'Fazer música é algo inspirador para nós', diz Chester

O The Los Angeles Times realizou uma entrevista com a banda, durante as gravações do A Thousand Suns:

Um segurança másculo foi posto na NRG Studios, em North Hollywood, neste verão, para que, de uma forma amigável, imponha a presença de segurança durante as sessões de gravações do Linkin Park. Dentro da maior parte dos dias, o produtor-rapper Mike Shinoda, esteve trabalhando numa grande mesa de som ou à frente de um monitor de computador, juntando obsessivamente, durante a noite, alguns novos sons e combinações, e determinando que nada disso vazasse para o resto do mundo.

“Nós tivemos que tomar algumas precauções extra”, explicou Shinoda, barbudo e com uma camisa azul escura casual, falando das proteções extras, em julho. E enquanto cada membro do Linkin Park teve um papel criativo importante, é Shinoda, que faz as coisas andarem no estúdio. “É a minha coisa favorita de fazer e acabo perdendo a noção das outras coisas. Fico obcecado e trabalho 12 horas por dia, sete dias por semana e fico completamente esgotado.”

Enquanto ele falava, a banda estava em seus últimos dias de trabalho, para o mais novo álbum do Linkin Park, “A Thousand Suns”, previsto para ser lançado numa terça-feira, pela Machine Shop Recordings/Warner Bros. A coleção de 15 músicas marca a mudança da banda de seu estilo original, famosa pela mistura de metal e hip-hop com um som mais distinto, com camadas e provocante.

“Você faz isso com a esperança de que as pessoas que venham a ouvir casualmente e, de alguma forma, obtenham algum interesse para conhecer mais, para se diferenciar das formas normais de criação de músicas”, explicou Shinoda, de 33 anos. “Eu não estou dizendo que nós nunca fizemos parte dessa coisa popular. Na verdade, nós vendemos um monte de álbuns”.

Os trabalhos com o novo álbum começaram no final de 2008, no estúdio da casa de Shinoda, e depois entre os itens musicais, na casa do DJ Joe Hahn, antes de mudarem o seu local de trabalho para North Hollywood. Dentro do estúdio A, da NRG, um crânio humano revestido de prata repousava sobre um console que Shinoda tinha, com uma música chamada “The Radiance”, deixando mais fácil a percepção do foco do álbum, com uma forma meio assombrada, com ondas eletrônicas e uma melódica voz sussurrante. Então, nessa faixa surge uma voz rouca de J. Robert Oppenheimer, refletindo sobre a primeira explosão nuclear: “Agora eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos.”

O primeiro single do álbum é “The Catalyst”, uma música barulhenta, pegajosa de sons interligados e as vozes transcendentes do Shinoda e do vocalista Chester Bennington, mas as outras músicas são mais contidas, substituindo os gritos de raiva com algo mais vulnerável.

“Algumas grandes bandas e grandes artistas fizeram algumas mudanças porque sentiam que precisavam de algo novo”, disse Shinoda. “Talvez haja um sentimento de que este poderia ser o momento para nós, para liberar um futuro potencial da banda, que não existia antes deste álbum”.

Para o Linkin Park, não é menos dramático do que quando Dylan fez coisas mais eletrônicas ou quando o Radiohead virou eletrônico, deixando os fãs e críticos meio confusos. A transição do grupo representa uma mudança do intenso som de nu-metal/rapcore dos primeiros álbuns da banda – “Hybrid Theory” de 2000 e “Meteora” de 2003 – um pequeno risco para uma banda habituada a vendas de multiplatina e rotação infinita nas rádios de rock moderno.

Essa evolução começou em 2007, com o “Minutes to Midnight”, sua primeira colaboração com o produtor Rick Rubin, que voltou a co-produzir no “A Thousand Suns”, com Shinoda. A composição de letras tornou-se mais do que a base das músicas, e os membros da banda extrapolaram as suas funções tradicionais: Hahn trocou os turntables por samplers, o baterista Rob Bourdon revelou seu dotes de piano, e o baixista David “Phoenix” Farrell se arriscou na guitarra e teclado.

“O último álbum abriu a mente de seus fãs, mostrando que a banda não iria fazer o mesmo álbum várias vezes”, disse Rubin em entrevista por telefone. “Quando saiu o último álbum, realmente o público foi dividido, como era esperado. Sabíamos que eles estavam fazendo um álbum muito, muito diferente… Eles estavam fazendo experimentos. Eles farão músicas que os excitem.”

Eles chegaram tarde para a cena do nu-metal, surgindo nos subúrbios de Agoura Hills, da mesma forma que aconteceu com o lançamento de “Hybrid Theory”, no fim dos anos 90, chegando a um enorme sucesso internacional; enquanto fugiam da repercussão da mistura de rap/rock. As músicas do Linkin Park foram igualmente alimentadas pela raiva, ansiedade e frustração, mas também um pouco de esperança e expectativa dos jovens, que mantiveram o som da banda livre para falar de coisas sujas, depressão ou rendição.

“Eu fiz a minha decisão há três anos atrás: Eu não quero gritar mais”, disse Bennington, de 34 anos, entrando no estúdio depois de dirigir desde a sua casa, em Orange County, e com seu corte de cabelo bem curto. “Acho que todos nós estávamos fazendo aquilo pelo momento, se eu continuar fazendo isso, estaria apenas repetindo tudo que já fiz, pelo resto da minha vida. ”

Ele atribui a sua vontade de pisar em um novo território emocional, com a sua experiência de criar quatro meninos (4, 8, 13 e 14 anos de idade), juntamente com um ampliação do seu gosto musical: “Eu sou um pai agora. Estou inspirado em cantar daquela maneira”.

“Quando eu tinha 20 anos, eu teria te dito ‘Eu odeio os Beatles. Não consigo ouvir aquilo'”, acrescentou Bennington, cujo estilo pessoal era um visual mais puxado pro punk rock do Misfits. “Agora, eu te diria que eu amo os Beatles, e eu não descobri isso até chegar aos meus 27 anos: ‘Oh. Isto é o que todos… dizem sobre eles’. Foi estranho. Era como se repentinamente, gostasse brócolis. Agora eu amo brócolis”.

Na semana passada, o Linkin Park encontrou alguns de seus fãs mais dedicados em uma audição em Hollywood, no Henry Fonda Theatre, tendo uma prévia para cerca de 1.200 ouvintes, com um show de lasers, formando imagens de sóis e explosões nucleares, naves espaciais subindo e um robô DJ.

Houve aplausos para algumas músicas e um completo silêncio e depois aplausos para as outras. Durante uma sessão de perguntas e respostas, todos os seis integrantes da banda escutaram atentamente às reações, brincando com facilidade do público, quando o DJ Hahn brincou, “Um retorno negativo é quando se tem a vontade de jogar tomates podres”.

Sentados juntos no palco, a banda levou todas as emoções misturadas, tanto o louvor quanto a incerteza. Shinoda insistiu que o som novo não significa que o Linkin Park regrediu, comparado com as suas músicas anteriores. Bennington ergueu-se para o microfone para explicar o simples desejo de crescer, para a surpresa dos ouvintes e deles mesmos, dizendo “fazer música é algo inspirador para nós e nos deixa felizes.”