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Mike Shinoda fala sobre seu álbum solo “terapêutico” e o futuro do Linkin Park

O trauma causado pela morte por suicídio de Chester Bennington no ano passado está longe do fim. Mas o companheiro de banda Mike Shinoda entrou no mundo pós-traumático.

Shinoda lançará seu álbum Post Traumatic no dia 15 de Junho, seguindo o EP de três músicas com o mesmo nome, lançado em janeiro. Essas são as primeiras gravações de um integrante do Linkin Park desde a morte de Bennington, e também a primeira vez que Shinoda – que formou seu projeto paralelo, Fort Minor, em 2004 e produziu uma variedade de outros artistas – lança um álbum sob seu próprio nome. Isso denota a natureza altamente pessoal da narrativa de Post Traumatic, com Shinoda transformando sua própria jornada emocional em crônica na face da tragédia.

Shinoda tem postado regularmente faixas do Post Traumatic, que contam com participações de convidados como o vocalista do Deftones Chino Moreno, K.Flay, Machine Gun Kelly e Blackbear, enquanto a músicaRunning From My Shadow” veio de sessões para o álbum One More Light do Linkin Park e foi parcialmente composta com o guitarrista Brad Delson. O projeto também colocou Shinoda de volta aos palcos, com aparições no festival IDENTITY L.A. e planos para tocar no Summer Sonic Festival em agosto no Japão.

Há mais a caminho, Shinoda conta para a Billboard… e ele espera que o mundo pós-Post Traumatic, por conta própria e a possivelmente com o Linkin Park, fique mais interessante.

Você lançou o EP de Post Traumatic em janeiro. Você sempre visou transformá-lo em um álbum completo?

No começo, há um pouco menos de um ano, eu estava fazendo música e pintando como uma forma de quase meditação. Tinha algo de terapêutico em fazer aquilo. Era mais como uma maneira de lidar com as coisas e refletir sobre elas enquanto eu estava fazendo. O ato de só sentar e começar a fazer coisas me ajudou a processar. Me colocou de volta em contato, eu acho, com o motivo de eu ter começado a fazer música em primeiro lugar.

Existe um arco definitivo e quase uma narrativa em tempo real para o álbum. Você claramente passou da fase de luto para… bem, seguir em frente.

Em um certo ponto aquele processo estava tomando diferentes formas e os temas das músicas começaram a mudar. Eu acho que você consegue ouvir isso no álbum. São 16 músicas, e mais ou menos na primeira metade [as faixas] estão mais voltadas para o passado, e então elas começam a focar no presente e olhar um pouco para o futuro. A música “Crossing A Line” está bem no meio, e a segunda metade do álbum começa a olhar pra outras coisas e até mesmo faz algumas pausas em relação ao que estava acontecendo — por exemplo, tem uma música chamada “Lift Off” que é uma música mais no estilo batalha de rap, o que é apenas escapismo e na verdade é uma música bem divertida.

Teve algum momento onde você não quis, ou não tinha certeza se queria, falar sobre tudo isso publicamente?

Sim, definitivamente. Eu acho que as primeiras músicas que eu fiz foram apenas para mim, e eu não sabia se lançaria elas de forma pública. E eu acabei lançando “Place To Start” e “Over Again” e “Watching As I Fall” quando eu meio que passei a compreender as ramificações de postar essas músicas. Eu escolhi essas em particular porque eu sabia que haviam vários fãs que estavam tendo dificuldades em lidar com a perda do Chester e com a incerteza do que poderia acontecer com a banda. Eu quis comunicar que por um lado eu estava me sentindo da mesma maneira ou similar à eles, e por outro para de certa maneira dar uma luz, como um farol ou um sinal de que “aqui é onde eu estou e aqui é para onde eu quero ir”, então tinha algum senso de direção.

Mais do que em algumas das recentes mortes no meio musical, houve uma sensação de que os fãs do Linkin Park realmente queriam se conectar e dividir o luto com o resto da banda.

Você podia sentir isso, sim. Eu tive relativamente cedo a sensação de que as coisas iriam melhorar — ou que elas apenas não iam permanecer da mesma maneira. Nós obviamente jamais esqueceremos nosso amigo. Nós sempre vamos lembrar a todos o quanto ele era especial e talentoso. Naquela época era insalubre e irresponsável para qualquer um de nós deixar de seguir com nossas vidas em algum momento. Então eu tinha sensação que havia uma jornada à frente, e o fato de não saber que forma ela tomaria, seria algo interessante. E dividir isso provavelmente seria difícil, mas em longo prazo seria interessante e ajudaria algumas pessoas. Então eu simplesmente senti que valia a pena dividir e meio que ajudar a levar as pessoas comigo.

E vale a pena colocar o projeto como Mike Shinoda, ao invés de Fort Minor ou algum outro nome?

Eu só queria sinalizar para as pessoas que era um som e uma abordagem diferente, eu sempre quis sinalizar que era pessoal. Luto é algo pessoal, uma experiência pessoal. Eu também tive um momento há seis meses, talvez mais para nove (meses) atrás, onde eu me dei conta que se eu estivesse conversando com alguém, se alguém me perguntasse “Como estão as coisas com o grupo?” ou com minha música e carreira e eu começasse a responder, a minha resposta seria interpretada como algo em nome de todos, e eu não gostei dessa ideia. Nós estávamos em momentos diferentes não apenas no dia a dia, mas de hora em hora — isso é uma das coisas sobre luto e lidar com coisas difíceis, as suas fases. Se eu me sentia bem num dia e alguém perguntasse “Como você está?” e eu dissesse “Estou muito bem” e todos os outros estivessem se sentindo horríveis, então eu não estaria refletindo corretamente o estado de todo mundo, e vice versa. Então fazer isso sozinho pareceu a coisa mais responsável a se fazer, e também a coisa mais saudável.

Post Traumatic se aproxima da atmosfera eletrônica e hip-hop que você já trabalhou no passado. Como você estava pensando nisso, musicalmente, enquanto você estava trabalhando nas músicas?

Eu não sei se poderia escolher uma coisa, musicalmente. Eu não estava pensando demais em gênero ou apresentação, eu realmente não penso demais na estética de cada música; existe uma lógica na habilidade de montar uma música e o arranjo da estrutura e assim por diante. Dessa maneira foi como fazer um álbum ou qualquer tipo de arte — você só faz e aí descobre o que você tem.

Isso parece como o começo de algo novo para você?

Ah, sim. Existem muitas coisas desconhecidas. Na verdade é mais difícil começar um projeto novo do que as pessoas pensam. Você tem que voltar ao primeiro passo de explicar o que você é e o que você faz e blá blá blá — e aliás, foi aterrorizante tomar essa decisão. Foi muito assustador. Mas minhas expectativas são apropriadamente menores, definitivamente em menor escala do que seria com o Linkin Park.

Com o Linkin Park em uma espécie de limbo, é um problema para você se lançar por conta própria desse jeito?

Bom, eu lembro de pensar em como eu iria abordar o assunto com os caras, e eu definitivamente estava nervoso sobre isso. Eu disse à eles sobre o que eu queria fazer e eu toquei alguma coisa para eles, e eles me apoiaram mais do que eu imaginei que aconteceria. E eu sinto que eu teria uma noção do que eles realmente eram ou não eram. Nesse grupo não é comum para nós dizermos abertamente “eu não gosto disso”; normalmente o que acontece é que eles dizem algumas palavras meio solidárias e você pode perceber apenas pelo jeito que eles não realmente concordam. Não é passivo-agressivo, é tentando ser educado. E existem variações desse comportamento de pessoa para pessoa. Aliás, uma coisa que eu apreciava no Chester é que ele não era muito desse jeito. Se ele não gostasse de alguma coisa, ele simplesmente me falava. Ele era o que mais fazia isso na banda, além de mim. Mas de verdade, quando eu disse para eles “Olha, eu quero fazer uma carreira solo e esse é o motivo”, eles foram muito receptivos. Eu percebi que a reação era honesta e positiva. Eu dormi muito bem naquela noite. Porque eu estava muito preocupado com isso antes de acontecer.

Então em que pé estão as coisas com o Linkin Park nesse momento?

Nós vamos avisar a todos quando tivermos uma mensagem clara. Todos nós temos diferentes níveis de interesse e energia agora, e eu não quero colocar ninguém para fazer nada que eles não podem ou não querem fazer. Nós ainda nos falamos o tempo todo. Eu me juntei ao Dave (Farrell) para participar do seu podcast Member Guest, e eu acabei de trocar alguns e-mail com o Joe (Hahn). Nós estamos sempre nos falando.

Existe alguma ideia sobre lançar formalmente o tributo ao Chester no Hollywood Bowl?

Oh, isso é interessante. Eu acho que falamos sobre isso naquela época e eu não acho que estávamos com muito entusiasmo para lançar aquilo de nenhum outro jeito. Está disponível para quem quiser ver; está no Youtube e as pessoas podem ver o show lá. Foi uma noite maravilhosa e uma das noites mais importantes na história da banda. Foi um daqueles momentos realmente belos, e eu acho que a partir daí todos nós queremos meio que olhar para frente.

Quais são seus planos de performances para o Post Traumatic?

Eu fiz meus primeiros dois shows no mesmo dia há algumas semanas e foi melhor do que eu imaginei, então isso foi bom. Nesse momento o que eu estou fazendo são os “shows de um homem só”; provavelmente não vai continuar sendo desse jeito, mas é um desafio que eu me propus a fazer comigo mesmo. Sendo só eu como artista no palco, é um pouco mais quieto do que seria sair em tour com uma banda, mas eu estou ansioso por isso. Se os shows continuarem sendo como o primeiro foi, vai ficar tudo bem.

Tradução: Beatriz Nascimento
Revisão: Wesley Carlos
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