A busca pela batida perfeita

THPCOVER

Acima encontra-se a capa do próximo álbum do Linkin Park, The Hunting Party, que será lançado no  dia 17 de junho. Essa é a primeira vez que ela foi mostrada ao público. O Linkin Park nos escolheu para compartilhar a arte do álbum com o mundo porque nós somos mais legais que você.

Há um momento no novo single do Linkin Park, “Guilty All The Same”, em algum lugar próximo de quando as guitarras no estilo Kirk-Hammet desaceleram e a bateria de Rob Bourdon junta-se ao baixo  de Phoenix e Rakim desce do Monte Olimpo dos Rappers para cantar um verso de pura fúria, que você tem que pensar “Caramba. Essa música é realmente boa”.

Bom, eu tenho um segredo todos os hipsters esnobes com suas milhares de músicas no Soundcloud e Abletons cheios de heavy metal produzidos por cinco drogados super estudiosos de Ridgewood [falando sobre o Radiohead], e o segredo é que o Linkin Park é legitimamente a maior banda do mundo – eles têm espantosos 62 milhões de fãs no Facebook – e eles vêm fazendo um rock ousado por boa parte da década. Com seu novo álbum, The Hunting Party, pronto para ser lançado no dia 17 de junho, o Linkin Park deixou de  lado os eletrônicos de seus últimos dois álbuns e dedicaram-se novamente a fazer rock and roll. Resumindo, eles acharam seus colhões, e eles estão pegando esses colhões e jogando contra a parede. Partes do álbum soam como a antiga batida da Bay Area, enquanto outras soam como o Helmet, ao ponto que eles realmente pegaram o cara do Helmet para cantar em “All For Nothing”. O álbum soa grande, como o tipo de coisa que somente uma gigantesca banda de rock pode realmente lidar, porque eles têm as pessoas, recursos e habilidades para fazê-lo soar grande. É como o som de uma banda que tem algo a provar, e que vai socar você na cara se você se recusar a ouvi-los.

Quando eu encontrei Mike Shinoda no escritório de sua gravadora, porém, ele parecia estar pronto para qualquer coisa, menos me dar um soco na cara. Aos 37 anos, vestido com uma camisa Chambray azul marinho e tênis caros, ele parece menos com o arquiteto de uma das bandas de rock mais populares dos últimos 15 anos e mais com o pai legal. Isso em parte, porque de fato ele é pai, e sendo um rockstar, ele também é legal. Mais que isso, ele é cheio de ideias sobre o lugar da sua banda na cultura – o Linkin Park é a onipresença que paira sobre nós, nunca morre. Com esse status vem a liberdade, e para ter esse crédito, o Linkin Park realizou praticamente tudo o que quis e permaneceu popular sempre. Desde 2003, com o hit mundial, Meteora, eles fizeram seu Álbum Legado – que seria o Minutes to Midnight, dirigido por Rick Rubin – seu Segredo Clássico – o flexível A Thousand Suns, que com seus elementos eletrônicos espaciais e temas apocalípticos, se parece mais com o Radiohead – e em 2012 lançou o LIVING THINGS, que consegue soar como todas as músicas ao mesmo tempo sem ser questionável.

Durante uma hora ou mais, eu e Mike conversamos sobre o estado do rock, como é chamar um verso de Rakim, e como lidar com o fato de que um dia, você pode acordar e perceber que você é um rockstar e alguns de seus fãs são uns idiotas e você tem que aprender a amá-los.

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Fonte: Noisey

Noisey: As músicas já têm nomes?
MS: essa coisa de nomes é difícil para nós, especialmente títulos de álbuns. Esse foi mais fácil do que a maioria dos outros; nós pensamos e discutimos sobre ele. Nós nunca aparecemos com um nome para o álbum antes que ele esteja pronto.

Noisey: É difícil colocar uma coisa tão abstrata, como um álbum, em, tipo, três palavras.
MS: Nós temos conceitos por trás do disco, mas muitas vezes eles têm muitos significados. O título de álbum mais fácil foi o A Thousand Suns, que veio de uma citação do Oppenheimer. Ele disse isso após terem detonado a bomba, e isso é tipo de coisa sobre a qual o álbum fala.

Noisey: Me fale sobre Rakim.
MS: Não há atalhos. Quando ele escreveu a música, ele me disse que levaria um tempo; levou cerca de uma semana e meia. Em certo ponto ele disse “eu tenho 16 versos, mas quero mais. Pode ser 24?” e ele dirigiu – ele não viaja de avião – da Costa Leste para Los Angeles, marcou alguns shows no caminho, cancelou os shows, e então basicamente chegou e gravou a música. Ele ainda estava escrevendo no fim de semana antes de vir, e ainda estava até editando a música no papel. Não estava no telefone nem no laptop dele, ele estava lá sentado na mesa de jantar do estúdio ainda trabalhando na música.

Noisey: Você acha que aprendeu algo com ele?
MS: Sempre que estou no estúdio com qualquer pessoa, eu tento encontrar o que eu posso aprender com ela. O que eu aprendi do seu estilo foi a apreciar a diferença entre escrever de uma maneira livre – como caras como Jay Z e Kayne que improvisam e associam no microfone – e Rakim é o oposto. Ele gasta muito tempo aperfeiçoando o verso. O verso dele é quase o equivalente rap de um distorcido solo de guitarra, que você escuta e não pode nem dizer quais são as notas porque é muito louco. Quando você lê a letra você pode acompanhar e ver como a rima foi construída. O padrão de rima é constantemente estabelecido, deixado  de lado e reestabelecido. Esse foi o despertar – essa forma de escrever é totalmente infinita. Apesar de ser um pouquinho complexa e um pouquinho indigesta para as pessoas no pop moderno, quando você ouve ela bem feita, ela ainda ressoa. Existem pessoas que fazem coisas complexas e isso ainda não toca você,  porque elas só estão fazendo isso para que seja complexo. Mas o verso de Rakim é sobre tocar uma conexão emocional.

Noisey: Você ainda tem o papel que ele escreveu?
MS: Ele levou o papel. Nós não pudemos nem tirar uma foto. Ele pegou, colocou no bolso de sua jaqueta e saiu com ele. Eu senti como se aquilo fosse parte da rotina dele; como que ele nunca deixaria aquilo largado por aí. Ele provavelmente tem uma pasta com papéis como esse, ou então ele vai imediatamente pra casa e os queima.

Noisey: O que você acha do rock de hoje em dia?
MS: Existe muita música por aí; tem tanta coisa que parece o Haim, CHVRCHES ou Vampire Weekend; já deu. A minha vontade não é de fazer isso. Eu ligo na rádio de rock em Los Angeles e parece um comercial de música da Disney. Eu fico confuso. O cara do Foster the People era literalmente um compositor de jingles. Sem ofensas, mas para mim, fazer isso nunca esteve nos meus planos. Dei um passo para trás e pensei “O que é que eu quero ouvir e que ninguém mais está fazendo, e no que somos unicamente posicionados para fazer?”. Jogamos nossas demos fora, conversei com os caras e perguntei se eles queriam conversar com a versão de 15 anos de idade deles. Não para fazer música para adolescentes de 15 anos – existe bastante gente que faz música por que ela vai ser popular entre os adolescentes, mas não é isso que estamos fazendo. Falei para o nosso guitarrista Brad: “Se o adolescente que você era aos 15 anos escutasse o que você faz hoje, você teria orgulho? Ou ele diria ‘Esse cara é uma bixinha’?” Por que ele estava ouvindo Metallica e bandas mais pesadas naquela época. Eu falei “escreva uma música que faça aquele garoto querer tocar guitarra.” Então é isso que acabamos fazendo. Queríamos impressionar nossos lados adolescentes. Quando eu tinha aquela idade, eu ouvia Public Enemy, N.W.A e Rakim. Quando eu entrei no rock, era Metallica e Alice in Chains. A coisa do new metal e do rock alternativo veio das pessoas aprendendo com outras bandas, mas elas nunca tocavam em rádios de rock. Se você me perguntasse há 5 anos atrás, eu estava obcecado com indie rock. Muitos artistas tinham uma mentalidade de “esse é o meu cenário e essa é a minha música, é por isso que to fazendo isso”. Mas isso se tornou o pop. Não é indie, é comercial.

Noisey: Eu sinto que “indie”se tornou um termo estético, mas do que qualquer outra coisa.
MS: Isso é estúpido. Isso é muito idiota. É a mesma coisa que aconteceu com o “alternativo”. Alternativo do que, entende? Se tornou pop. O alternativo para o alternativo era, tipo, new metal. O que, novamente, se tornou idiota. Todas essas cenas… Eu não sei, cara. Chega um ponto que que as pessoas estão tocando coisas iguais e isso só humilha a cena inteira. Se tornou estranho.

Noisey: Pra mim, o Linkin Park sempre existiu como um exemplo do que uma banda de rock famosa pode fazer para chegar ao limite.
MS: Isso foi muito legal, muito obrigado. Espero que você não esteja dizendo isso só porque você sabe que era isso que eu queria ouvir.

Noisey: Pra falar a verdade, eu achei que você ficaria bravo por eu dizer que vocês são famosos. As pessoas são estranhas quanto a isso.
MS: Nós estamos tranquilos com o fato de que podemos ir a vários países fazer shows e as pessoas vão nos assistir, mas também com o fato de que é assim que somos vistos. Eu lutaria contra isso antes, quando estávamos ficando maiores, tipo “não, nós não queremos ser vistos como uma banda popular, foda-se isso”. Mas eu realmente acho que existe uma diferença entre ser acessível e popular e ser pop, ou como quer que você queira chamar isso. Ë mais sobre intenção, se você está falando sobre estética ou como arranjar um cenário ou com o que seu vídeo se parece, essas coisas. Nosso limite de busca por deixar isso de lado e fazer algo que seja interessante para nós e ao mesmo tempo desafiar os fãs é muito alto. Dois álbuns atrás, quando lançamos o A Thousand Suns, nós sabíamos que seria um álbum totalmente polarizador. Antes que tivéssemos deixado qualquer pessoa escutá-lo, nós estávamos tipo “porra, nós estamos 100% certos de que queremos desagradar todas essas pessoas?”. Porque algumas pessoas estariam tipo “é isso, chega, foda-se essa banda, eles não estão mais fazendo música pra mim, porque tudo o que eu quero ouvir são guitarras pesadas e não há guitarra nesse álbum. Eles estão cantando sobre as doenças do mundo e tem um monte de beeps eletrônicos, fodam-se esses caras”. Eu ouvi uma grande citação de Nas naquela época. Ele disse que de vez em quando ele gosta de fazer um projeto pra espantar seus fãs pop. Para realmente se livrar deles. Se você é um ouvinte casual do  Nas, em um certo ponto ele vai te dizer que você não é bem vindo na festa dele. Eu amei isso, eu achei muito legal.

Noisey: Essa é uma boa forma de pensar em como operar na esfera da popularidade.
MS: E apenas música moderna.

Noisey: Quantas pessoas já ouviram o álbum até agora?
MS: O álbum inteiro? Não muitas. Neste momento nosso empresário está voando por aí com um sampler de cinco faixas e mostrando para jornalistas e para nossa gravadora, porque eles precisam saber o que está à caminho. O álbum sai neste verão [americano], e nós precisamos que todos saibam com o que eles estão trabalhando. O que significa dizer que um pouco disso será um desafio. Isto será difícil de se vender nas rádios de rock, e eu sabia que seria. A rádio é muito poderosa para vender álbuns – no final das contas eu sou um artista, mas eu não sou estúpido e eu sei a fim de ser capaz de manter esta dinâmica disso que estamos em curso, precisamos realizar até certo ponto.

Noisey: Eu acho que é a melhor estratégia.
MS: O jeito que nós tratamos isso é tipo, “Nós vivemos e respiramos isso. Se isto falhar, você vai pra casa e tem o seu trabalho, mas nós não.” Nós também vamos até os nossos fãs e tentamos fazê-los ver o nosso ponto de vista. Neste álbum nosso primeiro single é agressivo, tem seis minutos, e as rádios não tocam nada além de três minutos e meio. Rádios pop não tocam nada que tem mais de três minutos, eles também não tocam nada com guitarras agressivas, definitivamente não tocam nada que tenham gritos. Existem muitas regras. E ao menos que você seja Rihanna e Nicki Minaj e Lady Gaga, eles não vão tocar nada desse tipo – eles precisam ser um sucesso em outro lugar. É só com o time que está vencendo. E da minha perspectiva, eu não posso viver nesse mundo. São negócios, faça o que você tem que fazer, mas esse mundo é estrangeiro pra mim. Quando eu faço uma música, eu não faço cálculos. Acho que esse é o ponto que eu estou tentando atravessar, como eu aprendo a ser um melhor compositor, melhor produtor, o que quer que seja.

Noisey: Como você compete contra as fábricas de músicas pop?
MS: Cara, isso é louco. O que funcionou para nós no passado é manter nossas armas no que nossa visão criativa é, gastar muito tempo nisso e criar algo. Neste álbum nós gastamos seis meses no estúdio, provavelmente mais seis meses fora dele, apenas vindo com as demos e jogando elas fora. Em contraste a isso, tem um artista pop que eu não vou nomeá-lo que estava no estúdio enquanto estávamos gravando nosso álbum – eles apareceram por três dias. Um dia apareceram por três minutos, no segundo apareceram por quinze, no terceiro eles negligenciaram tudo. A música estava pronta.

Noisey: Como foi quando a sua tocou pela primeira vez?
MS: Quando nós escutamos a música na rádio, aquele foi O Momento. Quando você escuta sua música na sua rádio local. Para nósso vocalista Chester, isso foi no Arizona. Nós estávamos em nossa primeira turnê em um RV alugado. Eu estava dirigindo, e nós fomos para a casa dos pais dele enquanto ouvíamos a rádio. O DJ falou sobre o cara de sua cidade natal, sua música veio e nós fomos À LOUCURA! Chester correu para a sua casa gritando e foi tipo “Pai! Ligue o rádio!” Nós estávamos no carro pulando e celebrando muito. Alguns dias depois nós estávamos de volta em L.A. e a mesma coisa aconteceu com a minha rádio local. O Stryker estáva na rádio por um ou dois anos, e ele tocou no bloco ‘New Music’ no meio do dia. Descobri que ele mesmo que escolheu. Eu estava no banheiro em meu apartamento, daqueles apartamentos de dois quartos que eu compartilhava com dois outros caras, manchas de cerveja e merda por todo o lugar.

Noisey: Alguém estava dormindo no sofá?
MS:
Era literalmente dois caras em um cômodo e eu no outro. Eu paguei um pouco mais, então eu tinha uma sala só minha. Era $800 pelo apartamento. Nós não vivíamos em um lugar grande. Mas tem um momento que eu vou mencionar, talvez seis ou doze meses depois, eu me lembro de um de nossos shows. Nós estávamos em um local para 1,200 pessoas, e me lembro que eu estava olhando para a platéia e pensando, “Merda, duas das pessoas que estão ouvindo esta música agora são meio babacas.” Sem falar mal de nossos fãs porque eu amo nossos fãs, mas eu vi algumas pessoas no meio da platéia que eu sabia que eu nunca sairia com eles. Eu não sabia o que isso significava, mas eu apenas sabia disso. Nós conseguimos mais pessoas do que gostavam de mim. Foi um momento do tipo, o que você faz? Você apenas vai e faz? Como você se comunica com essa nova base de fãs? Nós tentamos ser realmente responsáveis sobre isso, sempre deixando os fãs cientes de quem estava lá há muito tempo nós ainda apreciamos sua dedicação, que eles foram os primeiros. Mas nós também queremos que os fãs casuais saibam que não é ruim ser um fã casual.