Linkin Park fez o seu OK Computer

Confira a tradução da matéria do Village Voice, disponível no site.

Linkin Park fez o seu OK Computer

Todos saúdem A Thousand Suns, a melhor fusão distópica que um grande selo pode pagar

O quarto álbum da banda que costumava fazer um rap-rock intenso, Linkin Park, é o melhor álbum conceito de avant-rock de ansiedade nuclear: uma composição pós-moderna, perfeitamente Pitchforkiana que nunca terá nenhum espaço no site Pitchfork. Sem nada a perder, os reis multi-multi-multi-platina da ansiedade colocam seus pedais de distorção em um leve esquecimento, abraçando o codificador de voz sem pulso de Imogen Heap, os sintetizadores afáveis de Yeasayer, o stutter-hop pós-apocalíptico de El-P, as sensações de tonteira do house Ibiza. Talvez cinco dos 48 minutos fariam a banda não ser instantaneamente vaiada no palco do Ozzfest. O ponto mais fácil de comparação aqui é, sinceramente, o disco OK Computer do Radiohead – ganchos desimpedidos, mudanças bruscas de direção, sentimentalismo com muito piano, exploração da relação humana com a tecnologia, evitando completamente o metal – mas A Thousand Suns tem pelo menos três músicas que poderiam ser como “Fitter, Happier”.

Isso é exatamente o que todos os milionários entediados e inquietos deveriam fazer no velho oeste pós-Napster. Jovens de faculdade tem acesso grátis e instantâneo a todo o novo barulho das bandas underground que são imediatamente legais, mas Suns nos lembra que os astros de rock também fazem isso. Além disso, a falta de preocupação com bobagens antigas como “recordes de vendas” significa que nada vai impedir o Linkin Park – ou qualquer artista de legado, nesse caso – de fazer trabalhos desafiadores e de som contemporâneo sob um grande selo. Nos últimos dois anos, Third do Portishead foi a reinvenção abrasiva que Geoff Barrow fez de Madlib e Sunn O))), Embryonic do Flaming Lips foi uma fusão sombria de Oneida e Black Moth Super Rainbow, Further do Chemical Brothers trocou batidas de rock por Spacemen 3 encontra o clusterfunk de Neu!, e ainda estamos tentando navegar pelo labirinto cáustico de drill ‘n’ bass que é o novo álbum de M.I.A. A Thousand Suns seria lançado em primeiro lugar não importava como fosse, então o Linkin Park decidiu explorar um abismo pouco industrial onde o espaço negativo supera os refrões, onde cada música parece uma bola de efeito, onde tudo parece levar a um salto do palco que nunca chega. Introduções meio espaciais levam cegamente a outras introduções espaciais; as músicas que mais fixam são construídas sem versos; Dr. Martin Luther King foi sampleado, distorcido eletronicamente para parecer um robô e depois recebeu crédito pela escrita.

Mas claramente a mudança mais importante envolve a progressão do relacionamento complicado da banda com o hip-hop. As icônicas “Crawling” e “One Step Closer” do início dos anos 2000 de Hybrid Theory fizeram Mike Shinoda ser tratado como o Sen Dog do rap-rock, suas frases rápidas e melódicas acrescentando um forte contraponto aos refrões elaborados do vocalista Chester Bennington. Mas aí, essas duas músicas em foco são mais parecidas com Fear of a Black Planet do que com uma virada errada para Crazy Town: espirais atordoantes de sons programados, baixos de agitar o cérebro e notas psicodélicas. A princípio, uma aproximação industrial do rap atual, ou pelo menos o que Rick Rubin considera como rap (atenção no aumento de sininhos estilo Wilson Pickett que parecem ter sobrado de “99 Problems”). A simulação de hip-hop não é uma medalha de honra, mas uma junção tratada com mais reverência do que curiosidade: o solo durante “Waiting for the End” tem o delírio de “Stay Fly”do Three 6 Mafia, enquanto “Robot Boy” é uma linda balada no piano construída com uma melodia como “What You Know”do T.I.

A Thousand Suns tem uma paleta tão diversa que parece um perfil do Facebook de um calouro de faculdade esperto. (Gostos e Interesses: Acevalone, Achtung Baby, Aesop Rock, Air, Aoki, Angel Dust, Animal Collective, Atari Teenage Riot, hip-hop de Atlanta…) A banda quer tanto mostrar suas novas roupas que as veste todas de uma só vez. O resultado improvável resulta na percepção de todo o barulho da arte, uma perda arrebatadora dos sentidos, um house distorcido e um rap distópico barulhento se acumulam na sua playlist, mas modificados por grandes roqueiros de expressão sem tempo para as aflições incessantes da timidez, alguma esperteza, luta por sobrevivência e ironia do indie rock. Muito bem, filhos dos anos 80!

things aren't the way they were before; you wouldn't even recognize me anymore.