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Mike Shinoda: “Parte de mim é o Linkin Park e ver isso mudar, senti como se eu tivesse acabado!”

Durante essa semana, Mike Shinoda fez algumas entrevistas promocionais para o “Post Traumatic”. Na última quarta, 17, ele participou do programa Sway’s Universe da rádio SiriusXM de Nova York. Mike comenta que recebe muito crédito dos fãs de hip-hop, onde muitos dizem que amam o Linkin Park. Ele também menciona que “Place To Start” e “Make It Up As I Go” surgiram como demos do álbum “One More Light”. Perguntado se há músicas inéditas com Chester, ele responde que sim, mas ainda é muito cedo para serem lançadas e não pensam nisso agora. Assista abaixo e também confira os pontos mais importantes da entrevista transcrita.

Sway: Na minha opinião, acho que lançar o ‘Post Traumatic’ algo muito corajoso da sua parte.
MS: Bom, quando o Chester faleceu, eu não conseguia ficar longe do estúdio e acabei fazendo algumas músicas, algo que estava fazendo somente para benefício próprio. Mas, percebi que tinha bastante material, comecei a juntar as músicas e acabei lançando três: ‘A Place To Start’, ‘Watching As I Fall’ e ‘Over Again’. Essas são as mais pesadas porque foram as primeiras que fiz e como qualquer pessoa que passa por isso, eu tinha muitas questões em mente, sobre onde eu estava e sobre que estava acontecendo e isso resultou em um álbum que será lançado no dia 15 de junho. As outras músicas não são tão profundas quanto as primeiras, mas eu só estava escrevendo coisas em que estava pensando e sobre tudo que estava acontecendo. Acho que isso me ajudou a passar por tudo, assim como ajudou os fãs e os fizeram perceberem onde eu estava. Então, tenho tido um bom momento. Acho que você pode ouvir sobre o que aconteceu com ele e sobre o que aconteceu comigo, isso pode parecer triste, mas acho que é o oposto, às vezes, você enfrenta situações difíceis e tem que tentar sair disso.

Sway: Sim e, às vezes, quando começa a se sentir bem de novo, você enfrenta outra luta, é como se sentisse culpado.
MS: Sim, muitas pessoas pensam assim. Chamamos de ‘sobreviventes enlutados’ aqueles que se sentem culpados de alguma forma.

Sway: Você acha que se sentiu assim?
MS: Um pouco. Parte da minha identidade é a música, parte de mim é o Linkin Park e ver isso mudar, senti como se eu tivesse acabado. Eu me perguntava: “Será que consigo subir no palco e tocar uma música do Linkin Park?”. Tudo está uma bagunça, sabe? Mas, acabei percebendo que não estava terminado. O legado continua, as músicas que fizemos ainda estão aí, você pode escutá-las, assistir os videoclipes e os shows ao vivo, por exemplo, e eu ainda posso fazer músicas, ainda posso subir no palco. Nada disso mudou, ainda tenho tudo aqui.

Sway: Vocês têm alguma música que fizeram quando o Chester ainda estava aqui e que ainda não foi lançada?
MS: Sim, mas não temos uma posição sobre isso. Acho que ainda é cedo demais para mergulhar em algo assim, ainda não temos planos para isso. Mas esse álbum que fiz, algumas músicas que fiz, eu comecei enquanto estávamos gravando o ‘One More Light’, eu tinha algumas faixas que comecei, mas não conseguia terminá-las. As melodias estavam boas, mas não havia letras. E esse ano, eu comecei a ouvir algumas delas e algumas palavras apareceram em minha mente e então comecei a escrever coisas novas para elas. Provavelmente são duas das dezesseis músicas que estão no álbum.

Sway: Duas músicas, dentro das dezesseis, quais seriam?
MS: A primeira que vocês ouviram, ‘A Place To Start’, na verdade era uma música demo do ‘One More Light’. E há uma outra música que se chama ‘Make It Up As I Go’, que tem a participação de uma artista chamada K.Flay. Na verdade, Brad, K.Flay e eu começamos essa música há mais ou menos um ano, mas nós não gostamos dos resultado. Bem, não se encaixava no ‘One More Light’, e eu a ouvi de novo há uns seis meses e pensei: “Eu sei como vou fazer essa música”.

Sway: A música ‘Crossing A Line’, me fez pensar sobre com quem você estaria falando, sabe? Você está conversando com os fãs?
MS: O refrão diz: “Eles dirão que não me importo mais, e espero que saiba que é mentira / Porque encontrei o que estava procurando / Mas para chegar lá, preciso cruzar a linha.” Na verdade, ela foi escrita para meus companheiros de banda, para que eles entendessem que estou nessa nova aventura, nessa nova jornada com o meu álbum solo. Já fiz música como parte do Linkin Park, como parte do Fort Minor, mas nunca fiz algo como ‘Mike Shinoda’ e é uma experiência nova, é um novo desafio. Os caras passaram por muitas coisas e não queria que eles achassem que estou fazendo isso sem eles.

Sway: É por isso que você diz: “Tenho demônios dentro de mim / Mas não tenho escolha / Tenho que lhes dar uma voz”.
MS: Sim, as pessoas que passaram por uma situação difícil, seja perdendo alguém ou apenas tendo que passar um tempo longe de alguém que ama, um dos sentimentos que todos sentem, que todos acham muito difícil, é perceber que você não tem controle sobre as coisas, sabe? Mesmo se o seu momento difícil é esperar o resultado de um teste ou esperar qualquer coisa, esse sentimento de ansiedade, esse sentimento que mostra que você não tem controle sobre as coisas da sua própria vida, é algo terrível. E uma das coisas que percebi é que não tenho controle sobre certas coisas, mas que posso escrever minhas próprias músicas, posso sair em turnê. E quando criei essa carreira solo para que eu pudesse ter mais controle sobre isso, percebi que podia tomar minhas decisões, sabe? Eu posso dizer, por exemplo, que assim que sair daqui, quero começar a gravar um vídeo, colocá-lo no YouTube e dizer que é o vídeo oficial da música. Esse tipo de decisão é algo que me mostrou que se quero algo, posso fazer. Sempre tive cinco caras com quem tinha que conversar e se mostrasse uma ideia, um deles poderia gostar e outros dois poderiam achar a ideia razoável e os outros poderiam dizer que não gostaram dela, o que se torna algo mais complicado. Não estou dizendo que é algo ruim, mas é diferente e complicado. E nesse momento da minha vida, há muitas coisas que posso controlar e coisas que são diferentes. Quero ter controle sobre algumas coisas, quero poder responder por mim mesmo.

Sway: Você ainda pinta?
MS: Sim, eu fiz muita arte nesse álbum. Se você for até o MikeShinoda.com verá que há muitas coisas lá.

Tracy: Todos sabem que o Linkin Park é uma fusão de rock e hip-hop e durante um tempo o rock era tão popular quanto o hip-hop. Mas conforme o hip-hop foi evoluindo, o rock me pareceu que se estagnou.
MS: Eu estava falando sobre isso, sobre como o rock se inovou e se estagnou um pouco, mas, ao mesmo tempo acho que o que aconteceu quando começamos foi que a maioria das pessoas escutava algo específico: só rock, só rap, etc. E quando o ‘Hybrid Theory’ foi lançado, algum tempo depois, se você perguntasse para alguém o que esta pessoa gostava de ouvir, ela provavelmente diria “qualquer tipo de música”. E tem sido assim desde então. Eu sempre fui assim, sempre ouvi músicas diferentes, adoro o jeito como a música evolui. As minhas playlists favoritas não são separadas por gênero, mas sim por “humor”, significa que há músicas diferentes nelas.

Sway: Quando você lançou as músicas, em que algumas foram inspiradas pela perda do seu amigo e companheiro de banda, deve ser difícil para pessoas que conhecem você, darem uma opinião sobre o que estão achando, por se tratar de um momento complicado. Quais foram as pessoas que você procurou que te dariam opiniões sinceras sobre o que você estava fazendo, antes que elas fossem lançadas?
MS: Acho que olhando para trás, mesmo antes da música, no primeiro mês depois que Chester faleceu, eu me encontrei com algumas pessoas óbvias, como minha família, meus companheiros de banda, mas eu me encontrei algumas vezes com o Rick Rubin. Fizemos três álbuns com o Rick e ele sempre foi meio que um mentor. Ele nos conhece muito bem, ele me conhece muito bem. Então, eu disse: “Você conhece outros artistas que passaram por isso, que perderam alguém e que de alguma forma tiveram que se realinhar sobre como a banda seria, para onde iriam. Você acha que esse é um dos caminhos que eu deveria seguir?”. E eu perguntei sobre o que o AC/DC fez, o que o Dave Grohl fez e ele disse: “Eu entendo porque está perguntando isso, você tem uma força própria, qualquer coisa que fez com a banda, poderia ter feito sozinho. Mas eu não vejo vocês no mesmo tipo de situação. No caso do Dave Grohl, o Nirvana se tratava do Kurt, mas quando o Dave saiu, ele podia ser o que quisesse. Mas tratando-se do Linkin Park, você não é um membro invisível, você é um dos vocalistas, por isso acho que isso tudo é mais complicado.”
As pessoas têm perguntado sobre o que acontecerá com a banda, mas ainda não há uma resposta. Um dos motivos pelos quais estou fazendo isso tudo, é porque acho que ao fazer isso, mais respostas virão. Isso tudo está no começo, ainda não existem respostas.

Sway: O que os outros membros da banda querem fazer? Eles estão falando sobre isso?
MS: Nós ainda estamos tentando entender tudo isso. Acho que varia de um cara para o outro. Outro dia eu fiz meu primeiro show solo e só havia eu no palco, tocando vários instrumentos e fazendo várias coisas, mas nesse show, o Joe apareceu e tocamos uma música do Linkin Park. O Rob, nosso baterista, não pôde participar durante o show, mas ele estava lá dando apoio. E os outros não puderam estar lá, mas o Dave estava assistindo a transmissão e estava até mandando mensagens. Eles são todos muito solidários, são todos maravilhosos.

Fã: Voltando ao assunto do rap, o ‘Collision Course’ parte II vai rolar algum dia?
MS: Ótima pergunta. Se alguém me perguntasse se eu tenho o número do Jay-Z, eu diria que não, porque realmente não tenho. Você tem o número do Jay-Z?
Sway: Eu tenho o Instagram. (risos)
MS: As pessoas me perguntam com que eu faria uma parceria como a do ‘Collision Course’, mas eu não faço ideia. Vou te contar em poucas palavras como tivemos a ideia de fazer a parceria com o Jay-Z. A MTV entrou em contato com ele e disse que queria fazer uma série de Mash-ups, disseram que queriam vários grupos reunidos para misturar seus sons e depois montariam um programa. Foi então que perguntaram se queríamos fazer o primeiro episódio e dissemos que sim. E, na verdade, foi o Jay-Z quem disse que queria fazer com o Linkin Park, todos ficamos muito felizes. Então, fiz três músicas, as mandei para o Jay-Z e ele me respondeu: “Caralho!”. A ideia da MTV era misturar uma música e nós aparecemos com meio álbum feito. Bom, eu aprendi a produzir músicas fazendo mash-ups. Eu já fazia mash-ups há pelo menos cinco anos quando eles nos pediram para fazer o projeto com o Jay-Z. E como eu já tinha experiência nisso, dissemos para nós mesmos: “Vamos fazer algo tão incrível que eles não conseguirão fazer um segundo episódio”.

Sway: Como vai a família do Chester?
MS: Eles estão bem. Sabe, alguns dias são mais difíceis do que os outros. Nos falamos o tempo todo e minha esposa e a Talinda são bem próximas. Em breve fará um ano que Chester se foi e a Talinda disse que queria poder pular esse dia, queria nem ter que lidar com esse dia e então minha esposa disse: “Espera um pouco… não existe um voo para a Austrália que você faz e acaba perdendo um dia?” e elas acabaram procurando e isso realmente é possível. E então a Talinda disse: “Acho que vou até a Austrália e pular esse dia”. Essa solução foi muito inteligente. Gosto do jeito que elas tratam as coisas com humor.

Sway: Mike, muito obrigado por vir aqui.
MS: Se você for no MikeShinoda.com você irá encontrar várias coisas do álbum e algumas músicas que já foram lançadas.

Sway: E o show que vocês fizeram no Hollywood Bowl, também está no YouTube, certo?
MS: Exatamente.

Transcrição e tradução: Mariana Barbosa
Revisão: Wesley Carlos
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