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Mike Shinoda fala sobre Living Things para Complex.com

Jeff Sanico, da revista Complex, recentemente entrevistou Mike Shinoda para falar sobre o novo álbum da banda, Living Things, o primeiro single Burn It Down, Rick Rubin e seus rappers favoritos.

Leia a tradução na íntegra clicando em Mais e para entrevista original, clique aqui.

Quando a banda californiana “rock encontra rap” Linkin Park lançou seu primeiro álbum, Hybrid Theory, bateu o recorde de Britney Spears para se tornar o álbum mais vendido de 2001. Este nível de sucesso os assustou. Após lançar seu segundo álbum, Meteora em 2003, eles se reagruparam e ressurgiram 4 anos depois com um som completamente novo que criou um alvoroço entre os fãs leais.

Os álbuns Minutes to Midnight e A Thousand Suns tinham a assinatura sonora do lendário produtor Rick Rubin. Rubin também está por trás do trabalho mais recentes da banda, LIVING THINGS, que será lançado dia 26 de junho.

Na última sexta-feira, a Complex teve a chance de ouvir algumas faixas e conversar com o co-fundador do Linkin Park e MC da banda, Mike Shinoda. Ele é um cara inteligente com um grande interesse na posição da banda na história da música.

As novas músicas tem um grande, moderno e polido som, mas com aquela batida quente, imprecisa de Rick Rubin. O Linkin Park evoluiu de calouros da MTV, para atos de classe e Mike Shinoda deixa isso claro com o rap pesado de UNTIL IT BREAKS do álbum LIVING THINGS. Ao longo de grandes e saudáveis batidas de bateria, ele cospe confiança, “I’m a Banksy / You’re a Brainwash / Get the picture like that?” (Eu sou um Banksy, você é uma lavagem cerebral. Consegue entender?) Sim, nós conseguimos.

Por Jeff Sanic

Você se mantém atualizado sobre os assuntos relacionados ao rap?

Acho que sim. Hoje em dia as coisas acontecem rapidamente. Há vários tipos de sub-gêneros, por isso, tudo depende do que você está falando. Por exemplo, ainda esta manhã, ouvi a música Foster The People, da Blue Jeans (por Lana Del Rey), onde a Azealia Banks adicionou alguns raps nela. Ela é louca. O cara que está mixando o nosso álbum, estava trabalhando na nossa frente e disse algo assim “Cara, eu poderia fazer algo assim?”. Estou entusiasmado em ouvir mais coisas da Azealia Banks.

O que te deixa ansioso, neste novo álbum do Linkin Park?

Não tem nenhuma criatividade a menos nessas novas músicas e trazem energia das músicas mais antigas. É uma espécie de um som mais abrangente. Sinto que fui capaz de aproveitar todas as coisas que aprendemos até agora e colocá-las todas juntas em cada música e ainda mantê-las como novas e com uma visão futurista.

Anteriomente, quando criávamos algo no estúdio, nós estávamos reagindo muito mal quando tínhamos a sensação de um retrocesso ou que fosse algo que já tínhamos feito – conforme o tempo passava, tínhamos a sensação de estar dando um passo a frente, e isso nos deixava satisfeitos. Já este álbum, ecoa um monte de coisas diferentes e aleatórias, entre coisas novas, com coisas que aprendemos ao longo do tempo. Eu acho que este é o “novo álbum” em que todo artista o torna como o seu favorito.

Trabalhamos neste álbum por um ano. É como se estivéssemos sempre de olho na tempestade. Todo o meu foco estava em conseguir um álbum perfeito e apresentá-lo aos fãs da maneira que acho perfeita. O álbum nunca será perfeito para todos, mas nós apenas fazemos o nosso melhor, para transformá-lo no melhor álbum possível. Estou ansioso quanto a este álbum, não poderia estar mais ansioso em ver as reações das pessoas o escutando.

O que falta para este novo álbum ser finalizado?

Estamos masterizando o álbum agora, então basicamente já está pronto. Será lançado no dia 26 de junho. O single BURN IT DOWN acabou de ser lançado. Nós estamos começando a receber alguns feedbacks sobre como as pessoas estão reagindo e tem sido algo incrível.

Nos primeiros dias, tivemos o maior tráfego de todos os tempos no site da banda, quebramos todos os nossos recordes pessoais. Teve uma reação bem melhor do que os outros singles dos últimos anos. A indústria em geral é assim… é difícil dizer quais são os valores de referência disso, às vezes, é porque vivemos além da bolha da indústria musical.

Em comparação a isso, tudo poderia ter sido menor. Depende se você é otimista ou não. Eu não acho que somos pessimistas, então realmente tentamos e procuramos aproveitar este momento e ficamos felizes com os objetivos que criamos e como conseguimos alcançá-los.

Qual é o processo de criação de uma música do Linkin Park?

O nosso processo é bastante amplo. Às vezes, nós começamos as músicas com um piano, uma batida ou algumas letras. Às vezes, as letras são escritas, refletidas e alteradas milhares de vezes. E às vezes, só  ia até o microfone, e fazia um freestyle com o que tivesse na minha cabeça e isso acabava entrando no álbum.

Depende da idéia e do que é bom para a música. Parte disso tudo, sempre esteve com a banda, mesmo antes do álbum Hybrid Theory ter sido lançado, de quando a banda ainda se chamava Hybrid Theory, e que foi essa a nossa filosofia desde o primeiro dia. Nós gostamos de todos esses diferentes tipos de música e elas são bastantes específicas.

Não é como, oh, ‘nós apenas estamos misturando rap e rock’. Que tipo de rap que você procura? Que tipo de música eletrônica e rock que você gosta? Nossos gostos eram diferentes do que estava acontecendo lá fora.

Se você acha diferença entre, vou usar o Kid Rock como um exemplo simples. Seus pontos de referência eram coisas tipo, Run-DMC e coisas como country rock. Nossas referências tinham coisas como Depeche Mode, The Roots, Deftones, Nine Inch Nails e coisas assim. Enquanto estes exemplos eram mais agressivos, chamávamos de “frat-rock”, e o nosso som era mais sombrio e introvertido, em algumas vezes.

Passando para os dias de hoje, sei que os nossos gostos musicais evoluíram e ampliaram muito. Ouvimos tantas coisas a mais agora, e assim, misturamos todas as coisas que se tornam cada vez mais difícil, mas ao mesmo tempo, cada vez mais emocionantes, quando você sente que conseguiu compor do jeito que queria.

A sua base de fãs está sentindo essa progressão?

Os dois primeiros registros foram dois furacões. O Hybrid Theory foi o álbum mais vendido no mundo, naquele ano. Ultrapassamos a Britney Spears, o que nem sequer fazia qualquer sentido para nós. Alguns anos mais tarde, decidimos que precisávamos voltar e, basicamente, mudar completamente o que estávamos fazendo, ou então ficaríamos presos, fazendo aquilo para sempre.

Acabamos compondo um álbum chamado Minutes to Midnight, que foi como se déssemos alguns passos para fora e acabamos aprendendo a fazer algo diferente. O último álbum, chamado A Thousand Suns, foi um desvio completo. Fomos totalmente fora dos padrões que as pessoas, que seguiam a banda, já tinham visto.

Mas, para nós, era um passo necessário. Sabíamos que fazendo aquilo, iríamos atingir a polarização. Seria um grande esforço para que um fã conseguisse a se acostumar, o que é pedir muito para os fãs. Porque era um álbum conceitual, as duas primeiras músicas do álbum foram fundamentais e não tinham absolutamente nenhuma estrutura tradicional, você não ouviria nenhuma música até que chegasse na terceira música do álbum.

Nós absolutamente perdemos e ganhamos fãs. Se você olhar os reviews no iTunes, ou era uma estrela ou era cinco estrelas. Todo mundo amava ou odiava. Esse é o ponto. Então, voltando depois de tudo isso… nós amamos esse álbum e me diverti muito fazendo isso e fazendo turnês do ATS. É algo trabalhado exatamente do jeito que nós queríamos que fosse.

Então temos este novo álbum, onde ficamos como, o que vamos sentir e achar que é o próximo passo para a nossa criatividade? E o que nos deixaria animados em compor? E, é isso. Definitivamente dá a sensação como se houvesse uma busca de uma determinada coisa que seja muito “Linkin Park”, e nós quisemos dar-lhes isso. Seguramos isso por um longo tempo e sentimos que agora é um bom momento para fazer isso. Estamos ansiosos com o que fizemos. Estamos ansiosos para que as pessoas possam ouví-las.

Desde que você se tornou um rapper, quais são os seus 5 rappers favoritos?

Eu não acho que teria alguma surpresa nisso. É composta pelos meus MCs preferidos, como Nas, Biggie e Rakim, etc. Vou preencher pra formar cinco… Pac e Em. Se você passar por isso, quais são os cinco que as pessoas não esperariam entrar no top cinco de alguém, mas que deveria estar?

Para mim, seria algo como o Redman, eu realmente diria Sean P, quem acho ser um puta gênio. Poderia dizer Mos Def, poderia dizer Black Thought. Quem é da Costa Oeste cara… quem gosta dessas merdas? É difícil, cara. A Oeste sempre foi um pouco menos lírica. Na verdade, eu não disse Scarface, seria o Scarface. Face é retardado, ele é incrível.

Seriam esses pra mim, sempre contando com esse tipo de coisa, o lance do lirismo. As coisas que realmente me emocionam, muitas vezes é o material que não vai estar nas rádios. É pedir demais para eles.

O que você acha de novos artistas como Danny Brown e pessoas como ele?

Eu amo Danny Brown! Baixei o remix do Danny Brown, da música “Blunt After Blunt”. As coisas sobre ele, o deixam selvagem. Ele é muito honesto, de uma maneira estranha. Tipo, ele não tem um filtro, o que pode ser uma coisa muito ruim para um monte de gente.

Tipo, você queria que Jose Canseco tivesse um filtro, porque você se sente mal por ele. Mas você não se sente assim em relação ao Danny. Danny não tem a porra de um dente da frente, entende o que quero dizer?

Ser você e ser mainstream, é algo que provavelmente não vai conseguir conciliar, mas que se foda. Ele é incrível. Provavelmente fico mais entusiasmado com a Azealia Banks. Estou realmente animado que o Earl Sweatshirt está compondo novamente. Sinto que ele não atingiu seu máximo ainda, mas uma vez que ele conseguir, ele será muito, para pessoas como eu, realmente especial.

Oh, eu amo as músicas do Death Grips também. Você já ouviu falar? Eu não entendo muito sobre o que ele está dizendo, é realmente difícil de entender porque ele fica gritando até estourar a cabeça. É esse tipo de coisas – é muito punk rock para um disco de rap, e eu ainda estou me adaptando nisso. Mas, o primeiro álbum que eles lançaram é literalmente um dos meus discos favoritos, nos últimos dez anos. É tão incrível, simplesmente por que é assim, tão diferente.

Para mim, é todo esse tipo de coisa que curto. A$AP Mob é legal. Oh! Tito Lopez. Cara, a sua música chamada “Mama Proud” ou algo assim. Ele, literalmente, soa como um cruzamento entre Ras Kass e Tupac e ele é realmente lírico. Ele está definitivamente no meu top dez de pessoas que vou acompanhar agora. Eu acho que ele é do caralho.

E sobre o ponto alto da produção? Alguém que você gostaria de fazer um remix?

Há muita coisa eletrônica. Eu sou mais, Glitch Mob, DatsiK. Nós estamos pensando em fazer alguns remixes com caras deste mundo. A ideia de ter tipo, um remix do Lex Luger é realmente incrível para mim mas teria que ser a música certa.

Nosso primeiro single chama-se BURN IT DOWN e é como um padrão de ritmo, uma batida de 120 bpm e, então imediatamente eu começo a pensar, bom, o que Nero está fazendo, o que Rusko está fazendo? Esse canal é quase sua especialidade, então é por isso que começo a pensar em como irá encaixar. Se eu der esta música para o Scoop [Deville], não o levará para o sucesso.

Quem mais você está sentindo neste reino eletrônico?

Na verdade eu fiquei surpreso recentemente, eu não estava familiarizado com Nero e tinha outro cara com o nome de Excision, e DatsiK. Comecei a ouvir esses caras no ano passado. Meu melhor amigo na faculdade nos anos 90 era muito chegado em techno e jungle.

Ele circulava em clubes e outros lugares. Ele também era um mulherengo e drogado. Isso era, tipo, meu melhor amigo. Ele me fazia essas mixtapes de 90 minutos e eu nunca ia saber quem estava escutando. É tipo 90 minutos de músicas maravilhosas e eu não faço a mínima ideia de quem eram os artistas.

O que você procura em uma batida para que seus raps saiam fluindo?

Há mais rap neste álbum do que qualquer outro álbum que lançamos nos últimos anos. Sobre a pergunta, a batida deve ser groove para mim. Rick Rubin e eu, estávamos conversando sobre algumas tentativas de colocar rap onde você não espera. Se a música não soava como uma música de hip-hop, então eu tentava adicionar alguns raps nela. De vez em quando, isso realmente dava certo.

Estamos super empolgados com o que fizemos. E então várias vezes eu percebi que, raps e batidas, são meio que inseparáveis. O meu iPod estava no aleatório e acabei ouvindo “Double Trouble” com Black Thought e Mos Def, e claramente que eles estão só seguindo a batida. Os versos e as batidas foram feitos um para o outro. É como uma coisa só e não duas coisas.

Então, pra mim, depende de quando percebo que é groove e que quando escuto a música, simplesmente alguns versos acabam saindo. Nesse último álbum, fiz mais esse tipo de coisa do que ficar escrevendo as letras em papéis.

Basicamente, o que eu faço é ir lá e soltar alguns versos na música, sem ter escrito nada antes, e se alguma coisa boa acabar aparecendo, uso algumas coisas dela e escrevo mais algumas outras coisas no meio. Faço isso, pedaço por pedaço, e escrevo algumas notas para lembrar onde já passei. É fluído, um processo estranho. Às vezes, isso leva só uma hora, mas outras vezes, isso pode levar dias.

Quem seriam os pais do gênero do Linkin Park?

Se você quer olhar pro passado, realmente a idéia de fundir as coisas do rock – que naquela época era chamada de “black music” – seria o Led Zeppelin. Eles realmente estavam usando elementos do blues e coisas assim, fundindo isso, resultando em algo como metal pesado. Eles foram os pais dessa ideia.

Depois, você olha pro Run-DMC e Beastie Boys. Logo depois, vê o Rage Against the Machine e coisas do gênero. Meu amigo me disse uma vez: “Eu acredito que a maior música de todas as bandas de rock, na verdade, lembra uma música de rap”. Se você começar a pensar nisso, é realmente muito engraçado.

Você começa a lembrar de “When the Levee Breaks”, lembra de “We Will Rock You”, começa a pensar nisso sobre o Blondie, The Beatles e até mesmo David Bowie. Essas músicas… eles usam um contratempo enorme para elas e há uma qualidade rítmica que lembra muito hip-hop.

Ele havia dito algo assim: “Vocês ganham a vida fazendo isso. Vocês não fazem isso acidentalmente em uma música”. Em graus variados e em resultados variados… Mas é isso que nos faz melhorar e é o que nós naturalmente fazemos.

Você acha que os Beastie Boys mudaram o mundo?

[Risos] Yeah! Eu nunca havia pensado nisso. O que me faz os achar incríveis, vou dizer assim – o primeiro disco de vinil que eu comprei que me definia, foram deles. Antes disso, eu tinha comprado alguns outros discos que estava ouvindo, mas só porque eles eram populares. E aquele era mais do que isso.

Foi um momento importante na minha vida. Era um álbum sobre diversão e ser um babaca ou algo assim, mas percebi mais tarde, que o que me deixava empolgado nesse álbum, era que eles quebravam barreiras e os estereótipos, e acho que eles estavam fazendo isso sem ser intencionalmente, como se acontecesse sem querer. Porque eles vieram do punk rock, e foram para um lugar como Nova Iorque, onde tudo era meio que misturado.

Eu não sabia disso na época, mas sei agora, por que trabalhei com Rick, e ocasionalmente pergunto sobre histórias daquela época, como isso aconteceu, como aquilo aconteceu. É incrível. O cara é um pedaço vivo da história e lembra essas histórias dele de vez em quando, e é ótimo ouví-lo falar sobre como a minha música favorita foi feita. Não há nada melhor.

Rick Rubin é um cara lendário nesse tipo de coisa.

Rick e eu, produzimos juntos os últimos três álbuns. É engraçado ver o Rick entrar no modo hip-hop. Para colocar isso em perspectiva, o motivo de Rick ser bom para nós é que a nossa intenção em nossos álbuns, é usar todas as nossas ideias diferentes de géneros e épocas, que nós gostamos de escutar, e transformá-la em uma coisa só nossa.

Não estamos arrancando essas coisas, é apenas uma expressão de quem somos, como seis caras que andam ouvindo aquelas merdas todas malucas. E Rick não só entende de cada ponto de referência pouco específica que damos, porque ele gosta das mesmas merdas, mas ele também já fez um monte desses tipos de álbuns.

Ele produziu álbuns nesses estilos, de Run-DMC a Metallica, e até Johnny Cash. Assim, ele pode nos dizer as técnicas específicas que devemos usar no estúdio, de como conseguir inspiração para esse tipo de performance, e como conseguir um determinado tipo de som, a partir de uma música. Resumindo, ele entra no modo hip-hop. Você pode até ouvir as engrenagens girando na cabeça dele.

Tipo, “Ok, vamos colocar algumas batidas nessa música”, e então nós produzimos algo, e ele responde com “Mude esse trecho aqui e coloque nesse daqui. Oh, gostei dessa parte por causa disso, e essa deve soar como aquela ali”. É como se fosse um computador, tipo, ele cria uma pasta e joga o arquivo lá dentro. É ver isso e é divertido, porque, como um artista, aprender isso e impressioná-lo, é ainda mais satisfatório do que apenas impressionar a si mesmo.