Chester Bennington ajudou a desafiar e redefinir os limites do rock e do metal

Como um dos vocalistas do Linkin Park, durante 18 anos, Chester Bennington ajudou a desafiar e redefinir os limites do rock e do metal. E agora, ele se foi… O editor da Kerrang! Sam Core deixa nosso tributo à voz perdida de uma geração.

Chester Bennington era o tipo de pessoa que, quando começava a falar, não conseguia se segurar em suas palavras.

E simplesmente não teria outro modo. Chester Bennington conversava não só com sua boca, mas também com seus olhos, braços e pernas. Chester se comunicava usando palavras e todo seu corpo (e qualquer outro objeto que estivesse perto dele). Mas, principalmente, quando Chester falava, ele não o fazia como um rockstar com mais de 70 milhões de álbuns vendidos, mas sim com um cara normal, pé no chão vindo de Arizona que simplesmente estava vivendo os sonhos pelos quais lutou todos os dias.

Em outubro de 2014, a Kerrang! Sentou em uma mesa no jardim do extravagante e lendário Hotel Sunset Marquis no leste de Hollywood, Los Angeles. Mike Shinoda, a pessoa que Chester descrevia como seu ‘irmão’, era o único presente. Do outro lado da mesa, uma cadeira vazia esperava pelo então vocalista de 38 anos de idade, que tinha ficado preso no trânsito de LA, que estava tão pesado quanto a neblina que pairava sobre a cidade. Quando Chester finalmente chegou, se desculpou profunda e continuadamente, como se ele estivesse atrasado há uma hora, quando na verdade estava há apenas oito minutos fora do combinado.

O Chester Bennington que conheci naquele dia, como em situações anteriores, era caloroso, espirituoso e encantador ao ponto atrativo. Durante duas horas, ele falou sobre sua vida – como companheiro de banda, filho, pai, marido – deixando a Kerrang!, Mike Shinoda e qualquer outra pessoa ali presente em ataques regulares de risos. Ele fazia com que você quisesse que ele nunca parasse de falar. Às vezes, naquela noite em particular, eu me perguntava se ele iria parar. Foi então que ele finalmente encerrou a conversa em frente à mesa e disse que precisava ir a um compromisso de família. Ele só foi embora depois de se oferecer para continuarmos a conversa no dia seguinte. Ele era o mais gracioso e humilde homem-rockstar (ou vice-versa).

Mas ele é, com certeza, muito mais do que isso para milhões de pessoas ao redor do mundo, por um bom tempo. Seu falecimento na última manhã de quinta-feira, dia 20 de julho, de suicídio em sua casa em Los Angeles, aos 41 anos, deixa uma lacuna. Uma das vozes mais icônicas e poderosas. Deixa a música privada de um líder carismático – um showman – que podia fazer mesmo a maior plateia do mundo se sentir intimidada, como se cada palavra e nota fosse para você e somente para você. Deixa, aqueles mais próximos a ele, sem um marido, pai, filho, companheiro de banda e amigo. Deixa o mundo inteiro com uma perda original.

Chester Charles Bennington nasceu em 20 de março de 1976, em Phoenix, Arizona. O mais novo de quatro irmãos, sua mãe, Susan, era enfermeira e seu pai Lee, era detetive policial. A família se mudou muito dentro do próprio estado. Mais tarde, após ter ficado famoso, Chester revelou que, aos sete anos de idade, ele foi vítima de abuso sexual de um cara mais velho durante seis anos, mas que ficou com ele durante um bom tempo. Seus pais se divorciaram quando Chester tinha 11 anos, deixando-o sob custódia do pai, mas como se ele não tivesse ninguém no mundo. “Abandonado” por sua mãe e incapaz de se conectar com seu pai emocionalmente instável, cuja atenção e tempo foram consumidos pelo trabalho, Chester se retirou para si mesmo. Enquanto estava “jogado por aí, como um boneco de pano” na Greenway High School, onde tinha mostrado talento para esportes, em seu quarto ele encontrou conforto nos desenhos, poesia e, logo, na música.

Ele aprendeu piano, encontrou pessoas para idolatrar como Depeche Mode, Led Zeppelin e Stone Temple Pilots e logo começou suas primeiras investidas na música, com sua banda Grey Daze.

Ainda enquanto seus companheiros de banda deram ao jovem e solitário rapaz “a primeira vez que senti uma conexão com alguém”. Isso também fez com que tivesse relações não saudáveis com álcool e drogas. Chester bloqueava seus traumas emocionais ao usar uma mistura de LSD, maconha, cocaína e anfetaminas. Havia noites que ele simplesmente bebia e apagava. Aos 17 anos, quando voltou a morar com sua mãe, ela ficou tão chocada com a aparência de seu filho, que ela o trancou em casa tentando salvá-lo dele mesmo.

Nos anos seguintes, Chester levou o Grey Daze ao sucesso em Phoenix, alternando turnos no Burger King local com ensaios e shows. Ele conheceu sua primeira esposa, Samantha, em uma época quando “tudo o que tinha ficava guardado em um caixa de leite: Eu tinha um colchão e um skate, e era assim que sobrevivia”. O casal se casou em 1996, mas o fracasso do Grey Daze fez com que o passo seguinte para o estrelato tivesse aparentemente acabado quando ele tinha 22 anos. Ainda assim, com muito de seus vícios sobre controle, ele encontrou um emprego, estava segurando a hipoteca de duas casas e frequentando aulas de negócios escondido na Universidade do Estado do Arizona. “Eu tinha desistido da música”, disse Chester. “Música era uma namorada com quem eu havia terminado.” Mesmo assim, sua vez chegaria. Foi então que, em 1999, em seu aniversário de 23 anos, um conhecido da música mostrou a fita demo de uma banda de Los Angeles, que tinha o nome de Xero, apesar dos julgamentos iniciais de que eles “seriam apenas outra banda”, Chester ouviu o bastante para “Olhar para Samantha e dizer: É essa aqui”.

Único problema: A Xero não estava muito certa para ele, então quando Chester viajou quase 400 milhas para Los Angeles alguns dias depois, ele ficou surpreso que o tapete vermelho que estava esperando rolar quando ele chegasse lá não existia. Ao invés disso, ele se viu ao final de uma fila para uma audição. Pior que isso, o candidato magrelo e quatro olhos não estava só ostentando um corte ‘sensível’, como também uma camiseta de boliche de seda, que a equipe que o contratou quase implorou para que ele a mudasse.

Por tudo isso, os futuros colegas de banda de Chester ouviram uma voz que ecoaria por arenas no mundo todo. O temperamento do líder – “Chester era bem extremo antigamente,” Mike conta a K! – isso se refletia num vocal que em um momento era suave e sensual, e no próximo era totalmente oposto. “O talento dele se destacou de imediato,” disse Mike. “Seria impossível estar com o Chester e não se deslumbrar com seu talento nato.”

Xero teve algumas músicas; Chester, por outro lado, tinha sua poesia e suas letras. Ao mudar o nome pra Hybrid Theory, eles trabalharam no material, fizeram demonstrações, espalharam a notícia, na esperança de que a grande oportunidade viria. A determinação do vocalista era tanta que para fazer sucesso com sua nova performance, ele dormia no carro, no chão dos estúdios de ensaio, e quando sua sorte era grande, conseguia um sofá. “Eu ficava animado de estar com os caras e fazer as coisas”, dizia Chester na época. “Desde o primeiro dia nunca ficou chato; sempre era interessante e empolgante.”

Só isso foi o suficiente para Chester decidir que não tinha volta. A cidade de Phoenix estava pra trás; o Hybrid Theory daria certo, fizesse chuva ou sol.

“Todos nós fizemos sacrifícios, mas o do Chester foi único”, disse Brad a Rolling Stones em 2002.

“Como ele tinha muito a arriscar, ele estava extremamente motivado”. Ele dizia “Gente, eu acho que não estamos trabalhando o suficiente.”

“Chester sempre quis dar 100% dele em tudo”, Mike falava sobre seu amigo. “Eu podia tentar ficar no caminho dele, mas ele simplesmente passava por mim.”

Milhares de palavras, nos últimos 17 anos, foram dedicadas ao que aconteceria a seguir. O Hybrid Theory pode ter sido encerrado ao mudarem o nome para Linkin Park, mas aquelas palavras, mesmo assim, deixariam uma marca permanente no rock e metal da mesma forma. Até hoje, o álbum de estreia da banda, lançado em 24 de outubro de 2000 vendeu 30 milhões de cópias no mundo todo. E é até hoje considerado o álbum de estreia que mais vendeu no século 21.

A sua fusão de rap e hip hop com rock e metal pode não ter sido inovadora – Korn, Deftones e Limp Bizkit foram precursores num caminho que o Linkin Park seguiu – mas ainda assim se eternizou quando o mainstream aderiu ao rock, talvez de forma nunca vista antes; quando um videoclipe bem produzido (no qual Hybrid Theory possui cinco, ainda que agora um pouco ultrapassados), ou um single promocional bem escolhido poderiam fazer uma carreira. Dada essa oportunidade, o Hybrid Theory foi um álbum de metal que escorreu na porta de entrada do mainstream, se misturou no seu chá, e observou aqueles que tomaram um gole, logo vestir casacos grandes, jeans ainda maiores e correntes de metal. Ele oferecia uma sensibilidade pop que faltava no Korn; uma conexão emocional com a qual o Limp Bizkit nunca se deu bem, e uma entrada de boas vindas onde o slogan “People = Shit” que o Slipknot berrava de portas fechadas. Com o seu lançamento, uma nova geração de fãs de metal foi criada, exposta e bem vinda ao nosso mundo, e artistas que posteriormente tocariam em bandas como Bring Me The Horizon, Beartooth, Neck Deep, Bury Tomorrow, Architects, Of Mice & Men e tantas outras nasceram logo depois. Uma década depois, eles tocaram o álbum inteiro no Download Festival; na multidão, milhares de pessoas, de todos os tipos, que nunca estariam no festival se não fosse por aqueles 37 minutos e 45 segundos de música.

“O Hybrid Theory mudou tudo para nós”, disse Chester em 2014. “Para mim, parecia uma justificativa para todo o tempo que passei no Arizona fazendo música que não era boa, para alguém em Los Angeles dizer aos caras da banda ‘oh, eu conheço um cantor no Arizona, vocês deveriam trabalhar com ele’ Eu realmente devo muito ao que fizemos como banda desde aquela época, e por qualquer razão, às tentativas e sofrimento que passamos ao fazer daquele álbum um sucesso.”

“Conforme nossa carreira seguiu, a importância dela para as pessoas é algo que ouvi cada vez com mais frequência,” Chester disse nas vésperas do festival, enquanto conversávamos com Oli Sykes do Bring Me The Horizon para a história de capa da Kerrang! “Pessoas que ouviam o Hybrid Theory quando eram crianças e agora dizem ‘sua banda é o motivo de eu ter entrado para a música,” ou ‘suas músicas falam comigo de modo que ninguém mais faz.’ E é muito legal ouvir como sua música afetou suas vidas; como um fã de pouca idade vai ao show e pensa ‘é isso que quero fazer…'”

Enquanto o mundo se movia numa velocidade rápida para descobrir quem o Linkin Park era, através das letras de música que o enigma de Chester se revelaria aos poucos – uma charada complicada e abstrata que começou no Hybrid Theory e continuou durante sua vida na banda. Enquanto no começo da banda ele desenvolveu uma reputação de observador resguardado, defensivo e até agitado – “Chester com certeza amoleceu durante os anos,” Mike ria em 2014 – nos álbuns ele se abria. Ao falar com a Spin em 2009, Chester explicou sua composição musical, “eu fui capaz de acessar todas as coisas negativas que aconteceram comigo durante minha vida ao anestesiar minha dor, e passar isso pra minha música”.

Só o Hybrid Theory tocou temas como depressão, paranoia, ansiedade e abuso. Em Papercut, a música favorita de Chester nesse CD, e a que ele acha que mais resume a banda, ele fala sobre “um turbilhão dentro da minha cabeça” e a incapacidade dele de “parar o que ele ouve lá dentro”. Crawling, enquanto isso, que concedeu a banda o primeiro de seus dois GRAMMYs, “era sobre sentir que eu não tinha controle sobre mim mesmo se tratando de álcool e drogas”. O Meteora, de 2003, abordou temas de amor, solidão e perda.

Porém, mais inspiração musical estava por vir. “Quando eu não estou fazendo nada, e aí que me sinto mais fora de controle, e… É aí que as coisas ficam estranhas,” Chester disse posteriormente. E quando deram um tempo após o lançamento de Collision Course em 2004, com participação de Jay-Z, tempo é exatamente o que ele encontrou. O divórcio de sua esposa Samantha, unido a carga de trabalho que aguentou durante os anos, fizeram um estrago, fazendo com que procurasse refúgio nas bebidas. Depois de casar novamente em 2005, sua nova esposa Talinda e a intervenção de seus companheiros de banda o forçaram a encarar “a escolha entre parar de beber ou morrer”.

Mais para frente ele disse que esse período foi um dos piores de sua vida. “Cheguei ao fundo do poço,” ele escreveu nas letras de My Suffering, parte do seu projeto paralelo Dead By Sunrise em 2009, “e eu não sei mais no que acreditar”.

“Aquele álbum era um diário lírico do que eu estava passando” disse ele a Kerrang! no mesmo ano. “Seja me apaixonando ou me destruindo”.

“Com o Minutes To Midnight, de 2007, ficamos por 18 meses reinventando a banda, reaprendendo quem éramos e em álbum nível, nos tornando amigos pela primeira vez, especialmente com Chester,” Mike Shinoda disse em 2014. “Ele estava mudando tanto naquela época, ficando sóbrio, divorciado, e ele era uma pessoa completamente nova. Isso variava bastante, mas era demais ver acontecendo. Eu sei que foi um momento em que todos percebemos quão incrível era o que ele estava fazendo. Eu via ele gastar tanta energia com a banda. E aí eu o vi gastar o tempo e energia nele mesmo, ajeitando sua vida.”

Os anos posteriores, para Chester e a banda, seriam marcados por transformações. Enquanto o Linkin Park aderia a um modus-operandi diferente, com experimentação em som, mudando de nu-metal, rock alternativo, eletro, industrial e hard rock em A Thousand Suns (2010), Living Things (2012) e The Hunting Party (2014), Chester pareceu encontrar a maturidade, a estabilidade e o contentamento que há tanto tempo procurava. Ele virou pai novamente três vezes, incluindo suas filhas gêmeas em 2011, com a paternidade continuando a ser fonte de alegria em sua vida. Seu bom amigo Chris Cornell, que completaria 53 anos de idade no dia em que Chester faleceu, o convidou para ser padrinho de seu filho Christopher, nascido em 2005.

Ele também explorou o cinema ao atuar na série de filmes Adrenalina, em 2006 e 2009, e em Jogos Mortais 3D: O Final. Os seus compromissos envolvendo caridade aumentaram. E, em 18 de maio de 2013, ele realizou um sonho de criança ao se tornar vocalista do Stone Temple Pilots, banda a qual ele cresceu idolatrando, pela primeira vez. Ele ficou na banda, lançando o EP em outubro de 2013 High Rise, e se apresentando ao vivo, entre os seus compromissos com o Linkin Park, até novembro de 2015, quando anunciou sua saída para focar mais no Linkin Park e na sua família.

“O amor é algo que faz com que nos tornemos pessoas melhores,” ele disse em 2012. “É o que nos mantém conectados aos outros. É o que nos dá compaixão. É o que nos dá o caminho para realizar coisas grandiosas em nossas vidas, e é uma coisa com a qual você sempre pode contar quando acha que não pode contar com mais ninguém.”

“Sabe, esses caras do Linkin Park são uma parte muito importante na minha vida”, ele me disse em 2014, quando perguntamos o que a banda deu a ele. “E não só na minha carreira. Quando você cresce em um relacionamento, você percebe que a banda propriamente não importa. O que importa é que podemos superar as coisas da vida nas situações mais produtivas que podemos estar”.

Há apenas três semanas, o Linkin Park se apresentou na O2 Arena em Londres, como parte da turnê do seu mais recente – e talvez último – álbum, One More Light. Como o último trabalho no qual Chester põe seu nome, enquanto sua superfície electropop foi uma “bola curva para os fãs”, no seu interior ele guarda algumas das letras mais pessoais de Chester. Em Talking To Myself, por exemplo, encontramos a tentativa de Chester de compreender “como minha esposa deve ter se sentido quando eu batalhava com meus demônios”. Heavy, enquanto isso, foi explicada por Chester a Kerrang! em março: “eu nunca estou satisfeito ou confortável, então o que deixa tudo pesado pra mim são meus pensamentos e comportamentos, onde eu me pegava nesses ciclos de negatividade e abuso de substâncias. Tem uma coisa muito ruim na minha cabeça, então eu não posso ficar muito tempo nela sozinho.”

A tragédia é que, nos seus últimos dias, Chester se sentiu sozinho, mesmo com milhares de pessoas ao redor do mundo o amando tanto quanto os últimos dias nos mostraram.

Chester Bennington deixou sua esposa Talinda, e seus filhos, Tyler Lee, Isaiah, Jaime, Draven, Lily e Lila. Os pensamentos da família Kerrang! estão com eles nesse momento.

Chester Bennington

Chester me disse que “estava tudo bem se sentir assustado e com raiva”.

O escritor da Kerrang! John Longbottom lembra do encontro com o cara que cresceu idolatrando.

Em 2013 eu me vi em uma cobertura de um casino assistindo o pôr do sol em Vegas. Perto de mim estava Chester Bennington. Ele havia substituído recentemente Scott Weiland como vocalista do Stone Temple Pilots e era a primeira vez que a Kerrang! me mandava em um trabalho tão distante para escrever sobre aquilo.

“Eu desci até a loja e comprei sua estreia, Core”. Disse ele. Eu fiquei fixado neles desde então. Conforme conversávamos era como se ele tivesse virado um garoto de olhos arregalados que não acreditava em como tinha ido de um adolescente que ouvia Stone Temple Pilots ao vocalista de sua banda favorita. Ele estava tendo um momento extraordinário misturado à entrevista. Era lindo. O que Chester não sabia era que ele não era a única pessoa pirando em como o destino tinha trazido uma proximidade insana com seus heróis.

“Eu nunca disse isso a ele, porque o cara de 25 anos dentro de mim estava desesperadamente tentando ser profissional, mas eu tinha 13 anos quando ouvi o Hybrid Theory. Foi o primeiro álbum que comprei e ouvi deitado no carpete do meu quarto.” Como adolescente, a voz do Chester me disse que estava tudo bem se sentir confuso, assustado, com raiva e chateado. E de repente, lá estávamos nós, em Las Vegas, ambos tendo o mesmo momento “Como foi que vim parar aqui?” Era surreal. “Agora, estou visitando meus pais. Estou no quarto onde cresci e posso me ver aos 13 anos deitado no carpete ouvindo o Hybrid Theory mostrando o rumo da minha vida”. O rock pode e vai mudar sua vida. Te levará a lugares que você nunca pensou que poderia ir e minha jornada começou com o Linkin Park.

“Chester, do ‘eu’ de 13 anos que não podia falar, do ‘eu’ de 25 anos que não quis falar e do ‘eu’ de 29 anos que agora, devastado não consegue falar: Obrigado. De uma geração que você sempre esteve ao lado, sentimos muito por não podermos estar ao seu lado. Seremos eternamente gratos pelo que nos deu. Esperamos que se orgulhe de nós”.

“AMOR É A COISA QUE NOS FAZ QUERERMOS SER PESSOAS MELHORES”
Chester Bennington

Chester disse tudo. Nós apenas não estávamos ouvindo.

O editor da Kerrang! James McMahon lamenta a perda de outra vida e reflete no que é dito sobre o mundo hoje.

“Estou bravo. Comigo mesmo. Com todo mundo”.

“Hoje a internet está inundada com pedidos de que as pessoas se abram se elas estão sofrendo: quebrar o estigma da depressão, falar sobre saúde mental”.

“Mas Chester Bennington fez exatamente isso. Nós apenas não estávamos ouvindo. No dia 30 de março, Chester e Mike Shinoda fizeram uma festa de lançamento para o novo álbum do Linkin Park. Isso fez com que eles tocassem algumas músicas, com piano e voz em um espaço de sua gravadora, a Warner. Cartas na mesa: Eu apenas apreciei o Linkin Park. Eu não sou o maior fã, mas eu nunca questionei a importância deles no cenário do rock. Eu os respeitava. Mas o modo como ele tocaram as músicas naquele dia, despojados, delicados, relaxados; eles eram lindos. Eu me senti tocado”.

“Mas antes de tocar, eles conduziram uma sessão de perguntas e respostas. Naquela sessão, Chester disse ao público – público esse que incluía eu e essencialmente outros jornalistas do Reino Unido- que ele havia recentemente pensado em suicídio. Não anos atrás, mas recentemente”.

“Chester não estava sofrendo em silêncio. Ele nos disse. Ele nos disse diretamente. Eles disse ao seu companheiro de banda. Merda, ele disse ao seus empresários. Me senti com raiva e me senti envergonhado. Me pergunto o que eu poderia ter feito. Conheci Chester durante 10 minutos, anos atrás. Ele não era o rockstar de quem eu tinha o telefone. Há muitas pessoas que eu poderia ligar e dizer: ‘Ei, estou aqui se você precisar conversar’, mas ele não era um deles. Mas um cara me disse que estava pensando em se matar, e em menos de quatro meses depois, ele se matou”.

“Ultimamente, mas tarde demais agora, eu não posso deixar a sensação de que o mundo está quebrado. Está indo rápido demais. A comunicação está muito dissipada. A humanidade está desencaixada, a roda está fora do eixo. ‘Importar-se’ se tornou algo que não está na moda. Um herói meu, Chris Cornell faleceu há quase dois meses, mas parece que foi há um ano”.

“A morte de Chris Cornell deveria ter nos feito parar, devia ter nos feito desacelerar. Devíamos ter aprendido algo com isso. Aprendemos? Como podemos? Como você pode parar uma bala, a implacável rotação da existência? Se você está sofrendo, você deve conversar. Você tem quê. Mas se as pessoas estão falando, você deve ouvi-las. Nós devemos. Nós devemos. Nós devemos”.

“OS CARAS DO LINKIN PARK TIVERAM UM PAPEL MUITO ESPECIAL EM MINHA VIDA”
Chester Bennington

MÚSICAS DE AUTORIDADE

O escritor da Kerrang! James Hickie classifica as 10 performances do vocalista mais notável de todos.

1 – In The End (Hybrid Theory – 2000)
Apesar de estar em um álbum que vendeu dezenas de milhares de cópias, e ser a música mais tocada nos shows do Linkin Park, você nunca vai ouvir In the End o suficiente. Do momento em que Chester calorosamente canta “It starts with one” ao fogo exasperado das palavras “I put my trust in you/ Pushed as far as I can go” é uma performance arrebatadora. E uma música que você não pode ouvir sem pensar no videoclipe, no qual Chester e seus companheiros estão em uma torre, com baleias voadoras ao fundo.

2 – System (Rainha dos Condenados: Música do filme – 2002)
A trilha sonora de um filme de vampiros de 2002, que tinha Jonathan Davis pela primeira vez fora do Korn. Mas as limitações contratuais diziam que o cantor não poderia tocar as músicas que tinha escrito, então ele convidou alguns amigos, incluindo Marilyn Manson, David Draiman do Disturbed e Chester para ajudar. Dado quem escreveu a música, é um pouco surpreendente que Chester acaba se assemelhando ao vocalista do Korn. O que ilustra quão versátil a voz do Chester era e que ele é igual a um titã do gênero.

3 – Numb (Meteora – 2003)
Essa é uma música muito associada à Chester, dado o fato de que o organista dos LA Dodgers homenageou o vocalista ao tocar a música recentemente durante um jogo de baseball, com o público aplaudindo. Com a morte de Chester, uma versão da música com o vocal isolado foi compartilhada na internet. Isso demonstra o poder e o alcance de sua voz, e também nos lembra do talento incrível que perdemos.

4 – Breaking The Habit (Meteora – 2003)
Apesar do conteúdo, Breaking The Habit não fala sobre os problemas de drogas de Chester – Mike Shinoda escreveu a letra sobre um amigo. Quando cantada por Chester, um homem cujos demônios foram muito bem documentados, e que chorou quando leu a letra devido à proximidade dela com suas próprias experiências, faz com que escutá-la seja algo muito poderoso.

5 – P5hng Me Aw*y (original do Reanimation – 2002 / ao vivo em Live In Texas – 2003)
Essa versão da música, originalmente do Hybrid Theory, foi gravada na turnê Summer Sanitarium em agosto de 2003, quando o Linkin Park dividia palco com Metallica, Limp Bizkit, Deftones e Mudvayne. Antes de tocá-la, Chester pergunta quantos músicos estão presentes ali. “Continuem tentando, acreditem em vocês mesmos”, ele diz. “E um dia vocês estarão aqui em cima conosco”. A performance de Chester nessa música, especialmente na parte em que diz “the sacrifice is never knowing why I stay” é de dar arrepios, e aumenta o nível para os aspirantes a rockeiros assistindo.

6 – What I’ve Done (Minutes To Midnight – 2007)
Apesar do álbum de 2007 Minutes To Midnight, produzido por Rick Rubin, ter sido um momento no qual o Linkin Park começava a mudar seu estilo musical, o primeiro single What I’ve Done sem dúvida parece com uma música clássica do LP. Ela também possui Chester com um vocal magnífico, que ao mesmo tempo é suave e forte quando ele diz “I’ll face out to cross out what I’ve become”. Mesmo, diga-se de passagem, não sendo a música mais conhecida, foi um dos maiores sucessos comerciais.

7 – Given Up (Minutes To Midnight – 2007)
Podemos dizer que é a música mais punk que o Linkin Park já fez, esse destaque do Minutes To Midnight engana. Ela pode dar a impressão de que está tudo bem, mas a garganta poderosa de Chester entrega uma mensagem menos positiva. “Thought I was focused/but I’m scared”, ele admite, antes de terminar com o que parece ser um apelo: “tell me what the fuck is wrong with me”.

8 – My Suffering (Out Of Ashes – 2009)
Out Of Ashes, o único álbum do projeto paralelo de Chester ‘Dead By Sunrise’, foi escrita quando ele passava por uma fase difícil. A música é tudo que Chester representava – especificamente transformar a escuridão em luz através da arte. A mensagem é dolorosa, mas a energia que a música passa é positiva em relação à vida.

9 – Hunger Strike (com Chris Cornell – Songs from the Underground – 2008)
Chester era muito próximo de Chris Cornell. Foi padrinho do seu filho, e cantou Hallelujah, de Leonard Cohen, no funeral do líder do Soundgarden. Na turnê Projekt Revolution, em 2008, os dois fizeram uma parceria em uma versão da Temple Of The Dog. Originalmente é um dueto entre Chris e Eddie Vedder, do Pearl Jam, e nessa versão, Chester assume a parte de Chris e Chris assume a parte de Eddie. Chester faleceu no mesmo dia em que Chris completaria 53 anos de idade.

10 – One More Light (One More Light – 2017)
A faixa que leva o nome do sétimo – e meio controverso – álbum do Linkin Park foi escrita falando de uma amiga da banda que morreu de câncer. Uma linda homenagem que traz um dos vocais mais impactantes de Chester, é uma canção que fala da importância de nossas vidas, com Chester dizendo “Quem se importa se mais uma luz se apagar? Em um céu com milhares de estrelas” e respondendo com “Quem se importa se o tempo de alguém acaba? Bom, eu me importo.”

Chester Bennington

Fonte: Revista Kerrang! – Edição 1681
Tradução e Revisão: Letícia Fontoura, Mariana Barbosa e Marcelle Andrade

Fotógrafo e Produtor de Vídeo