“Nossa música estava nos entediando”

Estreia no topo das paradas está virando um hábito para o Linkin Park. “A Thousand Suns”, que ficou no 1º lugar da Billboard 200 quando foi lançado em setembro, marcou a terceira estreia consecutiva no 1º lugar para o grupo de Los Angeles, seguindo “Meteora” (2004), que recebeu quatro discos de platina, e “Minutes to Midnight” (2007), que recebeu dois discos de platina. “Hybrid Theory” (2000), o disco de estreia do grupo, chegou ao segundo lugar a caminho de vender 24 milhões de cópias em todo o mundo.
Mike Shinoda, o cantor e multi-instrumentista, diz que o Linkin Park se esforça para não considerar esses sucessos como algo garantido, dizendo que a receptividade para “A Thousand Suns” foi particularmente doce. “É bom porque este é um álbum diferente para nós”, diz Shinoda, que co-produziu o disco com Rick Rubin. “Estamos realmente gratos por sentir o apoio dos fãs”.

Apesar de o Linkin Park nunca ter relutado em mexer em seu som, seus três álbuns anteriores se encaixavam no híbrido agressivo de rock e rap, dominado por guitarras e ansiedade jovem. Agora, as nove canções e seis interlúdios em “A Thousand Suns” são construídos sobre ambiências solenes, relegando o guitarrista Brad Delson ao segundo plano, dando preferência aos teclados, loops e samples.

Certamente há momentos de rock, incluindo mergulhos no hip-hop como “When They Come For Me”, “Waiting For the End” e “Wretches and Kings”, uma homenagem ao Public Enemy, mas elas são precedidas por sensibilidades de hinos como “Iridescent”, “Robot Boy” e o primeiro single, “The Catalyst”, assim como a aura relaxante de “Burning in the Skies”.

“Nós chegamos a um ponto em que ouvíamos muitas coisas no mundo da música que estavam nos entediando”, diz Shinoda, de 33 anos, “e nossa própria música que estávamos compondo, que soava como algo que o Linkin Park faria, também estava fazendo isso. Queríamos desafiar a nós mesmos em tentar algo que parecesse novo e empolgante”.

Como resultado, o processo de composição do grupo –que trabalhou com dois ou três integrantes por vez para, só então, se reunir com Rubin e analisar o trabalho realizado– logo os levou a abandonar seus esforços anteriores e seguir em uma direção diferente. “Quando aparecia algo que soava familiar”, diz Shinoda, “as reações não eram muito empolgadas. E quando surgia algo que ficávamos sem saber se gostávamos ou não, tentávamos ver onde aquilo nos levaria”.

De forma apropriada, uma das primeiras faixas novas foi “The Catalyst”, junto com “Robot Boy” e “Burning In the Skies”. “Esse foi um dos motivos para ‘The Catalyst’ [a catalisadora] receber seu nome”, diz Shinoda. Mas ele acrescenta que “Robot Boy”, que é “drasticamente diferente de qualquer canção que já fizemos”, foi a verdadeira catalisadora da direção aventureira tomada pelo Linkin Park. “Isso estava em nossa mente há um ano e meio. Era o referencial de quão diferente queríamos que fosse o álbum, senão não funcionaria”.

Riscos e desafios
Tamanha mudança não é de pouca importância para o Linkin Park, que foi formado em 1996 enquanto alguns integrantes da banda frequentavam a Universidade da Califórnia, em Los Angeles. O cantor Chester Bennington ingressou pouco tempo depois, por sugestão de um executivo de gravadora que o apresentou.

Desde “Hybrid Theory”, o grupo vendeu mais de 50 milhões de álbuns, ganhou dois prêmios Grammy e emplacou oito primeiros lugares na parada de alternativos da Billboard, incluindo “In the End” (2001), “Somewhere I Belong” (2003), “Numb” (2003), “Breaking The Habit” (2004) e “The Catalyst”. O apelo crossover do Linkin Park foi ressaltado por “Collision Course” (2004), um EP de mashup com o rapper Jay-Z.

Resumindo, o Linkin Park foi uma das bandas de maior sucesso da última década, o que significa que qualquer mudança significativa é arriscada –apesar de Shinoda, que também lidera o grupo paralelo Fort Minor e é artista plástico, dizer que o Linkin Park está ciente do risco e pronto para abraçá-lo.

“Acho que sabíamos o tempo todo que isto seria um desafio. Todo mundo está ficando mais velho, queremos fazer música que represente onde estamos no momento. Mas termos feito um álbum que soa assim não é uma mensagem direcionada às pessoas que apoiaram a banda ao longo dos anos. Não estamos dizendo: ‘estamos indo em uma nova direção e dane-se todo mundo que gosta do material mais antigo'”, diz ele.

Shinoda sabe que será uma batalha para colocar o álbum nas mãos das pessoas e ajudá-las a entender que fizeram um disco que redefinirá a banda em alguns aspectos. “Algumas pessoas vão amá-lo e algumas vão odiá-lo, mas a esta altura as pessoas no mínimo estão falando dele, e é uma conversa divertida que iniciamos”.

Iguais, mas diferentes
Shinoda argumenta que, apesar de “A Thousand Suns” ser diferente, ele não deve soar estranho para aqueles que têm acompanhado o Linkin Park nos últimos anos. “São alguns dos mesmos elementos, mas reordenados. Há dez anos queríamos ouvir a bateria ao vivo, guitarra e os vocais gritados em primeiro plano. Neste álbum nosso sentimento foi de espalhar as coisas, de dar às pessoas um álbum de som denso e colocar as coisas mais em pé de igualdade para que possam ouvir tudo o que está rolando”.

Um bom exemplo, diz Shinoda, é o segundo single do álbum, “Waiting for the End”. “No início, a canção dava mais destaque à bateria, à batida e ao rap. Mas mantínhamos a porta aberta para qualquer abordagem que pudesse aparecer”. Então Bennington, pesquisando algumas ideias que tinha gravado em seu celular, ofereceu uma letra e melodia que conduziram a canção para um território mais musical.

“Eu adorei imediatamente”, lembra Shinoda, “daí o empurrei para dentro da cabine de voz e disse: ‘cante isso!’. Aquela pequena ideia e a interpretação dele elevaram muito a música. A dinâmica entre a batida, o rap e aquele verso realmente sereno definiu o que a canção poderia ser”.

O Linkin Park planeja fazer sua maior defesa do álbum na estrada. O grupo, que tocou no Brasil em outubro, está fazendo turnê pela Europa e seguirá para a Austrália em dezembro, deixando a América do Norte para 2011, para permitir que os fãs se acostumem com a sonoridade diferente de “A Thousand Suns”.

Ele prevê que, aqueles que forem aos concertos e escutarem o material novo ao lado das canções favoritas mais velhas, provavelmente passarão a ter uma maior aceitação das ambições do Linkin Park. “Nós criamos um show que conduz o ouvinte por todas as diferentes épocas do Linkin Park. Pegamos algumas músicas velhas, mudamos e fazemos como que soem mais novas, e tocamos algumas das músicas novas entre elas. O visual que acompanha tudo isso no show está absolutamente impressionante”.

– fonte: uol música / the new york times

Fotógrafo e Produtor de Vídeo