Strike A Chord: Palestra sobre saúde mental com Talinda, Anna e Jim Digby

Na última quarta-feira, 31/01, Talinda Bennington, Anna Shinoda e Jim Digby se juntaram às organizações Live Nation Ontario, Warner Music Canada, Canadian Event Safety e Event Safety Alliance para apresentar o “Strike A Chord”, em uma palestra sobre saúde mental dentro da indústria do entretenimento.

Confira abaixo os principais tópicos abordados por eles:

  • O Linkin Park passou de banda a família, não apenas entre os membros, mas entre as próprias famílias e as pessoas com quem eles trabalham. Todos ficaram devastados com o que aconteceu com Chester devido ao quão ligados eles eram. Com isso, a família se uniu ainda mais.
  • Foi mostrado um vídeo onde Chester estava com a família e amigos, fazendo brincadeiras, rindo e se divertindo, apenas 24h antes de tirar sua própria vida. O vídeo foi usado para iniciar o assunto sobre depressão, de como não há como prever ações e de como a depressão nem sempre é notável.
  • Saúde mental não está apenas relacionada às drogas, ao abuso de remédios e coisas do tipo, também está relacionada aos seus hábitos diários.
  • Anna fala que ao escrever livros sobre personagens, é mais fácil para ela falar sobre seus próprios problemas pessoais, porque ela não sente que as pessoas irão julgá-la.
  • Um mês após a morte de Chester, os membros da banda e suas famílias tiraram uns dias de folga no Havaí, e foi um momento de cura e união muito profunda entre eles.
  • Anna leu um trecho de algo que escreveu após essa viagem, que achou que não seria melhor dividir com as pessoas, mas ao enviar para uma amiga e para Mike eles a aconselharam a deixar que todos lessem porque poderia ajudar outras pessoas.

    “Eu nunca me abri muito com os outros sobre minha saúde mental, acho que em algumas entrevistas que dei quando ‘Learning not to Drawn’ saiu eu devo ter falado brevemente sobre fazer terapia, mas nunca entrei em detalhes. Sempre conversei com amigos sobre isso, mas sempre tive medo de ser publicamente julgada por ter minha mente como ela é. Eu admirava o Chester, especialmente nos últimos meses antes de falecer, por ser tão aberto em suas entrevistas. Eu sentia orgulho dele por ser corajoso, eu sabia que ao descrever para outros como a sua mente funcionava, ele ajudaria essas pessoas a combaterem o tabu que existe sobre saúde mental e vício. Então acho que agora é minha hora de me abrir. Sendo alguém que lida diariamente com depressão e ansiedade, eu sei que é importante reconhecer como meu cérebro trabalha e as coisas que me ajudam. Eu vou a mesma psicóloga há 14 anos. Há épocas em que preciso dela 5 dias por semana, e há épocas em que a vejo de vez em quando. Para algumas pessoas, remédio é o que dá melhor resultado. Por 1 ano usufrui de remédios para diminuir minha ansiedade e conseguir frequentar melhor a terapia, de modo a permitir meu cérebro a fazer novas conexões saudáveis. Alguns precisam de medicação por pouco tempo; outros, para a vida. Depende da mente de cada um e de como ela funciona. Para alguns, terapia alternativa funciona melhor; para outros, livros são o suficiente. Para alguns, sessão em grupo de apoio funciona melhor. Já recomendei vários desses para pessoas que precisavam de apoio. Para alguns, será preciso tentar várias opções e até mesmo misturar algumas delas. Quando comecei, demorei anos para sentir algo, e alguns desses sentimentos eram muito dolorosos, mas sou feliz por ter me conectado com esses sentimentos, porque a Anna que sou hoje parece real para mim. Não sinto saudade de ter medo de emoções, não sinto falta de não ter controle. Eu sei agora que para meu cérebro se manter saudável, preciso de exercícios, vitamina D, sessões artísticas, conversar com amigos confiáveis, às vezes acupuntura, conversar com minha terapeuta se eu sentir que estou deslizando, e vê-la todo mês para podermos perceber sinais precoces quando preciso de um pouco mais de ajuda. Mas é aqui que fica complicado. Cuidar da saúde mental pode ser embaraçoso, e isso é algo que precisamos mudar e todos podem contribuir para essa mudança. Pode ser caro – isso é outra coisa que precisa ser mudada, e pode levar mais de uma vez para você achar o terapeuta ou psicólogo/psiquiatra correto para você. Dá trabalho e uma mente doente pode não o deixar ter esse trabalho. Uma mente doente pode não te dar segurança ou te deixar procurar por recursos. Uma mente doente pode lhe dizer que nada irá funcionar. Se você precisa de ajuda, por favor, procure, e tente novamente se a primeira tentativa na busca por uma mente saudável não funcionar. Chester deu duro. Deu duro para ficar sóbrio, deu duro para encontrar a felicidade. Sou eternamente grata pelos anos que nos foram dados juntos por causa do esforço que ele fez. Nunca saberemos o que aconteceu nos seus últimos momentos aqui, mas sabemos que a única coisa a ser culpada é a doença, o vício e doença mental. Como uma pessoa que passa por muita dor devido à perda de amigos próximos por doenças mentais, posso garantir que você é importante e o mundo precisa de você, e que você merece uma mente saudável. Encontre um modo que ajudará seu cérebro, dedique-se a saúde mental, provavelmente não será um destino, mas uma jornada eterna. E está tudo bem. O importante é que você esteja nessa jornada e dê duro, um passo de cada vez. Deslizes acontecem, não há o que ter vergonha, admita e volte ao caminho certo. Aceite ajuda. Tenha compaixão por você mesmo. Uma coisa que podemos fazer para acabar com esse estigma sobre doença mental e suicídio é cuidar das nossas palavras. Palavras importam. Quando dizemos ‘morreu por suicídio’ ao invés de ‘cometeu suicídio’, focamos na doença ao invés de culpar os sobreviventes ou os falecidos. A resposta para ‘por que alguém morreu para o suicídio?’ é sempre doença mental. Esse é o motivo. E se começarmos por aí, podemos não só prevenir mais suicídios, como ajudar pessoas com problemas mentais.”

  • Jim menciona que após o corrido, eles puderam ver outra parte da família, que são os fãs, o quão conectados eles são com o Linkin Park, e o quão importante é que eles estejam sempre em contato com a banda através das redes sociais.
  • A psicóloga Dra. Barbara conta sobre seus traumas no passado e diz que todos temos traumas e que precisamos lidar e entendê-los. Por esse motivo ela se tornou psicóloga e também criou uma fundação para ajudar gratuitamente pessoas carentes que precisam de ajuda, e foi assim que ela conheceu Talinda e se associaram a causa.
  • Ela diz que qualquer que seja o transtorno que a pessoa tenha, se abrir e procurar caminhos para aprender a lidar e conviver com isso é a melhor opção.
  • Talinda agradece aos que fazem parte dessa mudança, diz que todos somos importantes e quanto mais sabemos sobre o assunto e quanto mais procurarmos falar sobre, mais ajuda podemos dar aos outros e a nós mesmos.
  • Talinda menciona que quando conheceu Chester, os dois tinham seus problemas emocionais e psicológicos, e cresceram muito ao ajudar um ao outro. Com o tempo e o convívio com Chester, ao vê-lo lutar contra seus próprios demônios, ela percebeu que cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física.
  • Ela diz que foi uma “surpresa” quando ele morreu, mesmo com o fato de ele já ter tentado tirar a própria vida antes. Ela se sentiu muito ingênua ao achar que estava tudo bem, principalmente após a morte de Chris Cornell. Ela diz que ele estava feliz, como pudemos ver no vídeo que Jim mostrou no início. Ele estava empolgado com a banda, deu boa noite a todos, e depois disso nunca mais o viram com vida.
  • Com a ligação sobre sua morte, foi algo que mudou a vida de Talinda e de seus filhos para sempre. Ela precisou ser forte para conseguir lidar com seus filhos e não os afetar ainda mais. É nas suas crianças que ela encontra forças para conseguir lidar com tudo o que aconteceu.
  • Ela diz que quando for avó e seus netos perguntarem sobre seu avô, a vida dele falará por si só. Sua vida nos tocou de muitas formas, sendo a voz de uma geração e uma lenda, e isso nunca irá morrer. E a morte dele fará o mesmo. Ele não vai ser mais um rockstar que se rebelou. A morte dele tem que ser um momento decisivo, tem que mostrar as pessoas que podemos parecer tão bem, normal, e um minuto depois, estar tudo às ruínas.
  • Na manhã que Chester tirou sua vida, ele estava sóbrio há 6 meses, e sentia muita vergonha no passado quando tinha lapsos. Uma vergonha que ele começou a compartilhar com Talinda havia pouco tempo, que ela nem sabia que alguém poderia sentir. Quando ela soube que haviam 2 latas de cervejas no quarto, ela sabia que ele teve um relapso, mas também sabia que ele não estava intoxicado ou louco como ela teria pensado. Ela sabia que aquelas bebidas foram o gatilho para toda a vergonha que ele sentia e todos os problemas mentais que ele enfrentou. É importante cuidar da saúde mental, compartilhar com seus filhos se você tiver, usar palavras. É importante ensinar as crianças a lidarem com isso e Chester não teve isso quando criança. Ele teve traumas e não tinha ninguém que pudesse o ajudar, e os traumas só o levaram ao desastre. E até ele morrer, ele dava muito duro para ser feliz, para lidar com tudo aquilo. Talinda diz que gostaria de ter percebido isso antes, mas que mesmo que tivesse, ela não poderia tê-lo salvo, apenas ele seria capaz disso.
  • Talinda disse que seu filho Tyler sofre de depressão, foi diagnosticado há alguns anos, e que sempre conversaram sobre isso na família, que ele não tem vergonha de admitir e até dá palestras na escola sobre o assunto, sobre ser criança com depressão clínica e não ter vergonha disso. Talinda diz que não há vergonha em não estar bem.
  • Com o 320, Talinda pensou em um número de telefone universal que pudesse ajudar as pessoas com problemas. Após a morte de Chester, ela compareceu a muitas conferências e numa dessas conheceu a Dra. Barbara, e foi assim que decidiram criar o 320 Changes Direction.
  • Talinda diz que todos são parte do movimento, e que eles estão com “sangue nos olhos” para que as pessoas fiquem sabendo mais e mais sobre o assunto e sejam partes dessa mudança.
  • Joey Scoleri pede a Dra. Barbara que ela explique um pouco a diferença entre um cérebro saudável e uma mente doente. Ela diz que ainda há muito a ser descoberto sobre o funcionamento do nosso cérebro. Ela diz que é possível mudar a forma como nosso cérebro tende a pensar, e que existem coisas que funcionam para alguns e que podem não funcionar para outros, como medicação e meditação. O trauma pode ser engatilhado por várias coisas, ele pode bloquear memórias e experiências, mas também pode fazer com que elas voltem como se estivessem acontecendo agora. Ela também diz que isso nos mostra como nosso cérebro pode ser treinado, canalizado, através do esforço. Pílulas podem te ajudar a tolerar e processar informações, mas ainda há a prática dos hábitos saudáveis, sejam eles quais forem, para ajudá-lo quando você estiver numa situação difícil.
  • Anna diz que algo que sua terapeuta disse a ela, é que essa parte do cérebro que engatilha o trauma é muito importante porque te protege por bastante tempo. Anna diz que cresceu numa família muito grande, e que um de seus irmãos foi condenado e é um agressor sexual, e que o cérebro dela encontrou modos de protegê-la por muitos anos, e que é muito bom que nosso cérebro consiga fazer isso quando o trauma acontece, mas que quando não é mais necessário, você precisa tentar criar novas conexões.
  • Dra. Barbara diz que além de conversar com as crianças sobre saúde sexual, física, drogas, etc, também é preciso conversar sobre a saúde mental, sobre traumas, ajudá-los a identificar as coisas. Que se uma criança passa por traumas e não conversamos com ela a respeito, o cérebro cria barreiras, mas também pode ser que se torne resistente e podemos ajudá-la a crescer. Até os adultos ainda tem aquela parte criança dentro de si que foi machucada e que precisamos ajudar a curar os traumas do passado.
    -Com a evolução tecnológica e a forma que nossa sociedade vive atualmente, a produção de dopamina no nosso corpo se dá através de vários estímulos, de modo exagerado, de forma que procuramos qualquer coisa para nos dar o estímulo e liberar a dopamina em nossos corpos, como através de bebidas e do uso excessivo de tecnologias, por exemplo. Nosso corpo não trabalha mais em níveis naturais, e esse excesso de estimulantes pode ser prejudicial para nosso cérebro.
  • Talinda diz que Chester sempre dava duro álbum após álbum, querendo que o próximo fosse sempre melhor que o anterior. Ela diz que sempre tentamos fazer o melhor, e que se as coisas ficam difíceis, nos esforçamos para melhorar ainda mais, mas quando isso se trata de nós de modo pessoal, emocionalmente, acreditamos que seja fraqueza, quando na verdade não é isso, é uma das nossas maiores forças, e precisamos não ter vergonha de assumir que não estamos bem. Que as pessoas precisam parar de perguntar “como você está?” como mera convenção social e realmente ouvir o que a outra tem a dizer.
  • Jim menciona que ele nunca havia visto Chester tão feliz como no vídeo que foi exibido no começo, e que ele se perguntava depois do ocorrido “o que eu perdi? o que eu poderia ter feito? Por que não vi isso?”, e aqui estamos agora discutindo sobre o que podemos fazer, mas que não existe um sinal universal para isso. Chester estava num lugar muito bom, fez com que todos ficassem despreocupados com sua situação.
  • Anna diz que nos 20 anos em que o conheceu, ela e Mike conversavam sobre “e se ele tiver uma overdose? Ele não está bem, e se ele se deprimir?” e que antes de ele morrer, eles não tinham mais essa conversa, que tinham pequenos sinais nele que indicavam que estava tudo bem.
  • Durante a turnê européia da One More Light, Chester estava usando muito óculos de sol e Mike pediu a Jim para que conversasse com ele para ele tirar um pouco os óculos, porque os olhos de Chester falavam muito mais do que qualquer outra coisa e naquele show em Londres havia uma equipe de filmagem para gravar. Jim falou com ele, disse que seria um show muito empolgante e que gostaria que as câmeras capturassem o seu olhar. Chester tirou os óculos e disse “vai se foder”, e Jim achou aquilo muito estranho, não parecia algo que ele faria, e disse que aquele foi um sinal que ele não viu. Ou que talvez não tenha sido um sinal, quem sabe. Mas que aquela memória fica na sua cabeça constantemente.
  • Anna diz que muitas vezes nos pegamos pensando “o que eu perdi? Tinha algo que eu poderia ter feito?”, e que quando se trata de doença mental e suicídio, a única pessoa que pode ajudar é você mesmo. Podemos ser uma comunidade e dar recursos o máximo possível, mas não podemos salvar uns aos outros. É importante que você tenha um plano para ajudar sua saúde mental, caso você tenha um deslize, por exemplo. É importante ter pessoas que te apoiem, mas se você se encontra numa posição difícil com sua saúde mental, é preciso reconhecer e começar a seguir em frente e criar um plano.
  • Talinda diz que como esposa de Chester, muitas coisas se passaram pela sua cabeça quando ele faleceu, e que várias vezes ela lê comentários de pessoas que a culpam pela sua morte, por não o salvar, por maltratá-lo. Mas ela se lembra de que não é culpa dela, das crianças, da banda e nem mesmo de Chester. Não é culpa, são anos de doença mental que não foi tratada, que levou a abuso de substancias e relacionamentos não saudáveis. Ela diz que devemos ser responsáveis pela nossa própria saúde mental, que devemos sim procurar por ajuda externa, mas que no final de dia depende unicamente de você ser quem você quer ser.
  • Dra. Barbara diz que nosso cérebro evita que aceitemos coisas que são dolorosas, por isso nessas situações todos pensamos “o que eu poderia ter feito ou dito?”.
  • Joey disse que os humanos têm um mecanismo de luta como os animais, mas que os animais não ficam se martirizando repetidamente pela mesma coisa. Nós somos a única espécie que volta tanto no passado, e que a depressão é pensar demais no passado e a ansiedade é o medo do futuro.
  • Dra. Barbara diz que assim como temos sinais de coisas como um ataque no coração, também há sinais de que alguém está passando por problemas mentais, e que devemos prestar atenção nisso, nas pessoas que amamos, e também assumir que estamos mal, em dor, para que as pessoas reconheçam e possam se ajudar. Ela diz que estudos recentes mostram que o número de suicídios entre jovens mulheres aumentou devido as redes sociais. Que as redes sociais são uma via de mão dupla, alguns usam para o bem, como Talinda que criou o 320 e ajuda pessoas online.
  • Jim também fala que com as redes sociais, os fãs também ajudam muito a banda e o pessoal a se reerguer.
  • Talinda disse que é preciso coragem, e ela pede que todos tenham coragem para cuidar de si mesmos.

“Faça o seu melhor até você ter mais conhecimento, e quando você tem mais conhecimento, você faz ainda melhor.”