Linkin Park fala para Folha de São Paulo

A jornalista Carol Nogueira entrevistou o Linkin Park e nessa sexta foi publicada na Ilustrada. Leia:

Banda Linkin Park tenta recuperar público jovem com ‘disco barulhento’

Há dez anos, era impossível sintonizar uma estação de rádio e não escutar uma música do Linkin Park. A banda, expoente do chamado “nu metal”, estava em todo lugar, teve vários hits, como “In the End”, “Somewhere I Belong”, “Numb”, entre outros, e emplacou música até em trilha sonora de novela no Brasil (“Faint”, em “Mulheres Apaixonadas”, de 2003). Mas não é mais assim há algum tempo.

A moda do “nu metal” passou, o rock deixou de ser a música favorita dos adolescentes e o grupo se viu obrigado a transformar sua sonoridade para continuar relevante. Contrataram, então, o famoso produtor Rick Rubin e seguiram experimentando com música eletrônica, rap e rock industrial nos três discos seguintes, “Minutes to Midnight” (2007), “A Thousand Suns” (2010) e “Living Things” (2012).

Os três tiveram sucesso moderado com a crítica, mas compensaram nas vendas: 15 milhões de cópias no primeiro, 1.7 milhão no segundo e 2.5 milhões no terceiro. Apesar disso, decidiram virar o jogo novamente com o disco que lançam em 17 de junho deste ano, “The Hunting Party”.

“Quando começo o processo de gravação de um novo álbum, eu só penso no que eu gostaria de ouvir que não está sendo feito agora, e tento fazer isso. Nosso novo disco é barulhento e visceral, e eu não vejo nada assim sendo produzido na música pop hoje em dia. A gravadora nos falou que vamos ter de encontrar meios diferentes de divulgar esse disco, porque o rádio não está apoiando o rock agora“, diz Mike Shinoda, vocalista e guitarrista da banda.

Uma das maneiras encontradas pela banda para divulgar o novo disco foi enfrentar uma longa maratona de entrevistas para jornais e revistas internacionais, que durou dois dias inteiros, em um hotel de Los Angeles (EUA), onde a Folha encontrou Shinoda e o baixista Dave Farrell, mais conhecido como Phoenix.

Shinoda diz que não é fácil estar em uma banda de rock hoje em dia, porque as únicas músicas que têm feito sucesso entre os jovens são EDM (eletrônica) e hip-hop. “É mais fácil produzir esse tipo de música do que rock, porque só é preciso uma pessoa e um laptop e muito menos tempo. Em turnê, o cara de EDM pode tocar sozinho com seu laptop e pode até estar doente – o que seria impossível para o vocalista de uma banda de rock“, argumenta.

Ele diz que essa agilidade no processo de composição atual também prejudica o amadurecimento de bandas novas. “Os grupos que surgem agora são verdes demais e usam muito playback. Nós também usamos um pouco, mas tentamos tocar o máximo de coisa ao vivo possível”.
Apesar de os novos tempos prejudicarem bandas como o Linkin Park, Shinoda diz que não deixa de gostar de música eletrônica – na verdade, ele até teve participação de um dos maiores hits recentes do gênero, a música “Wake Me Up”, do DJ Avicii.

“O conheci através do DJ Steve Aoki e ele me mostrou essa mistura de eletrônica com folk que estava fazendo. Eu curti, e ele me disse então que estava procurando um cantor para uma das músicas. Foi aí que indiquei Aloe Blacc, e eles acabaram escrevendo “Wake Me Up”. Então, se você ama essa música, fico feliz de ter sido parte dela, se você odeia, então me desculpe (risos).”

RAIVA CONCENTRADA

Os integrantes do grupo dizem que o título e a temática das canções vieram quando eles decidiram expor a raiva que têm como adultos, e não mais como adolescentes. “Mike tinha lido um artigo que falava que o Japão estava preocupado com o aumento dos rapazes ‘herbívoros’, caras que não querem mais fazer sexo e são super passivos“, conta Phoenix.

“Fiquei com a ideia na cabeça e comecei a comparar com o fato de o rock também ter se tornado passivo, e quis fazer o oposto disso, expor a nossa agressividade, falar sobre temas que nos deixam com raiva agora“, afirma Shinoda. “Quando começamos a banda, nossas músicas eram muito egocêntricas. É normal ser assim quando você é mais novo“, compara.

O grupo diz ter se concentrado, então, na raiva que têm de problemas na sociedade, como o tráfico de pessoas e a escravidão. “Eu tenho filhas pequenas, só o fato de pensar que isso ainda existe me deixa puto“, diz Phoenix.

Para ajudar no processo de composição e gravação do álbum, o grupo decidiu colaborar com artistas que admiravam na época que formaram o Linkin Park, como o guitarrista da banda System of a Down, Daron Malakian, que participa da música “Rebellion”. “Sempre curtimos muito o trabalho dele. A banda toda é muito talentosa“, diz Shinoda.

Há ainda uma música com o rapper Rakim, de quem Shinoda é fã. “Ele é um dos meus compositores favoritos e só ver ele trabalhando já foi ótimo. Ele faz coisas que rappers menos experientes não conseguem fazer, cria padrões de rima muito complexos. É o oposto de Jay-Z, que não escreve nada e deixa tudo vir naturalmente à cabeça“, diz.

Este é o primeiro disco do Linkin Park produzido exclusivamente por Shinoda. “Foi uma evolução natural do nosso processo de gravação. Nos últimos três discos, quando trabalhamos com Rick Rubin, ele não colocava a mão na massa e mal aparecia no estúdio. Mas a gente não ligava, gostávamos porque isso nos liberava para fazer o que queríamos”, diz.

Se o grupo deve mostrar esse disco no Brasil? Provavelmente. “Adoramos o Brasil, já fomos várias vezes para lá e todas foram incríveis“, diz Shinoda.

Via Folha