Mike Shinoda: ‘Sou um pouco viciado em trabalho’

Confira a matéria da revista Rip It Up, que contém uma entrevista com Mike Shinoda:

Com uma década de carreira, o Linkin Park da Califórnia descartou a fórmula que os deu um número de vendas mundiais maior que 50 milhões e começaram de novo. O quarto álbum de estúdio A Thousand Suns mostra o sexteto longe do estilo dos singles One Step Closer e In The End do álbum de estreia de 2000 Hybrid Theory, ao invés optaram por um álbum impressionantemente texturado e interconectado juntado pelo furacão de uma guerra.
O som atualizado é uma criação confusa no começo mas mesmo assim completamente formidável, com A Thousand Suns mostrando o Linkin Park se libertando do que já era esperado. O co-vocalista, programador e produtor Mike Shinoda está aliviado que depois de lutar por um novo som, o Linkin Park renasceu com uma nova identidade.
“Nós temos trabalhado nesse álbum por dois anos”, começa Shinoda. “Então, como você deve imaginar, é difícil sair do modo de pensar analítico e entrar no modo de pensar de apreciador de música para que nós possamos só aproveitar a tocar!”

“Nós mergulhamos mesmo neste processo de uma maneira mais orgânica do que nunca. As primeiras demos não tinham estrutura alguma em alguns casos, elas eram só esses vocais vagantes, que eram muito novos para nós. Nossa banda começou fazendo músicas bem estruturadas e apertadas e aquilo era uma questão de nós termos pouca atenção – nós simplesmente gostávamos de músicas curtas, empolgantes de três minutos. Eu não sei se é nossa idade e o fato de que estamos envelhecendo, mas quando qualquer um de nós aparecesse com algo no estúdio que lembrasse os estilos antigos, a banda em si se sentia entediada com aquilo. Não é como se nós intencionalmente quiséssemos fazer algo anti Hybrid Theory, só que quando escrevíamos algo similar com o que tínhamos feito antes, só não era interessante para nós.”
Uma característica do A Thousand Suns que o separa dos lançamentos antigos do Linkin Park, são os seguimentos dinâmicos que ligam as faixas principais. A marcha ao campo de concentração de Empty Spaces e a pancada industrial de The Radiance cria uma sonoridade de guerra. Semelhanças que vão dos álbums The Fragile do Nine Inch Nails e It Takes A Nation Of Millions To Hold Us Back do Public Enemy estão presentes, mas suas amostras das três figuras do século 20 que ancoram o tema do A Thousand Suns. Entrelaçados na obscuridade do álbum, estão os discursos históricos do ativista americano Mario Savio, do físico nuclear J Robert Oppenheimer e do líder dos direitos humanos Martin Luther King Jr, todos sobre os horrores da guerra. Shinoda fala sobre a burocracia envolvida, em esclarecimento, valeu a pena.
“Não posso dizer que isso foi fácil, mas nossos empresários fizeram um ótimo trabalho conseguindo a liberação desses áudios que colocamos no A Thousand Suns, porque eles sabiam o quanto esses trechos eram importantes para nós. Temos um trecho do Oppenheimer, o pai da bomba atômica, um trecho do Mario Savio e um trecho do Dr. Martin Luther King Jr. Em todos esses três casos, sentimos que os trechos dos discursos disseram algo que ninguém mais poderia dizer melhor. Não íamos ser capazes de escrever uma letra que pudesse dizer qualquer coisa melhor do que os próprios discursos, então nós decidimos colocá-los na gravação.”
Enquanto os hits passados do Linkin Park eram cheios de desespero, a natureza vívida do A Thousand Suns torna o resultado ainda mais intenso. Enquanto no álbum de estréia, Hybrid Theory a banda se encontrou batendo na tecla do fato que não havia maldição no álbum que tirasse a mensagem dele, no A Thousand Suns letras improvisadas não tem vez. Em Blackout, o vocalista Chester Bennington expressa sua angústia com o uivo ‘Foda-se, vocês está me ouvindo?’. Em divergência com a lógica do Hybrid Theory, que às vezes parece que gritos estridentes são a forma mais feroz de alcançar um objetivo.
“Então se você tivesse nos perguntado sobre os xingamentos – e na verdade as pessoas nos perguntaram se haveriam xingamentos – Chester e eu diríamos, “Possivelmente – se estiver na hora certa”. Houve momentos que para mim no Fort Minor soava a coisa certa a se dizer, e houve músicas nos nosso último CD, Minutes to Midnight onde tinham xingamentos. Então isso não é grande coisa quando soa correto”.
Gigante no que diz respeito a status e estatura, o co-produtor de Shinoda no Minutes To Midnight, Rick Rubin mais uma vez ofereceu sua influência budista calma para o longo processo de gravação. Um veterano de álbuns aclamados tais como Toxicity do System Of A Down, Licensed To Ill do The Beastie Boys e o já mencionado It Takes A Nation Of Millions To Hold Us Back do Public Enemy, Shinoda diz que raramente Rubin confrontou a banda sobre as decisões em estúdio.
“Se o Rick não gosta de alguma coisa e é o suficiente para mudar nossas mentes, então nós mudamos,mas isso é um processo realmente fácil quando se trata de um material como esse. Ele não continua insistindo e não fica magoado se não não concordamos. O negócio é que quando você tem uma dinâmica perfeccionista como numa banda como nós temos, se o Rick não gosta de uma idéia, então há chances de que alguns de nós também não gostemos.”
Como seus projetos artísticos paralelos ao Linkin Park, incluindo remixes notáveis para artistas como Depeche Mode, designs de tênis para o DC Shoes e exposições solo de arte, Mike Shinoda tem um tempinho para descansar.
“Sou um pouco viciado em trabalho“ ele admite. “Estou constantemente — encontrando tempo para fazer todas as coisas que eu quero fazer. O Linkin Park é uma diversão e também um trabalho muito intenso.”