Mike e Chester falam sobre a composição do álbum “One More Light”

Há um mesa coberta com muitos pratos servidos com frutas e vegetais na sala ao lado a do estúdio. Alguns anos atrás, Chester havia dito à seus fãs que era em momentos assim que ele achava o estúdio “classudo pra caralho” e, até agora ele não parece estar errado sobre isso.

Assim que a banda terminou o chat e agradeceu seus fãs pelo apoio à banda, Chester ainda provocou dizendo : “Da próxima nós explicaremos o porquê tudo é tão pesado” – uma referência à pergunta presente na música ‘Heavy’. Bom, agora parece uma boa hora para uma explicação.

“Eu nunca me sinto confortável ou satisfeito, então as coisas que deixam tudo muito pesado para mim são meus pensamentos e comportamentos que me colocam em ciclos de negatividade ou abuso de substâncias”, alega Chester, puxando uma cadeira e adquirindo uma intensidade maior. “Há uma vizinhança muito ruim dentro do meu crânio e eu realmente não deveria andar sozinho por lá. Antes eu fechava meus olhos, pegava um facão e começava a cortar tudo. Isso funcionou durante um bom tempo, mas ao fazer isso, você não sabe de fato onde está indo e não sabe também o que está cortando. Agora eu observo a área que quero ir, encontro os lugares mais produtivos para se chegar lá e trabalho com o máximo de pessoas que puder para andar em um caminho mais claro”.

No caso de ‘Heavy’, que incluiu seus cinco companheiros de banda e também os compositores Julia Michaels e Justin Tranter.

“Quando estamos escrevendo uma música, estamos falando sobre essas coisas dentro de nossas perspectivas”, diz Mike. “Para mim, é a ideia de que quando está chovendo, na verdade está chovendo muito e parece que há muitas coisas te estressando.” Parece que ele estava quase usando um sentido literal nessa situação, já que mencionou algo sobre um vazamento em sua casa que destruiu sua cozinha: “Agora eu consigo rir”.

“Todos nós passamos por coisas difíceis”, adiciona Chester, “Cem por cento das pessoas passam por essas merdas também”.

Com tantas perspectivas, como vocês consolidam os pensamentos de seis pessoas – artistas, maridos, pais e, no caso de Chester, um ex-viciado – em um único sentimento? não é muito difícil”, diz Mike, e de fato “representa o jeito mais puro de comunicação”, citando a música, em particular, como exemplo disso. Embora admita que ‘Heavy’ seja a faixa principal levando-se em conta a vibe do álbum, a faixa ‘One More Light’ é, como ele mesmo diz, o coração do novo trabalho.

“Tinhamos uma amiga que trabalhou conosco durante um longo tempo. Ela começou a trabalhar nas rádios e basicamente nos levava nas estações para nos promover. Foi então que no ano passado descobri que ela estava com câncer e depois do nada havia falecido. Nós sabíamos que teríamos de escrever sobre o que aconteceu”.

“É uma música triste”, acrescenta ele, “mas o que se pode aprender é que quando algo dramático e doloroso como isso acontece, a coisa mais importante a se fazer é estar perto das pessoas que você ama e lembra-los que você se importa com eles”.

“É tão legal sentar em uma sala e falar sobre sua vida com seus amigos”, reflete Chester, instintivamente pensando em seus companheiros de banda, que ele revela terem falado sobre seus sonhos e ansiedades. “Não é coisas sobre o tempo ou o que comemos no dia anterior, mas realmente entender o que está acontecendo com cada um.”, com Mike fazendo uma lista sobre coisas desagradáveis. O próprio Chester quis se focar mais na paternidade, o que gerou a faixa ‘Invisible’.

Então quais são os outros objetivos desse novo álbum?
“Para todos aqueles que são familiarizados com a banda, vocês sabem que estamos em busca de coisas que são mais empolgantes e desafiadoras para nós”, diz Mike, “estamos procurando por coisas que não conhecemos e queremos aprender a respeito”.

Mas o que exatamente eles queriam aprender nesse ponto? Aprender a como suceder o ‘The Hunting Party’ – o álbum mais pesado da carreira deles – com algo diferente parece ser o fator chave. Mike diz que “O foco foi invertido e representou isso como um descendente do metal e do rap hardcore que cresceram ouvindo” com uma “visão mais superficial”. Parece que nem eles próprios têm certeza da resposta.

“Estou pasmo que esse álbum tenha vindo após o THP”, ele ri. “Naquele sabíamos exatamente o que estávamos fazendo quando o lançamos e acabou sendo exatamente como pensávamos. Voltar para casa e fazer esse álbum foi loucura”.

Dizendo que ‘loucura’ sugere algo que foi feito de forma muito rápida, o que não é verdade, uma vez que esta não foi a maior pausa entre um álbum e outro (como entre Meteora – 2003 e Minutes To Midnight 2007). Levando-se em conta que o THP foi lançado no começo de abril de 2014 e este novo álbum sairá no dia 19 de maio de 2017, cabe a nós, perguntar o que levou mais tempo para fazer.

“Estávamos aprendendo uma nova forma de composição”, diz Mike. A nova abordagem da banda consistia em encontrar as letras e melodias antes de começar a trabalhar de fato na parte instrumental. “No começo estávamos escrevendo coisas bem animadoras, mas quanto mais escrevíamos, melhores essas coisas ficavam e acabávamos descartando materiais anteriores, o que nos forçava continuar compondo até que realmente encontrássemos o que estávamos procurando. Houve um momento em que realmente diminuímos o ritmo pois estávamos gostando muito do resultado e não queríamos apressar as coisas”.

É uma jornada que a banda permitiu aos fãs que experimentassem o que estavam fazendo. Não só ao lançar a letra de ‘Heavy’ antes da própria música, para que os fãs absorvessem as palavras e imaginassem como a música seria, mas também ao lançar vídeos que revelaram aos poucos o resultado final.

“Os vídeos eram uma forma de trazer as pessoas até o processo criativo”, diz Mike. “Eles foram montados de uma forma para replicar o processo de se fazer música. Então você começa com ideias, algumas palavras e um pouco de melodia e pode nos ver tentando entender como cantá-la e encaixar as melhores palavras. Acho que as letras é o que fornece a sustentação”, acrescenta Chester.

“Queríamos algo nutritivo e não algo que parecia com doce, como na música ‘Blue’ do Eiffel 65”, naturalmente, ele começa a cantar a música com toda sua potência vocal.

“As coisas podem ser pop, mas ainda terem muita substância”, adiciona Chester, “É nisso que apostamos”.

Mas perguntamos, em nome dos fãs do antigo Linkin Park, o que você diria para acalmar os que anseiam algo um pouco mais visceral?
Mike solta uma risada. “Acho que sei onde você quer chegar”

Fonte: Kerrang Magazine