, você deve ter terminado a escrita até o momento que você começa a mixagem. Para nós, não é assim que isso funciona. Mixagem é onde você pega as pistas e você meio que organiza-as e apresenta-as para sua versão final do álbum. Para nós, em todo álbum, nós chegamos a esse ponto e dizemos: ” Nós ainda queremos ajustar as coisas e fazê-las um pouco melhor”. Neste álbum, nós realmente trocamos as palavras de uma ponte inteira e adicionamos guitarras em uma canção em que elas sequer existiam antes. Nós estávamos mixando a música e percebemos: ‘Essa música não está tão audaciosa ou grandiosa como supostamente deveria soar.’ Nós pensamos que todos os sons estavam lá, mas eles não estavam. Felizmente, nosso estúdio de mixagem era como à vinte minutos de distância do nosso estúdio de gravação, então eu apenas dirigi rua abaixo, localizei as guitarras, trouxe-as de volta e  Brad estava sentado lá com o nosso mixer. Até o momento ele sequer havia terminado com as nossas notas, e eu já havia trazido de volta as guitarras que lhe pertenciam.

MR: Legal. Que música foi essa?
MS: Eu acredito que era “IN MY REMAINS” ou “I’LL BE GONE”.

MR: Eu acho que eu peguei alguns conceitos por trás das músicas nesse álbum, assim como “BURN IT DOWN”, que você diz que tem que construir pra queimar tudo depois. Ou eu estou perdendo o alguma coisa?
MS: Não, definitivamente não. Acho que para nós, as letras das músicas são da forma que você quiser tomá-las. Eu acho que veio de alguns anos atrás, eu estava fazendo uma entrevista com o nosso baterista Rob e nós estávamos falando sobre as músicas do Meteora, nosso segundo álbum, e o escritor com o qual estávamos falando perguntou sobre o conteúdo lírico e eu disse-lhe o que a canção falava. Após a entrevista, Rob disse para mim: “Você sabe, cara, eu nunca soube do que essa canção falava. Eu pensei que fosse sobre algo completamente diferente.” Para ele, isso o distanciou um pouco da música, porque ele acreditava que a versão dele sobre isso era o que a canção estava relacionada,  e sabendo que ela era sobre outra coisa foi realmente chocante pra ele. Isso nos colocou em uma discussão. “O que significa para alguém trazer a sua própria história para uma canção?”. Desde então eu acho que temos sido um pouco mais cuidadosos ao falar para as pessoas o que isso significa. Você sabe, para ser honesto, nós temos a música até certo ponto, e uma vez que você libera um álbum, cabe aos fãs  decidir como a canção termina. Em outras palavras, nós te guiamos até certo ponto da estrada e dizemos: “Tudo bem, o resto é com você. Você traz sua própria interpretação pra música.”. No caso da maioria dessas músicas, eu acho que o Chester (Bennington) parte de um certo local, eu chego com minha própria experiência, e no topo disso, existe frequentemente uma metáfora e talvez uma terceira leitura. No caso de “BURN IT DOWN”, nós estamos falando sobre minha história pessoal e a história pessoal dele, e há também uma camada da cultura popular que dita as regras das letras da canção. Por exemplo, as pessoas levantam uma certa celebridade ou músico ou ator ou qualquer coisa e eles são populares num minuto e no instante seguinte você sabe tanto se eles fizeram algo errado ou se eles não fizeram nada errado e é apenas um boato maldoso que corre por aí e então todo mundo já está atacando a pessoa. Esse é apenas o modo como as coisas são. Nós realmente temos vivido isso como uma banda. Todas essas coisas desempenham um papel.

MR: Ei, Mike, numa música como “LIES GREED MISERY”, você tem mais afinidade com o enredo quando você está fazendo rap nele?
MS: Pra mim, ela sempre vem de algo que eu tenha experimentado em primeira mão com, seja minha própria história ou um de meus amigos mais próximos. Nós temos uma canção chamada “ROADS UNTRAVELED” onde eu meio que escrevo a canção para um dos meus melhores amigos.  Em todo caso, eu sinto que meu melhor material vem quando eu estou pensando em algo que eu sinto fortemente. Um dia, talvez não esteja inspirado a falar sobre algo, e então no dia seguinte, eu posso, e é aí quando eu realmente tento cavar as letras de tudo o que possa ser o ideal. Normalmente, pra mim, é como se a música fosse trazer a emoção e a inspiração e eu só tentasse seguir-la.

MR: “LOST IN THE ECHO” é provavelmente minha faixa favorita neste álbum. Sem entrar no seu significado, o que inspirou-a?
MS: “LOST IN THE ECHO” começou com sons principalmente eletrônicos. Eu acho que foi um daqueles momentos que definiram o que este álbum seria. Nos últimos dois anos, sempre que eu trazia algo que soava muito parecido com Linkin Park – aquilo que as pessoas pensam que Linkin Park supostamente deveria ser – os caras da banda meio que afastavam disso. Para um álbum, eu trouxe algo em torno de 25 a 75 demos para alcançar aquilo que nós acabamos escolhendo para o disco. Especialmente nos últimos dois álbuns, um monte daquelas idéias brutas podiam ser realmente similares as que acabaram nesse álbum ou elas podem ser apenas o ovo de onde ela [LOST IN THE ECHO] chocou. O lance com LOST IN THE ECHO foi que ela soava muito como uma “música” deveria soar, eu acho. Quando os caras escutaram-na, eu meio que disse a eles, “O que vocês pensam disso?” e as respostas deles, pela primeira vez em alguns anos, foi muito boa. Foi meio que “Sim, nós ouvimos o mérito. Vamos desenvolver a idéia. Vamos ver o que nós queremos fazer.”. Eu disse a eles: “Vocês sabem, esse é como um momento real pra nós, agora, nesse álbum.”. Nos últimos dois álbuns, se eu trouxesse algo como isso, nem todo mundo teria dado luz verde.  Eles diriam: “Ah, isso soa muito previsível.”. Mas claramente estamos num momento onde estamos preenchendo uma lacuna entre o que estivemos fazendo e o futuro da banda,  então essa foi uma daquelas músicas que meio que definiu nossas próprias metas.

MR: Parece que vocês estão progredindo com cada um dos álbuns, experimentando mais, integrando coisas com o som do Linkin Park. Você ouve ou sente a evolução?
MS: Eu digo, é difícil ver de dentro, sabe? Apenas quando nós finalizamos o álbum e damos um passo pra trás que conseguimos ter uma noção real do que isso é, pelo menos pra mim. Mas quando nós estamos no estúdio, eu pessoalmente estou sempre tentando imaginar, “O que nós não fizemos, o que nós não tentamos, o que nós conseguimos fazer dessa vez e que tipo de sons nós não fizemos?”. Nós costumávamos ser chamados Hybrid Theory antes de sermos chamados de Linkin park. A idéia do Hybrid Theory é a filosofia que nós construímos na banda. Não se trata apenas de tocar os estilos populares juntos, é uma atribuição dos membros da banda estarem verdadeiramente imersos em um monte de diferentes estilos de música, e enquanto nós envelhecemos, essa biblioteca de material que nós gostamos vai ficando mais profunda e abrangente. Enquanto estávamos fazendo o Hybrid Theory, nós realmente estávamos focados num estilo específico de rap, um tipo certo de Hip-Hop, um determinado gênero de rock, uma exata espécie de música eletrônica, e como nós crescemos, nós começamos a ampliar esse recipiente compassivo. Neste disco, não só estão incluídos todos esses estilos diferentes de música, mas também material antigas tão profundas como música folk dos anos 20 e sons futurísticos que esperamos que sintam como se cortassem esse delimitação assim como nós sentimos enquanto estamos no estúdio. Nós estamos também fazendo uma ponte entre nossos próprios discos.

MR: Rick Rubin tem sido associado com tantas diferentes gravações e estilos, mas ultimamente ele parece ser mais um produtor orgânico. É divertido vê-lo em projetos que são mais experimentais. Não que eu não associaria Rick Rubin com isso, mas você nunca pode prevê-lo ou adivinhar qual será seu próximo passo criativo.
MS:
Sim. Acho que ele é um grande companheiro pra nós agora. Quando nós começamos com o Rick, eu estava apavorado porque provavelmente dos meus dez álbuns favoritos, metade foi produzida por ele. Eu sou apenas um grande fã das coisas que ele fez e uma vez que nós passamos do ponto de estarmos nervosos por estar trabalhando com o Rick, nós pegamos um pouco do momento e um ritmo. Ele é um grande companheiro pra nós, por causa das coisas que ele quer fazer, as maneiras que ele quer misturar estilos, isso nos ajuda a ter alguém que não somente entende de todos aqueles estilos porque ele os escuta, mas também porque ele possuí experiência de trabalho e um catálogo realmente profundo e conhecimento do que faz esses estilos de músicas diferentes especiais. Quando estávamos trabalhando na música “UNTIL IT BREAKS”, que é uma tentativa de fazer um White Album dos Beatles tipo em uma música tudo em um, é apenas um monte de loucura, pulando de um som para o seguinte e dele para o próximo, todos no espaço de menos de cinco minutos. Algumas das ideias nós jogamos variaram de Beatles até eletrônica e ao folk, todas essas coisas que nós estávamos pensando. Eu estava pensando que não há realmente quaisquer outros produtores com os quais nós poderíamos ter essa conversa e eles realmente saberiam as m****s como o Rick sabe – e não apenas isso, mas que conectar-se-iam à nós em um nível pessoal, para ter uma conversa dessas e não perder o ritmo.

MR: Mike, que conselho você poderia ter para novos artistas?
MS: É difícil pra eu dar conselhos para novos artistas, porque no ambiente da industria que crescemos era muito diferente. Estávamos chegando fazendo shows em casas pequenas e tudo mais. Nós soltamos uma lista de inscrição para que as pessoas pudessem se manter em contato com a banda, e mais da metade da lista assinaria com seus endereços residenciais e número de telefone porque eles simplesmente não tinham e-mail ainda. Quando nós chegamos com o nome de Linkin park, nós queríamos ir com a ortografia presidencial, mas nós escolhemos L-i-n-k-i-n porque nós queríamos obter o domínio “.com”. Realmente não havia Google ainda. Então se você pode imaginar à partir daí e tudo o que aconteceu desde então, nós tivemos que realmente correr atrás e nos manter em contato com nossos fãs, nos manter em contato com a tecnologia e, tentar e estar à frente da curva. Eu acho que a quantidade de perspectivas faz com que seja difícil pra mim dizer aos artistas jovens o que fazer porque nós estamos tão acostumados a manter apenas  o nosso olhas no próximo avanço, e um monte dessas pessoas estão crescendo com essas coisas já fazendo parte da realidade. Mas deixando de lado um monte de coisas, claramente, a única coisa que sempre foi um foco para nós é ter certeza que nossas músicas estavam onde tudo se baseia. Você poderia ter a melhor promoção em todo o mundo, você pode ter produtores renomados e diretores de vídeos, qualquer coisa. Jovens artistas estão sempre aspirando por ficar com alguém mais que é talentoso e dizer que isso vai levar a sua banda para o próximo nível. Mas sinceramente, nos dias de hoje, com a relação direta ao fã você pode construir esses dias online, e esses materiais são cada vez menos e menos importantes. Nós construímos nossa coisa em fazer nossa própria música, fazer nossos próprios vídeos, fazendo tudo por nós mesmos à qualquer nível que consigamos, e se todas esses recursos desaparecessem, eu sinto que nós ainda assim seríamos muito autônomos. Eu acho que essa é a lição para os jovens artistas.

MR: Como você desfrutou sua recente temporada no Jimmy Kimmel?
MS: Ah, isso foi muito legal. Nós tocamos no show do Jimmy algumas vezes. Ele e sua equipe estavam lá e nos convidaram para tocar duas noites. Foi muito divertido. Os fãs estavam loucos, nós estávamos em casa por uma turnê maluco e felizes por estar de volta, então isso foi realmente emocionante, poder fazer coisas como aquela enquanto você têm o lançamento de um disco e os fãs se tornam super apoiadores ao álbum e tudo mais. No nosso último álbum, nós estávamos realmente desafiando os fãs, pensando que o som do disco polarizaria as pessoas e que ia ser como um conflito assim que o álbum saísse, e estávamos pronto pra isso. Esse álbum foi mais como se estivéssemos dando aos fãs algo que eles estavam pedindo por um longo tempo, por isso era um tipo totalmente diferente de experiência – alcançando recordes, fazendo-nos os números um aqui nos Estados Unidos, o que é incrível. Foi uma corrida muito apertada aqui nos EUA. Eu acho que superamos o Maroon 5 por cerca de menos de 1000 discos, então isso foi muito estreito.

MR: E, claro, vocês tem aquela iniciativa musical com a Open Labs e a Dell, certo?
MS: Sim. Isso é uma coisa nossa que estamos realmente fazendo Electronic Dance Music. A história por trás disso é que eu estive usando o material do Open Labs no meu teclado. Agora estamos lançando uma versão limitada profissional. Se você for até https://www.LinkinPark.com  você encontrará o link para a edição limitada do computador da Dell com a tela sensível ao toque e o software estará lá. Há um banco de sons de edição limitada do Linkin Park, então basicamente você pode fazer sua própria música com nossos sons, um monte das quais não foram lançadas. Elas são coisas das nossas demos, são coisas que estão nas nossas músicas e que nós extraímos. Na verdade, existem algumas coisas lá que estão nas nossas músicas do álbum. Então, tudo isso está lá no Open Labs, e você deveria verificar isso. No radar, também, nós temos uma versão amadora disso, uma versão mais “tendência musical” daquilo. A versão que está lançada agora é mais uma versão “profissional” voltada para escrever material e tocá-lo no palco, e a versão que sairá algum dia nos próximos doze meses, eu acho, será mais uma coisa ampla. Essa que está lá agora é um pacote de edição limitada com sons e isso é o que a diferencia.

MR: Legal. Tudo bem, obrigado, Mike, pelo seu tempo e todas as informações.
MS: Obrigado, Mike.

*Traduzido por Flagrare

Fotógrafo e Produtor de Vídeo