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Revista Guitar Player entrevista Brad Delson sobre o álbum "From Zero"

Em entrevista para a Guitar Player, Brad Delson reconhece que é um pouco estranho ter outra pessoa nos palcos tocando para o Linkin Park.

“É, é uma experiência diferente”, diz Delson, que está fora dos palcos da turnê mundial do novo álbum, “From Zero”, mas que segue parte da banda. “De certa forma é bem legal porque eu nunca pude assistir de fato a um show, em tempo real. Quando você está no palco, você não consegue ver tudo o que acontece”.

“Eu me lembro de estar no show do Kia Forum apenas apreciando”, ele diz, em referência ao show de 11 de setembro em Inglewood, Califórnia. “Há muito amor e dedicação na criação de um show. Mesmo não estando no palco, eu participo de pertinho. Ajudo a desenvolver a setlist e todo o fluxo do show, e nós trocamos ideia todos os dias sobre os shows. É um trabalho de muito amor”. 

E Delson - que co-fundou o Linkin Park quando ainda se chamava Xero em 1996, junto com seus amigos do ensino médio Mike Shinoda e Rob Bourdon - rapidamente fala de Alex Feder, antigo guitarrista da XYZ Affair, que está substituindo Delson nos palcos, “ele é meu amigo, e está fazendo um ótimo trabalho. Então é um ganho duplo”.

A decisão de Delson de não participar da turnê pegou os fãs de surpresa, e foi descrita recentemente por Shinoda no Zach Sang Show como algo que “tem a ver com saúde mental… Ele não é tão fã de ficar em turnê e do estilo de vida que se leva nessa condição”. Delson esclarece que “eu amo estar no estúdio, e sinto que é lá onde me sinto mais energizado e onde mais prospero e contribuo. Para mim, é sobre tomar decisões autênticas e claras, e trazer boas energias para quem quer que esteja trabalhando comigo”. 

“A banda fez sucesso quando éramos muito jovens, e ficamos nessa loucura por uns 20 anos”, Delson reflete. “No tempo que ficamos off e não lançamos nada novo, acho que todos tivemos tempo para refletir sobre o que nos move. E acho que, para todos nós, as decisões que nos levam a fazer o que estamos fazendo tem mais a ver com de fato tomá-las do que fazer apenas pelo hábito. É por isso também que tudo soa tão novo e diferente”.

E sem dúvidas isso explica porque “From Zero“ se tornou um sucesso global, estreando em primeiro lugar nas paradas de 10 países e em segundo lugar na Billboard 200, a maior estreia de um álbum de rock do ano.

Mudança é algo bom. E houveram muitas mudanças no Linkin Park à medida que a banda ressurgiu neste ano.

O baterista Rob Bourdon decidiu não continuar no retorno, tendo Colin Brittain em seu lugar, que trabalhou com Shinoda no passado. Na banda também entrou a vocalista Emily Armstrong, da banda Dead Sara, outra descoberta de Shinoda, a quem Delson responsabiliza por motivá-lo. Além deles, Shinoda, o baixista Dave “Phoenix” Farrell e o DJ/Sampler Joe Hahn, são os responsáveis por trazer o Linkin Park de volta à ativa enquanto rolavam as sessões e ensaios no EastWest Studios em Hollywood.

“A gente tava só de boa, fazendo umas coisas no estúdio, e em algum momento Emily disse ‘ei, eu fico feliz em vir aqui todos os dias, vocês precisando de mim ou não. Quero estar perto disso tudo’. A coisa mais maravilhosa desse álbum é que tudo se encaixou naturalmente, baseado em coisas como ‘ei, isso é legal. Gostamos disso assim. Vamos fazer mais disso’. O desejo de passar tempo juntos, ser criativo, e aí a música guiou o caminho”.

Delson descreve a criação das 11 faixas de “From Zero“ - escritas pelo Linkin Park com ajuda de algumas pessoas, como Mike Elizondo, Teddy Swims, Nick Long do Dark Waves, Bea Miller - como andar de bicicleta, com a banda voltando tranquilamente ao seu processo natural de criação, baseado em tentativa e erro, discussões francas, e abertura para diferentes opiniões. “Quando estou no estúdio com minha guitarra, eu não estou preso à ela”, explica Delson, comentando que na verdade ele toca mais piano em casa do que guitarra. “Eu sempre penso primeiro como um compositor. Se eu acho que uma música é melhor sem guitarra, eu sou o primeiro a perguntar ‘podemos deixar essa no mudo?’ E se outra pessoa toca uma parte massa na guitarra, eu agradeço e digo que é uma coisa a menos para se preocupar”. 

“Se alguém tenta fazer algo e não acho que esteja tão bom quanto poderia, eu me ofereço para reescrever ou algo assim. Algumas dessas músicas tinham guitarras quando comecei a brincar com elas. Algumas ainda permanecem, outras foram refeitas no estúdio. Nosso processo é dar apoio ao que funciona. Então se a guitarra não foi muito convincente, nós tiramos e escrevemos novos pedaços. Houve muita experimentação por lá.”

Brad fala que 'Cut The Bridge' tinha bastante guitarra na primeira versão” que não soava muito certo enquanto a música era desenvolvida. “Acho que Mike e eu escrevemos riffs novos para ela por uns dois ou três dias direto, e acabamos jogando tudo isso fora e ficamos com essa versão mais pesada em efeitos que temos no verso, que deu um som mais vivo e inesperado a ela. 'Overflow' é outra música do 'From Zero' que foi reescrita muitas vezes, até que quase no final do processo de produção do álbum, escrevemos um refrão totalmente novo para ela”.

"The Emptiness Machine" também foi uma música desafiadora, em um aspecto diferente. “Nós aperfeiçoamos todas as palavras dela. Era uma parte muito importante da música, então era vital encontrar o lugar certo para os vocais de Mike e Emily na música. O alcance deles é tão diferente… E tinha que ser em um tom que funcionasse para ambos. Se o tom descesse muito, ela [a música] perderia força quando Mike estivesse cantando, porque ela [Emily] canta uma oitava acima. Ambos ultrapassaram seus limites vocais naturais, por isso a música pareceu um foguete pronto para explodir”.

No processo de gravação do “From Zero“, Delson usou uma Fender Stratocaster Custom Shop laranja, junto com sua habitual PRS e também uma Gibson SG. “Em relação a amplificadores e efeitos, sou agnóstico. Mike tem vários pedais muito legais. Temos ótimos simuladores de amplificadores. São escolhas infinitas. As partes que você escreve [da guitarra] e o sentimento que elas passam é o mais importante. Você fica variando de um preset a outro [até encontrar] aquilo que chama mais a atenção no sentido do que casa melhor naturalmente com a parte. Normalmente nós escrevemos uma parte, e aí ficamos alternando entre os sons até chegar no momento de falar 'ISSO SIM parece com a parte'”

Delson diz que, para ele, o mais empolgante no “From Zero“ é que mesmo sendo uma nova versão do Linkin Park, ele ainda retoma ao início da banda, mesmo antes de ser Linkin Park e sequer ter uma gravadora.

“Não ficamos com medo de buscar por coisas mais características nesse álbum. Em álbuns anteriores tinha sempre aquela questão de inovar, inovar, inovar, sempre querendo nos desafiar a procurar por algo novo. Acho que por termos novos elementos [como os novos membros] como parte da nossa paleta, não nos restringimos em usar coisas que talvez já tivéssemos usado antes, formas de compor e tocar.”

“Havia uma estética, uma vibe, em algumas das nossas demos antigas, quando ainda éramos 'Xero'. Algumas inclusive tinham essa estética muito presente. Você pode ouvir um pouco disso no Hybrid Theory [2000]. Eu amo como nossa discografia é eclética. É uma parte muito evidente da nossa identidade como músicos. Mas nesse álbum, acho que nos sentimos mais livres para resgatar coisas que já fizemos antes, mais por fazer sem pensar muito do que tomar uma decisão consciente de para onde ir especificamente.”

Mesmo antes de atingir o topo das paradas, o “From Zero“ já era um álbum implacável. "The Emptiness Machine" atingiu o primeiro lugar nas paradas Billboard Mainstream Rock Airply e Alternative Airplay em setembro, seguida de "Heavy Is The Crown", "Over Each Other" e "Two Faced". Depois de tocar alguns shows pelo mundo seguida da estreia do novo álbum, o Linkin Park anunciou uma super turnê para 2025, começando em 31 de janeiro, na Cidade do México, se estendendo pelo mundo todo em lugares como o festival Sick New World em Las Vegas, Sonic Temple em Ohio, Novarock na Áustria e I-DAYS na Itália. E enquanto Delson diz que “tudo é possível”, quando questionado se ele poderá eventualmente subir aos palcos de novo, ou voltar a viajar em turnê, parece mais é que ele vai curtir de longe.

“Eu diria que estou me divertindo muito trabalhando na criação com meus amigos”, Delson diz. “É muito divertido e gratificante. Estou feliz que as pessoas finalmente estão ouvindo esse álbum, e o stream e tudo o mais é loucura total. Tem bastante coisa rolando. Está a pleno vapor”.

*Tradução: Letícia Fontoura