Laut.de entrevista Mike e Rob

O site alemão Laut.de promoveu uma longa entrevista com Mike e Rob, conduzida por um entrevistador fã do som antigo do Linkin Park, onde discutiram de forma descontraída, porém detalhada, o novo álbum da banda.

“Eu acho  que muitos fãs que temos conversado podem não ser capazes de entender este passo logo de cara, menosprezando o álbum depois da primeira ouvida, sem uma segunda chance. E é isso que esse CD definitivamente precisa. Se você quer começar a entender o que estamos fazendo e PORQUÊ fazemos isso, aí você tem que lidar um pouco mais com o álbum. Eu não espero que os fãs mais antigos irão amar esse álbum como o nosso primeiro. Eu só espero que eles dêem a este álbum, uma chance pelo menos.”

A entrevista completa pode ser lida clicando em “Mais”.

27 horas e 20 minutos de vôo para a entrevista. Às vezes é melhor não calcular se o esforço é válido para uma ação específica. Mas quando se trata de uma oferta de entrevistar o Linkin Park, é algo que você não leva em conta.

Algumas decisões são fáceis de serem tomadas e embora o caos dessa viagem seja relativamente elevado, tem sido quase agradável a essa altura. Então, eu estou sentando, em uma quarta-feira à tarde em Julho, às 14:00 (horário local) em uma suíte de hotel e tenho a oportunidade de ouvir seis das novas músicas do “A Thousand Suns”.

Somente o single “The Catalyst” já foi masterizada, outras três nem mesmo título tem. Mas rapidamente se torna claro que o novo álbum trará algumas surpresas – e certamente alguns fãs alguns fãs desapontados também. Ao que interessa, a inclusão de guitarras pesadas não é definitivamente um grande fator levado pelas estatísticas.

Após duas ouvidas, eu finalmente fui convidado para a próxima suíte, onde já estavam o baterista Rob Bourdon e Mike Shinoda na mesa – tinham acabado de almoçar. Ambos pareciam de bom humor, Mike parecia muito interessado e muito educado. Logo entramos em uma boa conversa e no final a viagem valeu a pena.

Eu tive a oportunidade de ouvir seis músicas duas vezes. Vou dizer de uma vez: as coisas não soam necessariamente de acordo com o que eu esperava…

Mike: Sério? Você é o primeiro a dizer isso.

Como assim?

Mike: Não, só estou brincando (risos). Isso diz tudo e eu vejo como um elogio. Você ouviu seis músicas, mas para te dar uma real perspectiva do CD, você precisa ouvi-lo inteiro. Esse é um álbum de verdade e não apenas uma coleção de músicas que foram aleatoriamente colocadas no mesmo CD. O álbum é único e funciona como uma unidade. A ordem das músicas não é como elas estão fundamentalmente dispostas no álbum. Você viu, a princípio, algo como um trailer de um filme. Apenas uma amostra, poucas cenas são mostradas de um filme e não necessariamente na ordem correta – você tem a impressão verdadeira do filme – mas no final das contas o que vai deixar uma impressão em você, você só saberá quando ouvir o álbum inteiro.

Nas primeiras duas músicas eu me perguntei “O Rob tocou bateria aqui?”

Rob: Sim, mas agora não no sentido de uma batida padrão de bateria. A maioria são samplers que eu toquei principalmente nos Tom-toms* e que eu adicionei poucas coisas neles. As músicas se desenvolvem principalmente com percussão. Como isso vai parecer ao vivo? Então, novamente, por outro lado, pode ser que nós abordaremos muito mais as canções pesadas ao vivo. Elas diferem muito das coisas que já fizemos, e isso não foi fácil, mas interessante de tocar. Finalmente, eu estou focando em um par de tom-toms , porque um set de bateria de rock completo neste contexto não faz sentido. Essa é uma experiência nova para mim e agora eu também vou tocar nossas músicas antigas um pouco diferente. O atrativo desse novo disco foi uma decisão fácil de ser tomada, algo completamente diferente e cordial, eu também devo aprender com o meu jeito de tocar e abordar as coisas diferentemente.

Mike: Assim que víamos que estávamos trabalhando em algo que já havíamos feito igual ou parecido antes, isso de certo modo nos dissuadia diretamente e nós rejeitávamos imediatamente. Isso não tinha mais encanto para nós, porque era muito fácil de qualquer forma.

Guitarras distorcidas não tem peso qualquer.

Eu perguntei a mim mesmo enquanto ouvia, como essas músicas deveriam ser ao vivo. Vocês já testaram algumas?

Mike: Não, ainda não, mas eu não vejo um grande problema. O negócio é que quando começamos a trabalhar nas músicas e nas letras, fazemos isso simultaneamente. Tudo que fazemos é gravado, e então nós pegamos mais tarde e procuramos usar as melhores partes. Eu acho que nós temos nosso próprio estilo de escrita que é diferente da maioria das bandas, e que funciona para nós muito bem. Para as pessoas de fora, é impossível dizer qual parte de uma música é tocada por quem. Rob toca piano e guitarra tão bem quanto eu. Muitos dos riffs de guitarra no cd são meus. Mas desta forma, somente poucas pessoas sabem. Em “Papercut” do primeiro álbum, a maioria das guitarras é feitas por mim.

Sobre a situação da execução ao vivo, Rob e eu temos conversado sobre isso. Não achamos que ouvir uma música ao vivo deve ser a mesma coisa que ouvir no CD. Uma vez que existem muitas maneiras de resolver as coisas no palco, sem que as músicas mudem muito e estejamos tocando no ponto. Então, é bem possível que Rob apenas toque as samplers no equipamento dele.

Todavia, eu achei que as seis músicas na maioria das partes eram bem calmas e relaxadas. No que diz respeito ao canto também. Eu estava imaginando o que era, porque não estão mais furiosos com algo? Tudo parece muito relaxado, uma sensação calma. Não tenho muita impressão de que o poder está chegando ao fim.

Mike: Sério? Eu tenho a impressão de que você sente que as músicas são suaves mas ao invés disso, considere uma música tal como “Wretches and Kings”, eu não a descreveria como suave. “Blackout” também, porque Chester estava berrando insanamente nela. Isso não é tão fofo (risos). Talvez você tenha achado isso porque não tem muitas guitarras pesadas?

As linhas vocais são muito calmas. Na primeira música por exemplo, me trouxe a nota mental de “notas musicais satisfatórias”…

Mike: Essa provavelmente deve ser “Waiting For The End”. É realmente uma música complexa e acontece em muitos níveis diferentes. Podemos dizer que a música foi escrita sobre fases distintas. Verificamos que existem ainda duas canções que se ligam entre si, porque se combinam muito bem. Mas você está certo quando diz que as músicas não estão sofrendo o peso dos discos antigos. Então você está, não é? Está sentindo falta das guitarras (sorri).

Sim, em alguns aspectos. Não tem uma pegada pesada em todas as músicas, mas alguns riffs teriam sido bacana.

Mike: Entendo. O tempo dirá. Quando eu faço músicas não é pensando se elas são pesadas, o peso na minha opinião não é necessariamente dado por uma guitarra distorcida. O álbum inteiro é muito complexo, e se isso soa pesado pra mim, pode ser que seja isolado na faixa. Isso não depende só de guitarra. Nós tivemos idéias que tinham muito a ver com guitarras, mas soou apenas como algo que já havíamos feito há um bom tempo. Não era mais atraente para nós particularmente. Queremos fazer coisas simples, mas dinâmicas.

Rob, você também vê dessa forma?

Rob: Como o Mike disse, não queríamos que o disco ficasse na mesmice do pesado, se isso significa que basicamente fazer coisa igual ao que já fizemos. Melhor do que se comprometer em termos de peso, é um álbum novo, com novas abordagens e idéias. Somos nós neste álbum, eu acho, e temos nos saído muito bem – ele funciona como um todo. Você realmente deveria sentar e ouvir o CD inteiro do início ao fim, antes de julgar. As músicas são mais muito mais fortes quando estão combinadas com outros sons, a atmosfera traz mais poder. Mas como eu disse, os resultados vem do contexto. Nas músicas que você ouviu, não é um set de bateria completo, eu inicialmente trabalhei bastante com batidas normais, mas rapidamente se tornou evidente que as músicas desse jeito não funcionavam dentro do contexto do álbum. Isso foi um grande desafio para mim, direcionar completamente diferente o som, como baterista e trabalhar efetivamente para fazer isso.

Mike: Agora o que eu quero saber: Qual das faixas do Linkin Park você mais gostou?

Honestamente? Eu gostei muito das duas primeiras. Digo, olha para mim. Eu sou só um metaleiro e gosto quando as guitarras guiam uma música.

Mike: (risos) Foi o que pensei. Bacana, esse é exatamente o tipo de entretenimento que eu gosto, bem honesto! Não é uma tarefa fácil, mas é claro que sabemos que nós temos um monte de fãs por aí que são exatamente como você, que tem esperado guitarras de rock pesado.
Mas a questão é a seguinte: Nós fizemos o “Hybrid Theory” há quase doze anos. Você se lembra como você era há doze anos e tudo que aconteceu nesse meio tempo? Nós amamos nossas bases, e acima de tudo, o disco de estréia é sem dúvidas o mais importante para nós. Os fãs desse disco continuam indo aos nossos shows e é claro que nós tocamos as músicas apropriadas, sempre, e estamos determinados a nunca parar de tocá-las. Mas essas eram, e são, apenas músicas que nós escrevemos em uma certa época em que nós procurávamos apenas ter o mesmo efeito de quando surgimos.

Enquanto isso, outras coisas vão em direção a nós agora, nosso jeito de escrever músicas mudou largamente e isso permitiu que outras músicas surgissem. Quando escrevemos as paradas naquela época, era algo novo para nós e queríamos fazer isso. Então nós lançamos o CD, e os outros pensaram: “Hey, isso é legal, eu quero fazer isso” e então esse som é recriado mais e mais e até que seja desinteressante. Eu recentemente só ouvi uma música de uma banda que soava com o nosso primeiro CD. E se 1.000 outras bandas pode escrever tais músicas, tem noção do quanto foi fácil para nós? Na verdade nós fizemos algumas piadas sobre querermos gravar pelos bons e velhos tempos um “Hybrid Theory III”. Estaria pronto em poucas semanas. Para nós não seria excitante, de jeito nenhum.

Sou da opinião de que uma música tem que ter um riff que coloque para cima, isso que é legal para mim, mas se criar agora é parecido com o que vocês já comporam antes, eu acho que o momento só precisa acontecer uma vez. Mas eu compreendo que vocês achem que seguir essa direção seja chato. Quando eu ouvi as seis músicas, logo na primeira vez, fiquei tipo, “Ok, eles estão dando um passo muito corajoso”.

Mike: Obrigado, só por essa declaração, me agradou muito que alguém como você tenha ouvido. Eu acho que isso é o que muitos fãs que temos conversado podem não ser capazes de entender este passo logo de cara, menosprezando o álbum depois da primeira ouvida, sem uma segunda chance. E é isso que esse CD definitivamente precisa. Se você quer começar a entender o que estamos fazendo e PORQUÊ fazemos isso, aí você tem que lidar um pouco mais com o álbum. Eu não espero que os fãs mais antigos irão amar esse álbum como o nosso primeiro. Eu só espero que eles dêem a este álbum, uma chance pelo menos.

Eu aprecio a oportunidade de conversar com alguém como você, aprecio muito. Porque você representa uma legião de fãs nossos que irão fazer tais perguntas e esperar uma resposta. Eles merecem isso, que nós nos expliquemos pelo menos, tentar deixar claro o porquê de termos feito este álbum, e o porquê de não querermos, pelo menos por enquanto, músicas como no “Hybrid Theory”. Finalmente, escrevemos músicas desse jeito não porque queremos que nossos fãs do primeiro CD sejam menosprezados, mas porque acreditamos que as novas músicas são legais, e que elas tem algo especial. Nós buscamos o diálogo com eles, porque isso é muito importante, pessoas como você que nos fez essas perguntas. Talvez nos saiamos bem com as novas músicas, os fãs do primeiro álbum, poderão tirar algo de bom dele.

Ok, antes que eu seja chutado pra fora daqui pelo produtor de vocês, tenho uma pergunta totalmente diferente: Tem algum livro que vocês recomendariam para os nossos leitores?

Rob: O que me impressionou recentemente, “Born To Run” (“Nascidos Para Correr”, em português) do Christopher McDougall. Sempre odiei correr, e nunca quis começar a correr. O livro mudou a minha opinião sobre isso, mas é muito bacana e tenho que relacionar isso como o incentivo para as próximas turnês. O livro descreve como as pessoas podem impulsionar si mesmos para conquistas cada vez maiores e eu fiquei muito impressionado.

Mike: O último que eu fiquei muito impressionado se chama “Free” (sem título em português) de Chris Anderson. Todo mundo que toca em uma banda e suas necessidades materiais ou quer promovê-la, deveria ler isso. Se trata de como usar a tecnologia, em especial a internet, para esses propósitos. Sempre tive muito interesse nessas coisas. Para bandas independentes é absolutamente ideal!