Entrevista de Mike Shinoda com a URB

Algumas estatísticas antes de começarmos. Cerca de 50 milhões de álbuns vendidos em 12 anos, discos de platina em sete países pela colaboração em um álbum com um dos maiores MC’s do hip-hop, uma taxa 34% de prêmios conquistados em relação as indicações – o mesmo que a Beyoncé – e por meio de tudo isso um ardente e gracioso auxiliador para levar auxílio aos desastres nos Estados do Golfo, Indonésia, Haiti e Japão. Qualquer que seja o lado musical de sua preferância, não há como negar que o Linkin Park conseguiu o status de chefe em vários gêneros, e o co-frontman, Mike Shinoda, reside no epicentro desse sucesso.

No fim do mês passado, a banda lançou seu quinto CD, LIVING THINGS. Co-produzido por Shinoda e Rick Rubin o álbum é decididamente mais pessoal e menos político que o de 2010, A Thousand Suns, um álbum que apurou os ouvidos da Eletronic Dance Music com compassos 4/4 como “Blackout” e meio-tempo quebra-pescoços como “Wretches and Kings” e “When They Come For Me”.Depois de um show para 2300 pessoas no Club Nokia para o X-Games de verão em Los Angeles, Shinoda refletiou sobre o novo CD, sua parceria de longa dota com Rubin, e a justaposição constante do Linkin Park na arte e na música.

Se A Thousand Suns possuía um tema pós-apocatíptico, o que você diria que LIVING THINGS tem? Mais de um renascimento?

Mike Shinoda: Nos outros albums, nós estabelecemos um som, abandonamos aquele som para experimentar uma variedade de outras coisas, então pegamos um longo caminho pra dentro da toca do coelho com um álbum conceitual. Mas a única coisa que sempre permaneceu constante foi a idéia de reunir estilos diferentes. Essa é a razão pela qual o nome original da banda foi Hybrid Theory. Nesse álbum, nós conciliamos todos os sons contrastantes, de todos os nossos álbuns, em cada canção. Mas no processo, nós ainda achamos tempo para experimentar um monte de coisas novas.

Você me disse que conectou-se com muitos equipamentos, como seu clássico MPC1000, no último album. Você também disse que achou influência no rap de velha guarda. Esse álbum se sente diferente. Mais Punk Rock. Eu especificamente escuto isso numa faixa como VICTIMIZED. Isso foi algo que você estava trabalhando conscientemente para com este disco?

MS: Este álbum foi um trabalho de cerca de um ano. Por um ano, um monte de inspirações e mudanças motivacionais acontecem. Eu acho que várias das demos vieram das coisas que eu fiz no meu laptop, cruzadas com experimentos em estúdio. Eu suponho que um ponto de inspiração foi a compilação de folk que o Brad e eu nos defrontamos. Esse foi um conjunto gravado nos anos 20 e 30. Nós pensamos, um monte de banda cobriram e referenciaram essas coisas por anos. O que nós podemos fazer que essas bandas não fizeram? Nós começamos misturando isso à diferentes coisas – como eletrônico energético e sons alternativos – e nós gostamos de como isso soou. Isso foi como: “Bem, como The Carter Family mais Refused mais Death Grips soariam juntos?”

O sintetizador soa nesse album mais como auxiliar e menos como o corpo principal que foi em A Thousand Suns. Mais cintilante, mais exaltado. Houve um esforço concertado para mudar a emoção em sua arte?

MS: Isso é interessante. Talvez isso foi apenas uma coisa intuitiva. Todos nós já ouvimos histórias de pessoas que dizem: “Eu sonhei com uma música, então acordei e escrevi”. Essas pessoas pensam no que a música será, então eles escrevem e gravam com esse propósito específico. Esse é o oposto do que fazemos. Nós nos aproximamos de uma música mais como no desenho de uma linha, onde você apenas põe sua caneta no papel e observa onde isso vai te levar. Nós deixamos o subconsciente conduzir-nos pela maior parte, e paramos quando chegamos em algo que gostamos.

O que inspirou você à realizar o evento de audição deste album na Sono Stunios? Eu estava no show de laser na Fonda pelo A Thousand Suns, e ambos os eventos – embora um pouco diferentes em sua execução – realmente enfatizaram a conexão entre a arte, a música e a experiência. Por que é tão importante para o Linkin Park entregar suas criações ao mundo desta maneira?

MS: Primeiro, eu amo a Sonos. Ela literalmente mudou a maneira de ouvir música, portanto o evento foi algo não pensado pra mim. Tão longe quanto o evento o foi, a Goodsmile Company forneceu o espaço físico e juntamente deu vida à performance baseada no visual que nossa equipe de arte criou. As pessoas verão a mesma arte em tudo relacionado a LIVING THINGS: a capa, os visuais do tour, online, tudo. Eu tenho um Bacharelado de Arte em Ilustração, então os visuais que acompanham nossos álbuns são realmente importantes para mim. Eu acho que ficamos cada vez melhores na criação de uma experiência imersiva em cada álbum, no decorrer dos anos.

Embora eu ache que você ganhou muitos novos fãs com o último álbum [A Thousand Suns], ele teve uma recepção muito morna dos fãs de longa data. Agora que se passou um ano e meio do lançamento, o que você acha que, especificamente, as pessoas não entraram em ressonância?

MS: Nós sabíamos que isso ia ser desse jeito antes mesmo de termos terminado o álbum. Nós sabíamos que teríamos que estar bem com este fato para estarmos bem para lançar o álbum. No passado, nós fizemos muitas experiências no estúdio que nunca viram a luz do dia. A Thousand Suns foi diferente. Nós sabíamos que essa era a música que nos fez sentirmo-nos apaixonados, e nos ainda nos sentimos. Eu penso que ATS foi um trecho verdadeiramente criativo e eu acredito que isso foi frequentemente bem aceito por pessoas que realmente conhecem o processo de composição e gravação. Foi quase uma experiência psicodélica, e por vezes tivemos que mergulhar fundo para atingir esse som.

Mesmo olhando para o lista de faixas, a primeira metade é mais instrumental do que cantada. O disco não é orientado para o rádio, o que significa que é um álbum longo de jornada. É sobre assuntos pesados como guerra nuclear e perigo ambiental, e mais enraizado em uma massiva experimentação em estúdio que em guitarras pesadas, e isso foi um chocante para as pessoas ouvirem vindo de nós. Isso requiriu algum abandono da “bagagem” do Linkin Park, o que foi muito a pedir aos fãs comuns de tendências musicais, ou mesmo para um fã do Linkin Park, em alguns casos. Nós não seríamos capazes de fazer o LIVING THINGS caso não houvéssemos feito o A Thousand Suns.

Quando você trabalhou com o Rick no ATS, foi importante para ele que vocês se livrassem de todas as convenções sonoras do Linkin Park, que tudo deveria ser personalizado e único. Em termos de progressão, LIVING THINGS e ATS compartilham mais similaridades sonoras que, ATS e Minutes to Midnight. Eu vejo e escuto criatividades paralelas entre os álbuns. Quando foi que vocês se sentiram bem para revisar os temas e olhar para trás mais frequentemente?

MS: Isso foi importante pra ele, e igualmente importante pra nós. Recentemente nós criamos o hábito de fazer e manter nossos ouvidos abertos para nossos sons artesanais favoritos que ajudaram a fornecer personalidade à cada canção. Há escolhas sonoras no álbum – eletrônicas em geral – que permitem você perceber que é atual, mas esses novos sons estão frequentemente justapostos contra sons clássicos como guitarras, baterias e piano. Além disso, isso não é apenas sobre engenharia. O mesmo equilíbrio teve que ser encontrado quando se tratava do arranjo, estrutura e vocais. Esse foi um foco que permaneceu em nosso radar todo o tempo.

Você já quis apenas dar um grande abraço no Chester e dizer a ele que tudo ficaria bem? Suas letras foram tão profundas no álbum, que ele deveria vir com um colete salva-vidas gratuito.

MS: (Risadas) Ele definitivamente tem um dom para cavar fundo e trazer o sangue as entranhas de um vocal, e eu conheço as histórias por trás das músicas – as que nós não falamos sobre. Nós escrevemos e gravamos muitas letras juntos, então nós temos que saber sobre o que o outro cara está cantando. Para o álbum, Chester pessoalmente lida com um monte de emoções e histórias muito bem, só nós dois sabemos a purificação que sentimos quando escrevemos uma canção que realmente captura as emoções de uma dessas histórias. E nós dois apreciamos a conexão que sentimos quando os fãs que passaram por algo similar estão cantando a música no show.

Eu sei que você tem sido um fã da URB por um longo tempo, especialmente vindo de Los Angeles. Você lembra da sua primeira experiência com a URB? Como você se conectou a revista quando você estava crescendo?

MS: Não tenho certeza de quando foi a primeira vez que ouvi falar da URB. Isso deve ter sido nos anos 90, quando ela falava sobre a cultura DJ e o “novo” eletrônico, hip-hop e o cenário da dança. Nos últimos anos, quando a Electronic Dance Music começou a fazer manchetes, pensei nas vezes que ouvi pela primeira vez o material em raves nos anos 90. Não fui a muitas, mas eu sou curioso, e eu lembro de olhar para a URB para descobrir o que era “novo”.

*Tradução: Flagrare

Fotógrafo e Produtor de Vídeo